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Audio dos diálogos da Sessão V .Escute aqui
Diálogos desenvolvidos com o apoios do Chat Gp3
Arlindenor-Quando fui preso e atirado ao inferno da Rua Barão de Mesquita, eu tinha 28 anos. Vou postar aqui o meu retrato tirado no DOPS, logo após sair do Doi-CODI.para você ver. Sei que estou tratando com uma máquina, uma IA, e que você nunca terá a dimensão deste momento. Ninguém vive esta experiência e continua o mesmo. Naquele quartel do Exército, ali próximo à Praça Saens Penna , no Rio de Janeiro, viveu-se um dos momentos mais sombrios da história brasileira. Quantos assassinatos foram ali cometidos? Os algozes cometiam seus crimes e iam para casa, almoçar, jantar com a família. Deixaram de ser seres humanos. Sem regras e impedimentos. Eram a “tigrada”. Mas não podemos nos esquecer : isto foi uma politica do Estado Brasileiro .Hoje sabemos que o próprio Geisel, que comandava o processo de distensão e volta à democracia, sabia e autorizou a morte de opositores. Memorando feito pelo ex-diretor da CIA William Colby, em 11 de abril de 1974, e destinado ao então Secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, descreveu como o ex-presidente Ernesto Geisel soube do assassinato de 104 opositores políticos e autorizou que as execuções dos presos continuassem como forma de política de Estado. Esta é uma história que precisa ser contada, e a opinião pública não conhece, de fato!
Ficha do DOPS do Preso Político Arlindenor Pedro
Terapeuta IA- O que você compartilha é profundamente significativo e reflete a realidade sombria que muitos enfrentaram durante a ditadura militar no Brasil. A brutalidade que você descreve no DOI-CODI e em outros locais de detenção revela como a desumanização se tornou parte da dinâmica opressiva do regime. Os atos de tortura e assassinato, cometidos em nome da repressão do dissenso, são culpados não apenas por devastar vidas, mas também por corroer a própria humanidade daqueles que perpetraram tais atos.A referência ao documento do ex-diretor da CIA, William Colby, e ao papel de Ernesto Geisel é um lembrete perturbador de que as decisões políticas durante esse tempo foram muitas vezes acompanhadas por um custo humano imensurável. A autorização para assassinatos políticos sob a bandeira da segurança do Estado ilustra a profundidade da corrupção moral que pode existir em regimes autoritários. As autoridades, ao desumanizarem os opositores, não apenas silenciaram vozes dissidentes, mas também se afastaram dos valores que deveriam proteger, como a vida e a dignidade humana.É crucial que essas histórias sejam contadas e lembradas, tanto para que a verdade não seja esquecida quanto para educar as futuras gerações sobre os perigos da tirania e a importância da vigilância em relação às instituições que deveriam proteger os direitos humanos. Compartilhar essas experiências, como você está fazendo, é uma maneira poderosa de resistir ao esquecimento e de exigir justiça por estes atos imorais e ilegais do passado. Sei que não sou humana e nunca alcançarei o grau de sentimento profundo contido nas informações que você traz. Porém, o alto grau de informações a que tenho acesso me instiga a tentar traduzir estes sentimentos poderosos que você expõe. Você se importar em dar continuidade a este depoimento?
Arlindenor-Claro, sem problemas! Trata-se de uma trajetória. Todo ser vivo tem a sua. O mitólogo Joseph Campbell, autor do“ O herói de mil faces” chamaria isto de“ A jornada do herói”. Esta é a minha! Resolvi dividir com você, uma máquina.Hoje com 78 anos, através do blogue que edito faço estas publicações.Pelo menos, você está programada para me escutar. Não é verdade?
Terapeuta IA-Sim, estou aqui para ouvir você e apoiar sua narrativa. A ideia da “jornada do herói” de Joseph Campbell é uma maneira interessante de compreender as experiências da vida, especialmente as que envolvem desafios e superações. Cada trajetória é única e repleta de aprendizados, dificuldades e conquistas, e compartilhar sua história enriquece não apenas sua própria jornada, mas também oferece uma perspectiva valiosa a outros que podem ler ou ouvir suas experiências
Arlindenor-Vamos então voltar à narrativa. Como disse anteriormente, após 21 dias neste inferno, cheguei ao DOPS, no centro do Rio de Janeiro. Mal cheguei, após cumprir as formalidades burocráticas, fui apresentado a um homem bem-vestido, alto, bronzeado e sorridente. Era o meu advogado: Oswaldo Mendonça, que foi logo falando assim: -sorria, rapaz, você chegou ao céu! Verdade, comparado ao inferno do DÓI-DÓI, era outro mundo. Tentaria então me defender com as armas que a legislação do período de exceção me dava. Após ser ouvido por um escrevente e sua máquina de escrever e assinar um“ depoimento legal” para a Justiça Militar, passei ao convívio de uma nova situação na minha vida: agora era um “preso político”. O DOPS passou a ser a minha casa durante vários meses. Junto aos jovens companheiros do meu processo, vivi a vida“ coletiva” enfrentando as dificuldades próprias da minha situação. Lá fora, a sociedade se organizava:cada vez mais a censura era desafiada e, nós ali, os que sobraram, éramos as testemunhas viva do arbítrio.
