Muito se tem escrito nos Fóruns Partidários do PT sobre o resultado das eleições e quais foram os acertos e erros que o Partido cometeu em sua estratégia. A grande mídia nas suas análises alardeia que “o PT foi o Grande Derrotado” ou “Lula Perdeu onde Havia ganho em 2022” e por aí vai, desqualificando nossa participação no pleito. Porém, houve um pequeno aumento do Partido, mas os resultados finais são de um “domínio” da centro direito, da direita e da extrema-direita. Assim é necessário que façamos uma reflexão menos restrita e menos “apaixonada”.
OS NÚMEROS das ELEIÇÕES:
A diferença entre as eleições de 2020 e 2024 o nº de Prefeitos efeitos pelo Partido foi de 182 para 258, um aumento de 75 (41,76%). De vice prefeitos tínhamos 267 em 2020 e agora foram eleitos 291, ampliando para 24(8,99%). A observar que em 2020 pela primeira vez na história, conquistamos 182 prefeituras, mas nenhuma capital.
Agora em 2024, o PT e aliados venceram em seis das 11 capitais em que Lula foi o mais votado em 2022. Entre candidatos próprios ou apoiados, Partido ganhou as prefeituras de Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza, João Pessoa, Recife. Belo Horizonte é um caso à parte, onde o presidente Lula/PT apoiaram no 2º turno Fuad Noman do PSD que ganhou a eleição contra Bruno Engler (PL), apoiado por Bolsonaro
Quanto ao número de vereadores elegemos em 2024, 3.130 parlamentares, isto é, 5,36% do total de 58.446 no País. Houve um aumento 17,45% (445 Vereadores) sendo que em 2016 elegemos 2.815 e em 2020 foram 2.665, isto é, um diferença de 154 (-5,33%).
Mas nas capitais vencemos apenas em Fortaleza tendo perdido em Porto Alegre, Natal, Teresina, Cuiabá e em São Paulo na aliança com o PSOL. Nas 51 cidades que tiveram 2º turno o PT elegeu apenas 4 Prefeitos (7,84%) do total: Pelotas (RS), Mauá (SP), Camaçari (BA)e Fortaleza (CE).
Dos vereadores eleitos pelos 7 Partidos do “campo da esquerda” (28% de um total de 25 Partidos) foram eleitos 10.320 isto é, 17,66% do Brasil. Considero os 7 Partidos do campo da esquerda: o PSB, com 3.593 eleitos (6,15%), o PDT com 2.503 (4,28%), o PV com 488 (0,83%), o PCdoB com 354 (0,61%), a REDE com 172 (0,29%) e o PSOL com 80 (0,14%). Os demais Partidos de centro, centro direita, direita e extrema-direita, elegeram 48.126, 82,34% dos 58.446.
AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA
O governo Lula (PT) é aprovado por 49% dos eleitores brasileiros e reprovado por 45%. Os dados são da Aprovação do Governo Lula nova pesquisa do instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) e foram divulgados em 12/09/2024.
Na comparação com o levantamento anterior, o cenário é de estabilidade. Em julho, quando o Ipec foi às ruas pela última vez, a gestão de Lula tinha 50% de aprovação e 44% de desaprovação.
No detalhamento da pesquisa do IPEC 35% avaliam o governo Lula como ótimo ou bom; 34% acham ruim ou péssimo, a margem de erro é de 2 pontos para mais ou para menos. A avaliação positiva da administração do presidente Lula (PT) oscilou de 37%, em julho deste ano, para 35%. Quem classifica a gestão do petista como ruim ou péssima oscilou de 31% para 34%.
Aqueles que acham que é regular variam de 31% para 28%. Novamente, somam 2% os que não sabem ou preferem não opinar. A variação ocorre dentro da margem para mais ou para menos.
O levantamento (do qual desconhecemos a metodologia) foi realizado entre os dias 5 e 9 de setembro IPEC divulgada em 12 de setembro de 2024, há 25 dias do 1º turno. O IPEC entrevistou 2 mil brasileiros e brasileiras com 16 anos ou mais.
O CONTEXTO POLÍTICO/INSTITUCIONAL
Para pensar sobre as eleições é necessário visitar o contexto histórico político/institucional adverso. Logo no início do governo Lula enfrentou duas tentativas de golpe de estado, a primeira antes da posse em 12 de dezembro, a 2ª a de 8 de janeiro, 13 dias depois, em 21 de janeiro o presidente Lula demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança. A saída de Arruda foi necessária para que Lula exercesse sua autoridade como Presidente Supremo das Forças Armadas.
Hoje o Presidente tem que governar tendo o Congresso dominado pelo “centrão” e onde a bancada da direita e da extrema direita tem expressiva representação, sendo as alianças voláteis e virtuais.
