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14 de JULHO de 1789, Queda da Bastilha-Milton Temer

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 8 leitura mínima
o evento político em debate

Data simbólica marcante da insuperável Revolução Francesa. Mas será a mais importante, do ponto de vista processual, estrutural? Não será ousada a afirmação de “insuperável” na quallificação da Revolução Francesa??

A PARTIR da leitura conceitural de Revolução como desconstrução e superação de um regime por outro qualitativamente distinto, ouso considerar que a Queda da Bastilha é apenas um episódio explosivo num processo que, exatamente um mês antes, já havia se marcado pela iniciativa do Terceiro Estado, nos Estados Gerais estabelecidos pelo próprio Luis XVI. Sob protesto do monarca, estabeleciam-se como Assembléia Nacional, tendo em vista ser representação parlamentar da quase totalidade da população do País, contra os dois terços restantes dos eleitos – limitados à representação das minoritárias classes dominantes, concentradas na nobreza e no clero.Nos dias seguintes, Luis XVI tenta desqualificar essa Assembléia que, em resposta, se declara, já instalada no Jeu de Pommes, Assembléia Nacional Constituinte.


A TOMADA DA BASTILHA foi, de fato, a resposta popular às tentativas golpistas do monarca, diante da ousadia parlamentar “plebléia”, deixando claro o apoio popular ao movimento que, até então, apenas pretendia algo semelhante ao que havia se implantado na Inglaterra – uma monarquia constitucional. Era isso que planejava a burguesia que, em aliança com os segmentos populares, diante de seu crescimento dentro do poder monárquico, não aceitava mais o absolutismo.É nos limites dos interesses de uma burguesia comercial (a Revolução Industrial ainda não havia chegado, de pleno, à França), hegemonizando uma aliança com um proletariado composto por artesãos e corporações artesanais, para além de um movimento camponês ativo na ocupação das terras em possessão da nobreza e do clero, portanto, é que o primeiro passo é dado. A Constituição que então aprovam, era bastante limitada em relação às demandas do Povo Trabalhador..


SÓ EM 1792, com os Jacobinos assumindo eficientemente a defesa do País contra tropas de ocupação estrangeira, em substiuição aos comandos girondinos, é que a Revolução Popular começa a se implantar. De pronto, com a declaração de vitória sobre essas tropas estrangeiras em retirada, coincidindo com o ano I da Primeira República. O Rei é preso e condenado à execução que se dará em janeiro do ano seguinte. Condenado pela Assembléia em votação apertada, por conta de discurso brilhante de Robespierre.
ROBESPIERRE, que se marcava como parlamentar contrário à pena de morte, não hesita na demonstração que o Rei não poderia ir a julgamento como pretendiam monarquistas com aliança de boa parte dos girondinos. “O Rei já foi julgado com sua deposição e a instalação da República”, na esteira de suas comprovadas traições em aliança com os regimes absolutistas vizinhos, nas conspirações visando barrar o processo revolucionário. “Se for a julgamento, poderá ser absolvido, resultando daí a condenação da própria República”. Argumento dialético que alcançava votos da burguesia que não tinha interesse no retorno do absolutismo, em sua batalha pelo poder no novo regime.


A LUTA DE CLASSES aí se manifesta. E com os jacobinos, onde pontificavam, para além da liderança inconteste de Robespierre, precursor de Lenin, o jovem Saint Just (que nos seus precoces pouco mais de 20 anos, foi o principal formulador da avançada Constituição que veio a ser promulgada meses depois), o jornalista Marat, e o radical liler dos “sans cullotes”, Hebert. O que vem depois, até o Thermidor que restaura a contra-revolução fica para texto posterior pelo que tem de longo e complexo,


SALTO AQUI para a discussão sobre o “insuperável”, que avalio a despeito da admiração profunda pela Revolução Bolchevique. Mas como historiador autodidata medíocre, mas fundado no que tiro de ilação do materialismo histórico, penso haver algo de mais difícil no que foi conquistado pelos Jacobinos . A Revolução de 92/93, onde os eles pontificam, já não era hegemonizada pela burguesia, estabelecendo o que mais tarde definiu como Ditadura do Proletariado – fase necessária em que os trabalhadores se obrigam a defender de uma resistência brutal das antigas classes dominantes – faziam teoria a partir da prática. Marx e Engels nem eram nascidos, e não havia uma classe operária com representação sindical e política. Havia, no máximo, a reflexão de Rousseau. E essa Revolução, que veio a ser seguida pela de 1848, e pela Comuna de Paris, em 1871, nunca viu superadas as suas palavras-de- ordem, até hoje carentes de concretude – Liberté, Egalité, Fraternité. Estão lá, como conquistas e propostas uma série de demandas até hoje necessárias.


ROBESPIERRE e seus seguidores, que terminaram trucidados pela burguesia no processo contra-revolucionário que terminou de concretizar, sob os Napoleões (o verdadeiro e o sobrinho-fake ironizado por Marx no seu “18 Brumário”), se tornou alvo principal das classes dominantes e dos historiadores franceses pós-modernos, a ponto de não haver sequer uma rua com seu nome na cidade de Paris. Vejo nele o verdadeiro modelo de formulador revolucionário classista, a considerar seus discursos, seus relatórios e suas propostas legislativas (sua eleição ao Terceiro Estado se deu sob a defesa do sufrágio universal, com eleições diretas, educação gratuita obrigatória e tributação progressiva. Isto, em 1789, e valendo até hoje depois de séculos de dominação burguesa no regime capitalista).


LENIN, o grande revolucionário russo, teve em Robespierre um exemplo que muitos usam comparativamente, ao trata-lo durante muito tempo como Jacobino. Foi um revolucionário que, com formulação teórica produziu a realização prática mais duradoura de Poder Popular.Mas já contava, em 1917, com o estado Czarista em decomposição por conta da derrota acachapante na I Guerra Mundial, e com o que os camponeses produziram antes, para além da experiência pioneira dos Sovietes, gerados na Revolução frustrada de 1905. Contavam ainda com a experiência de um partido revolucionário e com uma excepcional geração de quadros dirigentes. Não era pouca coisa.


ROBESPIERRE, por isso, e diante do pioneirismo da prática revolucionária gerando uma teoria correspondente no âmbito do combate parlamentar, tem que ser valorizado de forma superlativa, Ele e Lenin, cada um em seu tempo, são os exemplos insuperáveis de um Revolucionário a favor do oprimidos, contra os opressores.
SEM DEMÉRITO para o simbolismo da Queda da Bastilha, mas valorizando o que tem que ser valorizado, e que a literatura sob hegemonia contra-revolucionária tenta jogar para o esquecimento.

Milton Temer

Carioca de Vila Izabel, jornalista político, ex deputado federal e estadual pelo Rio de Janeiro . Candidato ao Governo do Estado e ao Senado daquele Estado. Militante do PT um dos fundadores do PSol.

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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