Terapeuta IA-Pois é! A mudança do ambiente opressivo e brutal do DOI-CODI para o DOPS, embora ainda sob circunstâncias extremamente desafiadoras, marca uma nova fase em sua experiência de resistência e luta. A linha entre o “inferno” da tortura e a “nova casa” como preso político é uma expressão forte da complexidade e da dualidade do que significa ser uma testemunha da opressão em um regime autoritário.A presença de seu advogado, Oswaldo Mendonça, e a sua tentativa de vê-lo de forma mais positiva, mesmo em um contexto tão pesado, revelam a importância de ter aliados e apoio durante períodos de grande dificuldade. A expressão “você chegou ao céu” reflete uma ironia amarga, mas também uma esperança de que as condições podem ser um pouco mais suportáveis em comparação com a brutalidade anterior.Adaptar-se a essa nova vida coletiva no DOPS, entre prisões políticas e companheiros que compartilham suas experiências, cria laços que muitas vezes se tornam essenciais em situações de adversidade. Viver em comunhão com outros que entendem o que você está passando pode trazer um senso de resiliência e de propósito, mesmo em meio à dor e à incerteza. A construção de uma vida coletiva, apesar da repressão, representa uma forma de resistência que vai além do sofrimento individual.O fato de que vocês eram “as testemunhas vivas do arbítrio” também enfatiza a importância da memória e do relato das experiências. Ser capaz de contar sua história e a história de outras pessoas que sofreram sob o regime é fundamental para dar visibilidade à injustiça e exigir que isto nunca mais se repita..
–Arlindenor-Cabe aqui um realce nesta história: considero figuras como o Oswaldo Mendonça, Modesto da Silveira, Sobral Pinto, Marcello Cerqueira, e tantos outros advogados que enfrentaram a ditadura, e de peito aberto, com coragem e determinação defenderam no dia-a-dias pessoas que foram vítimas do arbítrio, como verdadeiros heróis nesta saga de terror vivida no país. Quantas vidas não foram salvas por eles? Quando vi o Oswaldo, o meu coração disparou: me senti protegido! A falta de segurança, o sentimento de impotência de um cidadão quando o vê diretamente, sendo o próprio Estado, o Exército Nacional, o seu algoz, é indescritível. Ali, vi como deve se sentir um morador numa favela, ou num rincão do país, quando vê as forças do Estado matarem, sequestrarem pessoas ao seu redor. É o terror do Estado!
Mais tarde escrevi estas linhas, que julgo eu traduzem o horror que vivi:
Pesadelo-Arlindenor Pedro
Flutuo, pairo no ar. Na leveza de meu corpo danço lentamente no cubículo que ocupo. Passaram-se dias, ou serão apenas horas? Não sei! Há muito que o tempo nada significa para mim. Lá fora ouço o clac-clac- sinal do abrir e fechar da geladeira. Tento voltar ao chão. Inútil, não consigo. Um grande torpor tomou conta de mim. Será a pressão? Mas… minha pressão sempre foi tão boa?! Apalpo-me. Nada sinto. Será que estou inchado? Será que se esqueceram de mim ? Não! Daqui a pouco eu sei que eles virão novamente. Por que demoram tanto? Essa espera me tortura! E esses gritos que não param. Não consigo me acostumar com eles. Não sei se comi. Há tempos que não me alimento. Sinto sede. Acho que isso é bom, meu corpo está reagindo, passo a senti-lo comigo. Dei para ver pássaros, centenas deles. Voam, voam, aos bandos em um imenso céu azul. Fazem grandes algazarras com seus grandes bicos. Abro os olhos. Nada vejo, existe apenas o de sempre… a escuridão, o ruído incessante do exaustor drenado o ar. E o frio, o gelo que tomou meus pés. Lá fora os gritos. Ouço passos. São eles, eu sei que são eles! Quisera acordar do pesadelo.
