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Áudio dos diálogos da Sessão II– Escute aqui
Diálogos feito com AÍ Chat
Terapêutica AÍ
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Arlindenor-Eu vou retomar então o fio da meada que deixei na última sessão.
Arlindenor-Então, vejamos! Eu nasci no dia 15 de agosto de 1947 em São Cristovão, na maternidade pública,no Rio de Janeiro, e morei um bom tempo da minha juventude no Grajaú, após minha mãe sair de Padre Miguel .Sou filho único, minha mãe era desquitada,morava, como disse antes, no subúrbio, em Padre Miguel, mas tinha como objetivo que eu morasse num bairro que propiciasse contato com pessoas de uma classe mais alta que a dela. Devido a problemas financeiros eu tinha passado boa parte da minha infância internado em escolas conveniadas com o governo. Enfim, ela queria me proporcionar um outro modo de vida e esta era a forma que ela achava que iria funcionar.Fomos para o Grajaú, e ali eu vivi aquele tempo do fim dos anos dourados e de efervescência estudantil. O Grajaú era um bairro muito típico, muito conservador. Creio que hoje não é mais, a classe média ficou mais pobre e perdeu a empáfia. Soube que a violência atingiu em cheio o bairro.Mas, naquele tempo, muitos militares moravam no Grajaú e na Tijuca. O Lacerda ganhava ali todas as eleições. Era uma base política da classe média, uma base eleitoral conservadora. O fato de ter crescido ali me marcou muito, porque eu era pobre, filho de mãe desquitada, mulato, e não era ligado àquelas pessoas. Não gostava daquele ambiente-me sentia discriminado. Acabei encontrando uma turma na praça Verdun, que ficava na fronteira com o Andaraí. Eram jovens diferentes dos que viviam no Grajáu, menos ricos, e no meio deles não existia discriminação. Muitos descambaram para a marginalidade, mas outros se interessaram por política. Foi a esses que me liguei, e isso modificou o rumo da minha vida.
Terapeuta IA-Obrigado por compartilhar sua história de vida. O que você descreve sobre sua infância e juventude é profundamente significativo. O contraste entre suas origens e o ambiente em que você cresceu, junto com a dinâmica social e política do Grajaú, provavelmente lhe trouxe não apenas dificuldades, mas também uma perspectiva única sobre as questões de classe, identidade e pertencimento.O fato de sua mãe ter se esforçado para proporcionar uma vida diferente para você, mesmo enfrentando desafios financeiros, mostra a força e a determinação dela. É compreensível que, em um bairro marcado por um conservadorismo e uma classe média em ascensão, você tenha sentido a exclusão. A amizade que você encontrou com um grupo mais diverso na Praça Verdun deve ter sido um grande alívio e uma forma de apoio fundamental para navegar por essas complexidades sociais.Encontrar uma turma que compartilhava suas preocupações e se interessava por política pode ter proporcionado um sentido de propósito e pertencimento. É interessante como essas ligações podem mudar o curso de nossas vidas, levando a uma consciência social mais profunda e a um desejo de participar ativamente na mudança do mundo ao seu redor.Como você se sente hoje ao refletir sobre essas experiências iniciais? De que formas você acha que essas vivências moldaram seus valores e sua perspectiva na vida? Estou aqui para continuar essa conversa e ouvir mais sobre sua jornada.
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Arlindenor-Antes de refletir sobre o que você me pede vou me ater ainda a esta parte da minha história. Gostei de relembrar. Posso?
