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Bolsonarismo,Lulismo, Marcal e Boulos-Luiz Carlos de Oliveira e Silva

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 4 leitura mínima

Na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, o embate entre Pablo Marçal e Guilherme Boulos lança luz sobre a natureza mesma do bolsonarismo e do lulismo, e sobre o estágio atual em que ambas correntes políticas se encontram.

Pablo Marçal parece compreender muito bem a diferença entre bolsonarismo e lulismo, e tem sabido tirar bom proveito dessa compreensão. Senão, vejamos…

A distinção que faço entre bolsonarismo e lulismo tem três pontos centrais:

  1. Bolsonarismo e lulismo, como correntes políticas são, ambas, forças eleitorais de peso, mas só o bolsonarismo pode ser considerado, no rigor do termo, uma força política relevante.
  2. Apenas o bolsonarismo pode ser considerado uma força política real, no rigor do termo, porque, frente ao lulismo, só ele possui coesão ideológica, força de mobilização, redes de comunicação, projeto político de poder abraçado por sua base, e armas.
  3. O lulismo, sem essas virtudes, limita-se a ser uma força eleitoral que atua, de modo geral, a serviço dos interesses de seus caciques e da burocracia do partido e das agências de poder sob seu controle. (O Bolsonarismo é isso também, mas é bem mais do que isso…)

Dentre todas essas diferenças, o que distingue profundamente – ao fim e ao cabo – bolsonarismo do lulismo é o projeto de poder (respaldado por suas bases) que o primeiro tem, e o segundo não.

Antes de se tornar “lulismo”, o PT tinha um projeto de poder – contra o “sistema” –, consignado por práticas políticas “éticas” e por um programa reformista de caráter nacional, popular e democrático, que apontava para mudanças estruturais na sociedade.

Contudo, aquelas práticas políticas “éticas” e aquele programa reformista foram sendo abandonados ao longo do caminho. No início dos anos 1990 uma importante guinada pragmática liderada por Lula e Zé Dirceu operou-se no PT.

O resultado dessa guinada é conhecido de todos: o espaço político da crítica ao “sistema”, deixado vazio pela transformação do PT, foi ocupado pela extrema-direita, com seu projeto de poder, depois que ao extraordinário êxito eleitoral do lulismo se seguiu o desgaste político que culminou no “impeachment” de Dilma.

O projeto de poder do bolsonarismo replica, grosso modo, o projeto de poder da extrema-direita mundo afora. Contra o “sistema”, a seu modo, o projeto de poder da extrema-direita é revolucionário na forma, e, no conteúdo, culturalmente reacionário, economicamente capitalista de tipo darwinista, socialmente regressivo, e politicamente totalitário.

Pablo Marçal parece compreender muito bem a natureza do bolsonarismo como uma força política real, com projeto de poder abraçado pelas suas bases, distinta do lulismo, que é, hoje, uma força meramente eleitoral.

Assim, coerentemente, Marçal aposta que o desempenho eleitoral da extrema-direita depende da fidelidade ao projeto de poder da extrema-direita nas campanhas.

Marçal compreendeu esse “princípio” melhor do que Bolsonaro e, por essa razão, por mostrar-se mais fiel ao projeto de poder da extrema-direita que o Capitão, está fazendo uma verdadeira devastação nas hostes bolsonaristas em seu favor.

Guilherme Boulos também parece compreender muito bem a natureza do lulismo como uma força política que se reduziu ao meramente eleitoral, o que o deixa livre para desdizer hoje o que disse ontem…

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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