Temos ainda a extrema direita propondo PLs e Projetos de Emendas Constitucionais absurdos que vão além do conservadorismo neofascista.
Lula e seus ministros têm se articular com este Congresso, fazer alianças e composições para aprovar os planos do programa de Governo, e ora tem que emitir medidas provisórias, que podem caducar e/ou que recebemadendos que desfiguram a medidas. Nesta legislatura o Congresso já submeteu o Governo em vetos integrais ou derrubados parcialmente.
Viver neste clima político/institucional, um “Presidencialismo de coalizão”, somente um Presidente com a Experiencia de Lula é capaz de conviver,administrando contrários, dentro e fora do parlamento.
A ECONOMIA
Através de uma política econômica que qualifico como keynesiana, em apenas 1 ano e 10 meses do 3º mandato do Presidente Lula, tivemos um PIB em 2023 de R$ 10,9 trilhões, com um crescimento de 2,9% em relação ao ano anterior e um PIB per capita de R$ 50.193,72, um aumento de 2,2% em relação a 2022, para 2024 estimativaé 3,2%, um aumento de 0,30%. Já o PIB sob o mandato de Bolsonaro teve um crescimento médio anual de apenas 1,5%.
Quanto ao desemprego tivemos uma taxa de 6,4%, o menor índice desde 2013. Em setembro de 2024, foram gerados 247 mil novos empregos, um aumento de 21% em relação ao ano passado. A volta do Brasil a 8ª economia do mundo, aumento da distribuição de renda, saímos do mapa da fome, Investimentos através do PAC, aprovou-se um novo código tributário depois dele estar por 30 anos na gaveta do congresso, obteve-se a menor taxa de desemprego para o mês de agosto em toda a série histórica da PNAD, iniciada em 2012. Entre outros avanços.
Porém, todas estas conquistas e avanços não impactaram favoravelmente nos resultados das eleições desse ano.
O MERCADO
A “Faria Lima” considera que a economia é uma ciência exata, mas de fato a economia não é uma ciência exata, mas sim uma ciência política social aplicada.
O mercado em suas previsões ainda na campanha de 2022, previa que o “pais retrocederia” e que a gestão da Frente Democrática que derrotou a extrema-direita seria catastrófica .
Este mercado e a grande mídia professa a ideologia liberal da Escola de Chicago, e é fiel aos bolsonaristas Paulo Guedes e Roberto Campos Neto. O primeiro, além de “vender o Brasil” deixou um déficit fiscal nominal de R$ 448,3 bilhões em 2022 (4,5% do PIB), que inclui os gastos com a dívida. Por sua vez o BC de Campos Neto levou a taxa de juros básica da economia, a Selic, a estratosféricos 11,65% ao ano em dezembro de 2023 e que até setembro de 2024, praticou uma média da Selic de 10,71% uma diminuição de apenas 1,56%, em relação a 2023. Em setembro estamos com uma Selic de 11,75%, uma taxa de juros do cartão de crédito rotativo de 438,4% ao ano, o maior valor do ano e o cheque especial, a taxa média dos bancos pesquisados foi de 7,96% ao mês e 95,88% ao ano.
O Economista Paulo Nogueira Batista, que foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015 escreve sobre o BC e os Juros:
“Em dezembro, termina o mandato do atual presidente do BC – o que é motivo de esperanças e temores. Esperanças para nós, que queremos uma mudança de orientação da política monetária. Temores para a turma da bufunfa, sempre agarrada à prática de juros exorbitantes. O que quer o mercado? Idealmente, que Roberto Campos Neto continue ou, o que daria no mesmo, que seja substituído por outro funcionário graduado do sistema financeiro, daqueles que seguem o script e não ameaçam os interesses estabelecidos. Não sendo isso possível, e por via das dúvidas, a turma da bufunfa tenta intimidar o governo, em especial o ministro da Fazenda”.
Isto é, na frente econômica se dá confronto político/ideológico com o “mercado”.
ACERTOS E ERROS NAS ELEIÇÕES
OS número apresentados acima mostram um aumento de Prefeituras e Vice-Prefeituras conquistadas pelo Partido– sendo apenas a de uma Capital, Fortaleza.
Estes resultados são também fruto de Operações Psicológicas (PsyOps) contra o Partido, planejadas e executas para influenciar o comportamento dos eleitores, com o objetivo de modificar ou reforçar as emoções, motivações, raciocínio e decepções da população. Sendo que nestas Operações não estão incluídas as fakenews fartamente utilizadas.
Soma-se a isto o comportamento da Grande Mídia, que lutou e luta, com armas poderosas, contra o Governo Lula e contra o Partido.
O conjunto destas ações mais a derrama das emendas parlamentares influenciaram, e sem dúvidas comprometeram os resultados do Partido.