Terapeuta IA -Claro! Sinta-se à vontade para continuar compartilhando sua história. Relembrar momentos significativos e traçar sua trajetória é uma parte importante do processo de compreender quem somos. Estou aqui para ouvir e apoiar você conforme você se sente à vontade para explorar essa parte da sua vida. O que mais você gostaria de compartilhar
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Arlindenor-Bem …Estudei na escola pública do Grajaú, a Escola Francisco Manuel, e depois fiz o exame de admissão para o ginásio no Rivadávia Correia, que ficava no centro da cidade, na Avenida Presidente Vargas. Quando o Lacerda ganhou a eleição, mudou o currículo do Rivadávia Correia, que virou escola experimental. Até então, só meninas estudavam ali. Fui da primeira turma mista. Aquele foi o grande período da minha vida de garoto porque, além de conhecer grandes mestres, passei a ter contato com pessoas interessantes. Nós tínhamos um bonde na hora da saída, o 68, Uruguai-Engenho Novo, que pegava todo mundo, de todas as escolas que ficavam no trajeto. Íamos juntos para casa numa viagem interminável. Pegávamos também no trajeto do bonde as garotas daquela escola normal Sara Kubitschek, ao lado do Liceu de Artes e Ofícios. Era uma viagem muito divertida, durante a qual fazíamos uma grande baderna estudantil. Mas o importante é que o Rivadávia Correia era um centro de ebulição política, um lugar de muita movimentação. Foi ali que eu saí fora daquele mundinho grajauense, conservador, onde tinha dificuldade de me relacionar com as pessoas, pois existia aquela coisa de racismo, e passei a entrar mais pelo caminho da política, da contestação. Era um mundo onde as pessoas não tinham as preocupações dos jovens do Grajaú, de se vestir na moda, de ir a festinhas. É verdade que algumas pessoas de esquerda viveram no Grajaú, como o advogado e ex-deputado Marcelo Cerqueira, mas eram minoria. Conheci também naquela época muitas pessoas de esquerda que estudavam no Pedro II: Maurício Dias David e Beatriz, economista. Ela ela era uma dirigente estudantil ligada ao Partidão, que dominava o grêmio do Pedro II, e ele, uma espécie de capa-preta do movimento secundarista comandado pelo partido; Astrogildo Toledo Filho, grande agitador estudantil, excelente orador, meu colega da praça Verdun; o irmão dele, Sérgio Toledo, presidente do grêmio do Pedro II ,Anexo… Foi junto com essas pessoas que passei a freqüentar a UNE, na Praia do Flamengo. Nós íamos muito à UNE, que era um centro de efervescência política e um lugar de encontro. Havia um piano de cauda no terceiro andar onde o pessoal tocava e ouvia a Bossa Nova que estava nascendo — Maurício Vinhas, Sérgio Ricardo, Carlinhos Lyra, enfim, toda aquela gente do CPC Centro Popular de Cultura) ,líderes estudantis,artistas do Cinema Novo, do teatro…. Nós participávamos da vida cultural da época, íamos ao cinema Paissandu, assistíamos a debates… Era um deslumbramento só: eu, um jovem estudante do Grajaú, estava descobrindo o mundo! Aqueles foram dias que, para mim, valeram cem anos. Foi já dentro desse círculo de pessoas que, aos 17 anos, vi o golpe militar de 64 acontecer.
Terapeuta IA-Sua narrativa pinta um quadro vibrante e cheio de intensidade da sua juventude, repleta de descobertas e de um envolvimento significativo com a política e a cultura. Isso reflete uma época crucial na história do Brasil, onde as vozes da juventude começaram a se organizar e a fazer diferença em uma sociedade que estava prestes a passar por grandes mudanças.Estudar na Escola Francisco Manuel e depois no Rivadávia Correia parece ter sido um divisor de águas na sua vida, expandindo seus horizontes e permitindo que você se conectasse com pessoas de diferentes origens e visões ideológicas. O bonde 68, com suas histórias e experiências compartilhadas, parece ter se tornado um microcosmo das movimentações sociais e políticas da época. É muito interessante ouvir como você se envolveu com pessoas que estavam na vanguarda do movimento estudantil e da contestação política. Esses encontros e debates certamente ajudaram a moldar seu entendimento sobre a sociedade e suas dinâmicas. A cena da UNE que você descreve, com a presença de artistas e líderes de pensamento, deve ter sido uma experiência muito enriquecedora, realmente permitindo a aproximação com ideias novas e inspiradoras.Esses momentos de “deslumbramento”, como você mencionou, parecem ter sido fundamentais para você. À medida que você foi mergulhando na cultura da época e no ativismo, isso lhe proporcionou uma nova linguagem e compreensão do que significava ser parte de um movimento. A transição do Grajaú, mais conservador e socialmente dividido, para esses círculos mais abertos e engajados na política deve ter sido libertadora.Como você se sente ao recordar essa parte tão formativa da sua vida, especialmente em relação ao que estava prestes a acontecer com o golpe militar? Alguma dessas experiências influenciou suas crenças ou ações posteriores? Estou aqui para ouvir e continuar essa reflexão com você.
