Tenho recebido mensagens curtas de vídeo de Pablo Marçal. Esse cara é um “gênio do mal”: por trás de uma aparência coloquial e mesmo simplória há a aplicação exitosa de uma metodologia muito bem estudada.
Ele dá mostras de ser um quadro político muitas vezes superior a Bolsonaro.
Por enquanto, ele “perde” para Bolsonaro porque esse último reúne em torno de si todas as forças que compõem a extrema-direita, e Marçal ainda não.
Se Marçal obtiver uma votação expressiva em São Paulo, como se prevê, ele pode substituir, com vantagens, o Capitão como o líder político maior da extrema-direita.
Com Marçal na liderança, penso, a extrema-direita ganha um novo fôlego…
Diferentemente de Bolsonaro, Marçal encarna em sua própria figura a realização bem-sucedida do ideal do “pobre que progrediu por mérito próprio”.
Ele faz questão de dizer que a pré-condição do seu progresso esteve na negação do ideário da esquerda e na recusa de se beneficiar do Estado.
Isso soa como música para amplos setores das camadas populares sob influência da teologia do “Templo é dinheiro”, dominante nas “comunidades”.
Digo que ele é um “gênio do mal” por ter compreendido (1) como funciona essa máquina infernal da “comunicação digital”, (2) como se apresentar de modo o mais eficiente possível como anti-sistema, e (3) tudo isso envolto com as vestes de um pobre que progrediu por mérito próprio.
Uma condenação e prisão de Pablo Marçal não têm o poder de diminuir a sua força política, pelo contrário, me parece.
Uma condenação seguida de prisão de Pablo Marçal (como a de Bolsonaro) só irá acirrar os ânimos e azeitar a engrenagem que nos está levando para a anomia.
E, sabemos todos, que a anomia é a condição necessária, ainda que não suficiente, para a extrema-direita, na ausência de uma esquerda revolucionária, refundar a República em moldes totalitários.
Marçal ganha se ficar solto, e ganha mais ainda se for preso. Essa é a “sinuca-de-bico” na qual se encontra o “sistema”.
O processo destituinte está em curso, em marcha se não acelerada, em marcha firme e constante em direção à anomia, isto é, rumo à falência múltipla dos órgãos da República.
O processo destituinte está em curso, repito, e só há um único processo constituinte em curso, o da extrema-direita. Essa a dimensão maior do nosso drama político e existencial…
A campanha de Pablo Marçal está centrada em “ganhar já no primeiro turno”. Como essa hipótese é, hoje, bem provável, a dinâmica próprias às campanhas eleitoral facilita ainda mais a identidade de “contra o sistema” que Marçal vem construindo, com êxito, para si.
Boulos já foi “contra o sistema”, mas já não é mais aos olhos de muitos. Marçal se diz contra o “sistema”, mas a favor do enriquecimento privado, como é a “vontade de Deus”, diferentemente dos “comunistas”.
Marçal é um candidato fortíssimo, e com “teflon”: nenhuma das acusações contra ele parece aderir à sua imagem.
Marçal já “ganhou” essa eleição, mesmo que não seja eleito. E “ganhará” mais ainda se tiver a sua candidatura impugnada e for preso.
Minha “profecia” se baseia na constatação de que a crise que se abate sobre as “democracias ocidentais” é profunda e não tem solução à vista na base do “mais do mesmo”, que é o que estamos vendo ser aplicado pelo “sistema” em sua defesa.
Mais: considero que a crise não é só política; ela também tem uma dimensão ideológica igualmente profunda.
Como não reconhecer que só a extrema-direita tem se valido, a seu favor, da crise político-ideológica em curso?
Tipos como Pablo Marçal, mais do que tipos como Bolsonaro, vieram para ficar, e temos que aprender com urgência como enfrentá-los.
Marçal (e tipos como ele) é o presente e o futuro. Bolsonaro (e tipos como ele) começa a ser passado…
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Bem isso. Pode até não ganhar a prefeitura da capital paulista, mas… já conseguiu sua projeção