Sem negar os avanços de 16 anos no poder, alguns erros são históricos, e datam da vitória de 2022, como o afastamento das princípios originais do Partido, como a necessidade permanente da mobilização popular. 2023 équando se inicia o paulatino afastamento das massas.
A necessária institucionalização da representação do Partido nos Parlamentos de todas as esferas, também nos levou a desmobilização do trabalho de massas, na educação da militância, no formato da organização, no abandono do trabalho de agitação e propaganda, etc.
A saber, se no 3º mandato de Lula, mesmo governando na adversidade (como apontamos acima), por conta desta desmobilização, não defendemos nas ruas as medidas populares implantadas pelo governo e entramos na bolha da Internet. Nosso combate a extrema direita se dão na defensiva e fundamentalmente nas redes sociais, o que é pouco. Temos que ir para as ruas de maneira organizada.
Analisando o desempenho do Partido , o ex-presidente nacional do PT, o ex-deputado José Genoino, afirmou em 30 de outubro que a “direita e extrema-direita” saíram como as vencedoras do pleito. Segundo ele, o PT precisa passar por uma reforma que recupere o engajamento da militância a fim de melhorar o desempenho da legenda nas eleições de 2026.
“Eu estou em um movimento pela reforma do PT”, disse. “Falo em reformar o PT, em oxigenar o PT, fazer plenárias, resgatar a militância, trazer o PT para as ruas, para os bairros, para a periferia e as comunidades, para que ele volte a ser esse instrumento que, inclusive, tem autonomia em relação ao governo”.
Genoino ainda descreveu o governo do presidente Lula como politicamente abrangente, indicando que essa característica pode ter beneficiado setores da direita que apoiam a administração. “O governo Lula, por uma escolha política, é muito amplo e a direita que apoia o governo Lula se beneficiou nessa eleição. Quem ganhou essa eleição foi a direita e a extrema-direita”.
José Dirceu também se posiciona pela renovação do Partido. Quanto a militância ele propõe que o PT volte a ter como metas, a conquista de territórios que foram perdidos. Acrescenta que que a postura do Governo contra os juros, não teve uma campanha nacional apoiando o posicionamento do Presidente Lula.
AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES GERAIS EM 2026.
O 1º turno das eleições de 2026 não está distante. De hoje até lá são apenas 23 meses, ou 1 ano, 11 meses e 5 dias. O Pleito não será fácil, LULA é nosso candidato natural, mas sua vitória não será um passeio, teremos os adversários/inimigos de sempre, e os métodos antidemocráticos praticados pela direita e pelos Estados Unidos, seja quem for o presidente eleito mos EUA em 5 de novembro de 2024, isto é, dentro de 6 dias.
Na luta para nos mantermos nosso projeto no poder, teremos que agir com unidade e realizarmos mudanças ousadas na nossa estratégia de enfrentar a direita, extrema direita e seus aliado externos. Para tanto será necessário que desde já, ajamos de um outro modo, revisitando nossas práticas atuais, estando presente onde o povo está, com ações coletivas, criando ou revitalizando as associações de bairro, criando cineclubes, formando grupos de teatro amador, campeonatos esportivos entre bairros e escolas, etc. Nos aproximando do mundo real, revendo criticamente nossa forma de organização, dialogando/atuando e recrutando novos militantes nas periferias, atuando nas ruas de forma permanente e tudo o mais que mobilize as massas.
Na comunicação, saindo de nossa “bolha”, devemos ter uma estratégia de desconstrução do bolsonarismo e desmistificação da antipolítica como da costumaz desqualificação do Partido, e sua identificação com o “comunismo”, que suas políticas são “antiprivatista”, que a gestão seria “corrupta”, que a condução da política externa “é ineficaz e irresponsável”, que somos “antidemocráticos”, “antievangélicos”/“anticristãos”. Nocaso do empreendorismo onde liberalismo individualistapenetrou fortemente nas classes populares, devemos pensar/posicionar/criar uma estratégia para tratar desta questão.
Isto irá requerer Operações Psicológicas PSYOP e enfretamento à Guerra Híbrida. Além disso, temos empreitadas essenciais como a educação e reeducação, trazendo a juventude, através de encontros, palestras e seminários quando poderemos requalificar e atualizar a militância que lhe dê autoestima e uma nova postura, ampliando seu pertencimento ao Partido, sonhar e ter uma causa, tomando consciência de que somos a vanguarda para levar/manter o País sob um Governo Popular. Somente assim poderemos nos renovar.
Este texto foi escrito para o debate em curso no PT e representa a opinião do autor

Marco Aurélio Marconde (1950) é carioca do Estado do Rio de Janeiro.Distribuidor independente, foi um dos fundadores do Cineclube Glauber Rocha, presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro e presidente do Conselho Nacional de Cineclubes. Pertenceu ao PCB e hoje milita no PT
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