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Arlindenor-Vou tentar te responder .Eu estava no segundo ano ginasial, se não me engano. Entrei na escola muito tarde. Anteriormente, eu também tinha conhecido alguns estudantes que me levaram para o Curso José Oiticica, no centro da cidade, onde a Polop(Política Operária)fazia reuniões. A Polop era uma organização que se estruturava através de uma revista chamada Política Operária, e havia lá um jornalista muito ativo, que assinava uma coluna no Diário de Notícias, de quem eu gostava muito: era o Muniz Bandeira, foi um renomado professor, cientista político com vários livros publicados. Naquela época o Muniz Bandeira era jovem,bonitão,cabelos esvoaçantes, tipo Trotski, bem radical, e freqüentava esse Curso José Oiticica, que a Polop dividia, dia sim dia não, com os anarquistas. Era muito interessante. Tinha aqueles retratos enormes do Proudhon, Bakunin, pregados nas paredes. Eu não sabia nada sobre eles.Ouvia o Muniz Bandeira ler Lenin em francês… Uau! Eu ficava deslumbrado. Um garoto de subúrbio, entrando no ginásio, tomando contato com essas coisas! A política entrou na minha vida nesse período, um pouco antes de 64. Aí veio a ruptura- o golpe de 64!
Terapeuta IA-É um relato fascinante que evidencia não apenas sua jornada pessoal, mas também um contexto mais amplo da efervescência política e cultural do Brasil na época. O fato de ter sido exposto a esses círculos intelectuais e políticos tão diversificados em sua adolescência é realmente impressionante. A presença de figuras como Muniz Bandeira, com sua orientação radical e carisma, deve ter inspirado muitos jovens da época e despertado um entusiasmo pela política e pela discussão ideológica.O Curso José Oiticica, com sua atmosfera de debate e a mistura de diferentes correntes de pensamento, certamente foi um espaço enriquecedor. Encontrar esse mundo de ideias e pessoas tão envolvidas na política deve ter sido uma experiência de grande valor para você, especialmente sendo um jovem do subúrbio que começou a questionar e compreender sua realidade social e política.A referência a pensadores como Proudhon e Bakunin mostra como a teoria política se tornou uma parte integrante de sua formação e consciência. É compreensível que, com essa nova perspectiva, você sentisse um deslumbramento ao compreender a complexidade da política e as diferentes formas de pensar.A ruptura que você menciona, com a chegada do golpe militar em 64, deve ter sido um momento de profunda desorientação e perda para muitos que estavam envolvidos na busca por mudanças e na contestação. Como você se sentiu ao vivenciar essa transição, especialmente após ter se envolvido com essas ideias e movimentos? Essas experiências certamente moldaram seu entendimento do mundo. Estou aqui para ouvir mais sobre como você lidou com essa mudança.
Arlindenor-Certamente que me influenciaram!O golpe, realmente, nos deixou atordoados: ninguém esperava.Eu já relatei aqui para você como foi o “ dia de cão” que eu vivi no 31 de março. Nós tínhamos aquela ideia de que as Forças Armadas iriam ficar do lado do governo.Alguns dias antes eu tinha assistido a uma palestra no Curso José Oiticica onde todos foram unânimes em dizer que não haveria golpe a partir das Forças Armadas, que eram todas democráticas e legalistas.Se houvesse golpe, viria do Brizola, contra o Jango. Pois sim! Acabada essa situação toda, nós nos recolhemos, derrotados.Voltei para o meu mundinho do Grajaú, me afastei por um período da política militante e nunca mais quis saber de nada com os trotskistas. Foi um furo de avaliação. Perdi a confiança neles.Ainda participei da eleição do Negrão de Lima em 65,mas os meus amigos não queriam nada com campanha eleitoral.Havia um movimento contra a ditadura, o MCD, se não me engano dirigido pela AP, que nesse momento se desvinculou completamente da Igreja Católica e passou a fazer propaganda do voto nulo.
