De onde vem a força da extrema direita ?
A resposta, tal como eu vejo as coisa, de modo curto e grosso: da crise terminal da Modernidade.
Senão, vejamos…
A Civilização Ocidental encontrou o seu “estado da arte” na Modernidade, fase histórica inaugurada pelas Revoluções Burguesas e pela industrialização capitalista da economia, acelerada pela Revolução Industrial.
Conduzida pelo avanço do capitalismo, a Modernidade “venceu” o Medievo institucionalmente, ideologicamente e “espiritualmente”:
(1) institucionalmente, como democracia liberal, isto é, com a tripartição do Poder em poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo os dois primeiros baseados no princípio da representação política;
(2) ideologicamente, como império da racionalidade, isto é, com a crescente afirmação, contra a religião, da ciência como a única portadora e guardiã legítima da Verdade;
(3) “espiritualmente”, como antropocentrismo, isto é, com a crescente afirmação da crença de que é o domínio da natureza, possibilitada pelo progresso técnico, que conduzirá a humanidade à felicidade, e não a graça de Deus.
A Modernidade entrou em crise quando essas três dimensões começaram, aos olhos de um contingente sempre crescente de pessoas, a “fazer água”.
Democracia + ciência = progresso: essa equação expressa bem a esperança triunfante de emancipação humana que a Modernidade nos trouxe – seja pela vertente burguesa do “fim da história”, seja pela vertente socialista da superação do capitalismo.
Acontece que – como negar? – aquela esperança triunfante, tipicamente moderna, vem sendo substituída, desde a segunda metade do século passado, pelo temor de que estamos à beira de um abismo.
Diante desse temor, as forças políticas modernas (à direita, ao centro, e à esquerda) propõem soluções do tipo “mais do mesmo”.
Assim, não deveria nos espantar o fato de a extrema-direita – uma força política explicitamente antimoderna! – vir sendo uma força política em ascensão, sobretudo ali, onde a crise da Modernidade é mais profunda…
A esquerda realmente existente é hoje nada mais que um “puxadinho” político-ideológico do liberalismo, esse liberalismo que fundou a Modernidade e se confundiu com ela.
