A derrota eleitoral da extrema-direita francesa está sendo, não sem razão, saudada no Brasil e mundo afora pela direita tradicional e pelas forças progressistas.
Cabe, contudo, a meu ver, lembrar que os problemas que fizeram a extrema-direita ter o protagonismo que vêm tendo, na França e mundo afora, permanecem inalterados, com tendência ao aprofundamento.
Cabe, ainda, levar em consideração que (1) a direita tradicional não quer resolver aqueles problemas, porque lucra com eles, e que (2) as forças progressistas não têm como resolvê-los, com o programa acanhado com o qual se têm comprometido.
Por fim, cabe destacar que o programa da extrema-direita divide o povo e não unifica a burguesia, pelo menos de modo significativo.
O quadro é, portanto, de crise de hegemonia, sem perspectiva a curso prazo de solução.
Das três forças com presença importante nessas eleições na França (as esquerdas do “Nouveau Front Popular”, as direitas tradicionais do “Ensemble” e extrema-direita do “Rassemblement national”), nenhumas delas têm, no presente, como se apresentar como uma força política capaz de resolver a crise de hegemonia que, de certo modo, paralisa a França.
Mas, como não reconhecer que, diante do acanhamento do programa das esquerdas majoritárias, é a extrema-direita que, mantida a paralisia e aprofundados os problemas, a força política que mais condições tem de se apresentar no curto e médio prazos como a força capaz de enfrentar com sucesso a crise de hegemonia?
A França, mais uma vez, é o laboratório onde se está gestando o futuro da Europa, e não só da Europa… A crise de hegemonia atravessa a política dos EUA, da Argentina e do Brasil, dentre outros países.