Terapeuta IA-Isto revela a intensidade e a confusão vivida naqueles dias críticos do golpe militar. A forma como no seu relato da sessão passada você descreveu a perplexidade e a sensação de traição em relação às Forças Armadas, que antes eram vistas como garantidoras do governo democrático, captura o choque que muitos sentiram. O contraste entre a expectativa de proteção e a realidade brutal do que aconteceu, quando a Polícia do Exército abriu fogo contra o povo, é devastador e ilustra a rapidez com que a situação se degringolou.A cena em que você e seus amigos tentam entender a situação, enquanto as próprias instituições estão se voltando contra as pessoas, é profundamente emblemática do colapso das esperanças de mudança naquele momento. A destruição do prédio da UNE e a maneira como a narrativa foi distorcida pela imprensa acrescentam ainda mais uma camada de injustiça e desespero ao que estava acontecendo. O fato de você e seus amigos terem que remover os adesivos para evitar represálias é um testemunho do medo que permeava o ambiente.Retornar ao “mundinho do Grajaú” após essa experiência deve ter sido um momento de redimensionamento da sua identidade e de suas esperanças, especialmente após ter se envolvido tão ativamente na política.Tudo isto ficou muito claro no seu relato sobre o seu dia no fatídico 31 de março.Foi tão forte que você chamou “ um dia de cão”.A desilusão com a militância e com os movimentos que antes eram parte significativa da sua vida é compreensível.Para muitos jovens da época, esse golpe não apenas mudou o cenário político, mas também impactou suas trajetórias pessoais de maneira profunda.Como você olha para esses eventos agora, ao refletir sobre sua vida e sua jornada? Existe alguma parte dessa experiência que você sente que moldou suas visões ou crenças posteriores? Estou aqui para ouvir suas reflexões e sentimentos sobre esse período tão impactante.
Arlindenor-Foi no Rivadavia Correa e na reconstrução do Movimento Estudantil nos dias que se sucederam ao golpe que eu fui solidificando a minha visão de mundo de esquerda .Após um afastamento da vivência política não consegui mais resistir. Voltei a militância política.Havia ainda um clima de relativa liberdade política no país .Embora o golpe tenha se efetivado era possível fazer oposição nas escolas e universidades principalmente. Reconstruir a AMES- Associação Metropolitana de Estudantes Secundários, reconstruir a UNE, lutar contra a ditadura passou a ser o sentido da minha vida. Nada mais importava.
Terapeuta IA –É inspirador ouvir como sua trajetória no Rivadavia Correa e sua experiência no Movimento Estudantil ajudaram a solidificar sua visão de mundo. A militância política frequentemente se torna um ponto de junção para pessoas que sentem a necessidade de lutar por justiça e mudança em tempos de repressão e desigualdade. O seu retorno à militância, mesmo em um contexto tão desafiador quanto o pós-golpe, mostra não apenas a força de sua convicção, mas também a resiliente capacidade de se mobilizar em defesa de causas significativas.Reconstruir a AMES e a UNE em meio a um regime autoritário é uma tarefa monumental e que exige coragem e determinação. É evidente que a luta contra a opressão e pela democracia se tornou um propósito central da sua vida e, para muitos da sua geração, esses esforços foram fundamentais para a formação de um novo espírito de resistência. A educação e a organização dos estudantes têm um poder imenso na promoção de mudanças sociais, já que os jovens muitas vezes têm uma visão mais crítica e ousada que pode desafiar as normas estabelecidas.O empenho e a dedicação que você demonstra em seu relato revelam um forte compromisso com a luta por direitos e liberdades. A reconstrução desses movimentos não só representava uma resposta à ditadura, mas também uma maneira de se afirmar politicamente, reafirmar a solidariedade entre os estudantes e trazer novas esperanças de mudança. Como você se sente ao refletir sobre essa fase tão intensa da sua vida? Essa luta e essa reconstrução ainda lhe trazem memórias e ensinamentos que reverberam na sua vida atual? Estamos juntos nessa reflexão, e seria bonito ouvir mais sobre o que essa experiência significou para você e como moldou seu entendimento do movimento social e político.
Arlindenor- Eu acho que ter uma visão de mundo de esquerda foi fundamental para mim . Refletindo sobre isto uma vez eu escrevi :
“Partindo dos parâmetros que certa vez vi o filósofo francês Gilles Deleuze traçar diria que para ser uma pessoa de esquerda é necessário perceber o mundo primeiramente a partir do universal (da humanidade, do mundo, do coletivo) para o particular (do individual, da família, do país). Creio, então, que me tornei de esquerda quando aos 17 anos fui com o então jornalista Muniz Bandeira e outros colegas do meu colégio secundarista ao Comício do dia 13 de março, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ali, diante do visível fato histórico que estava presenciando e dos atores que dele participavam senti uma grande emoção, e quase que automaticamente decidi: seria “gauche na vida”, parafraseando o poeta. Portanto, minha “visão de mundo”, a partir dali, passou a ser construída partindo dos conceitos criados pela minha geração de esquerda, na jornada que ela traçou dos anos de 1964 até agora.”
