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Inverno-Silvio Ribeiro de Castro

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 3 leitura mínima

Interpretação da poesia – Silvio Ribeiro de Castro

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar
Até sumir

De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei

Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
Num deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar

Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois
Um pouco antes do ocidente se assombrar

Letra e Música Antônio Cícero e Adriana Calcanhoto

A interpretação de Adriana

Adriana da Cunha Calcanhotto ( 1965) gaucha de Porto Alegre é uma cantora,compositora,intérprete,instrumentista ,produtora musical, arranjadora,escritora e ilustradora , além de atuar como professora e embaixadora da Universidade de Coimbra, em Portugal.

Antonio Cicero Correia Lima– ( 1945-2024), carioca do Rio de Janeiro, foi um compositor,poeta,crítico literário, filósofo e escritor. Em 10 de agosto de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras tomando posse em 16 de março de 2018. Irmão da cantora Marina Lima assinou com ela inúmeras obras musicais.Após ser diagnosticado com mal de Alzheimer o poeta optou pela morte assistida e, por esse motivo transferiu-se para a Suíça, onde tal prática é legalizada. Lá, o procedimento foi realizado. A morte do escritor foi anunciada em 23 de outubro de 2024.

A Carta de Despedida do Poeta

Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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