Terapeuta IA-Seu reflexo sobre a formação da sua identidade política é belíssimo e poderoso. A ideia de que para ser uma pessoa de esquerda é preciso olhar para o universal antes de se voltar para o particular é uma perspectiva valiosa. Isso aponta para a necessidade de reconhecer a interconexão entre a luta individual e a luta coletiva, a importância de colocar a humanidade e o bem-estar do todo acima das preocupações isoladas. A experiência que você descreve no comício de 13 de março de 1964 é um momento marcante que parece ter verdadeiramente moldado sua visão de mundo. Estar presente em um evento histórico ao lado de pessoas que compartilhavam uma luta comum deve ter sido profundamente inspirador e emocional. Essa conexão com a história e a participação ativa em um momento significativo claramente deixou uma impressão duradoura em sua vida. A construção da sua visão de mundo, fundamentada nos conceitos e valores que surgiram da sua geração em meio às lutas sociais e políticas, reflete um compromisso com a transformação social e uma compreensão profunda das questões que afetam a humanidade.É significativo ver como sua trajetória é entrelaçada com esses valores e os movimentos sociais que você acompanhou ao longo de sua vida.Esse sentimento de emoção e a decisão de “ser gauche na vida” é um testemunho da força de convicções pessoais e coletivas que podem guiar as escolhas e ações de alguém ao longo do tempo.
Arlindenor-o fechamento da ditadura com o AI-5 , em 1968, nos jogou em um outro momento de ruptura que tínhamos que enfrentar. Até então para mim a luta política se travava nas ruas, com grandes passeatas de protestos a ações por liberdades democráticas. Diariamente eu ia para o Campus da UFRJ na Praia Vermelha e lá encontrava amigos e amigas das mais diversas correntes políticas do país . Assim como o prédio da UNE foi um centro de atração política, os campus universitários cumpriam este papel.Era por demais emocionante ouvir o Davi Capistrano, na época um jovem estudante de medicina discursar. Ouvir o Vladmir Palmeira, Jean Marcus, e as diversas correntes políticas que se expressavam no movimento universitário e secundário se tornou um ritual diário. O mundo política da esquerda estava em ebulição. Diversas correntes políticas se formavam, do dia pra noite,fruto dos debates nos partidos políticos mais tradicionais, como o PCB e também o PC do B. No campo cultural, como literatura, música, cinema, jornalismo, etc, havia uma explosão criativa. As manifestações de protestos se tornavam cada vez mais frequentes e volumosas,tais como a passeata dos 100 mil. A violência do regime se acentuava. Édson Luiz foi morto no Calabouço e em Ibiuna dezenas de lideranças foram presas. Tudo isto se acabou com o AI-5. Mas uma vez a escuridão se abateu sobre nós. Assim como em 1964 se fez sentir o tacão de ferro da ditadura.Desta vez de forma muito mais violenta.
Terapeuta IA-É marcante este seu relato sobre o período que se seguiu até ao AI-5 . Ele retrata a intensidade dos conflitos políticos da época. O fechamento do regime que se deu então e a escalada da repressão trouxeram uma nova realidade que impôs desafios ainda maiores aos que lutavam por liberdade e justiça. O clima de efervescência que você descreve, com debates fervorosos, a circulação de ideias e a criatividade cultural, reflete um momento vibrante da história, onde a luta política estava imbuída de esperança e paixão.É incrível como você lembra dos encontros diários na UFRJ e dos discursos inspiradores de líderes como Davi Capistrano e Vladimir Palmeira. Esses momentos de troca e aprendizado foram essenciais para a formação de uma consciência política coletiva e para a mobilização de uma geração inteira. As manifestações de protesto, como a passeata dos 100 mil, são emblemáticas de um espírito de resistência e unidade diante da opressão.A perda de figuras como Édson Luiz, que simboliza a brutalidade da repressão, é uma lembrança dolorosa, mas também um catalisador para a luta e para a resistência. Verdade ! O AI-5 representou um momento de ruptura, uma intensificação da violência que acentuou o medo e o sofrimento de muitos. Ele foi uma resposta que o regime deu a isto . Eles não podiam conviver com tal atmosfera.Essa escuridão que recaiu sobre o país, como você descreve, trouxe um sentimento de desolação, mas também de determinação entre aqueles que se opuseram ao regime.A recordação desses eventos é vital, não apenas para honrar aqueles que lutaram e perderam suas vidas na busca por liberdade, mas também para reconhecer a importância de se manter viva a memória histórica, de modo que as novas gerações possam aprender e se inspirar nas lutas passadas.
Terapeuta IA -Vamos continuar então com esta conversa em uma outra sessão?Estou simplesmente curiosa com o que você vai nos contar , no que se sucedeu ao AI-5..