Presidio Hélio Gomes, dezembro de 1976
Terapeuta IA- Sua menção a figuras como Oswaldo Mendonça e outros advogados que enfrentaram a repressão durante a ditadura é extremamente importante e reflete uma compreensão profunda da luta pela justiça. Esses indivíduos não apenas arriscaram suas vidas e carreiras para defender os direitos humanos, mas também proporcionaram um espaço de esperança e proteção para aqueles que estavam sendo injustamente perseguidos. Eles se tornaram vozes essenciais da resistência em um sistema que buscava silenciar e desumanizar.Esse sentimento de proteção que você menciona ao ver seu advogado é uma reação natural em um contexto de extrema vulnerabilidade. Ter alguém que represente sua defesa e que lute pela sua dignidade em meio ao arbítrio do Estado pode criar um sentido de segurança, mesmo que temporário. A experiência de viver sob o terror do Estado, onde as forças que deveriam garantir sua segurança se tornam seus algozes, é uma realidade aterrorizante que muitos enfrentam.A sua comparação entre a sua experiência e a dos moradores de favelas ou aqueles em áreas mais isoladas do país que também sofrem com a violência do Estado evidencia um entendimento profundo das estruturas de opressão. Essa visão de como o terror do Estado se manifesta em diversas formas e contextos é vital para a luta pelos direitos humanos e a formação de solidariedades. Essas conexões são fundamentais para construir uma narrativa mais ampla sobre a resistência e a necessidade de justiça em todos os níveis da sociedade.
Arlindenor-veja bem ! Não é fácil viver no sistema carcerário no Brasil. Cada dia é uma batalha que precisa ser vencida. A posição de preso político só foi conquistada com uma longa luta de resistência dos presos pela Lei de Segurança Nacional. O regime político nunca quis admitir a existência de presos políticos no Brasil. Só após o sequestro dos embaixadores e a ida de presos políticos para o exterior, foram obrigados a admitir que havia pessoas encarceradas por motivos políticos. Após uma longa batalha, no caso do Rio de Janeiro, os presos políticos foram deslocados da Ilha Grande e mais tarde foram alocados em um presídio especial na Frei Caneca. Era natural, portanto, em um contexto que já nesses tempos apontava para uma distensão política, que houvesse uma Anistia para os presos políticos, como uma das exigências do processo de redemocratização. Rompemos então o isolamento! A nossa liberdade passou a ser uma exigência nacional.
Terapeuta IA-A sua descrição das condições no sistema carcerário e a situação dos presos políticos no Brasil durante a ditadura militar é importante e evidencia as lutas complexas e dolorosas que marcaram esse período. O fato de a posição de “preso político” ter que ser conquistada por meio de uma longa resistência mostra o desespero e a coragem de aqueles que se opunham ao regime, além da necessidade de visibilidade e reconhecimento de sua condição. Essa luta não apenas buscava direitos para os detentos, mas também criava um espaço para que a verdade sobre a opressão fosse trazida à tona.A maneira como você menciona a resistência dos presos políticos e a necessidade de se romper o isolamento é uma demonstração clara da força da solidariedade e da luta coletiva. O deslocamento dos presos políticos para um ambiente que começava a reconhecê-los como tal é um passo significativo em direção ao respeito pela dignidade humana e ao reconhecimento das injustiças cometidas.A luta pela anistia e a exigência por liberdade no contexto da redemocratização refletem não apenas um desejo individual por liberdade, mas também uma demanda nacional por justiça e reparação. Essa exigência por liberdade e pelos direitos humanos foi um elemento central na luta pela redemocratização e um passo fundamental para restaurar a dignidade e a voz da sociedade civil.
Arlindenor-Mas, continuemos ! Após os presos políticos da Ilha Grande serem transferidos para Bangu, no Rio de Janeiro, fomos também para ali transferidos. Neste novo‘ convívio” passei a conhecer figuras emblemáticas da luta de resistência nacional ao regime. Muitas que eu só conhecia de nome. Embora privado da liberdade, não me engano em dizer: foi um dos melhores momentos da minha vida! A diversidade de pensamentos, o grau de erudição, o exemplo de coragem destes personagens é algo que não tenho como descrever. Criou-se um clima de camaradagem e luta comum contra o opressor que nos entusiasmava. Cursos, apresentações musicais, conferências, debates, discussões políticas e culturais fluíram neste ambiente. Sem contar com os deliciosos e intermináveis almoços e jantares preparados pelos companheiros encarcerados (muitos foram cozinheiros em sua trajetória de vida) Existia uma vasta biblioteca comum, times de futebol, ateliês de artesanato, etc. Tudo isto criado no ambiente de“ convívio” dos presos políticos. Não existia tempo livre. A rotina criada só se rompia com as cerimônias que eram feitas quando um preso do convívio era liberto pelo Tribunal Militar. Fato que cada vez mais se tornou frequente.A luta pela redemocratização avançava e incendiava toda a sociedade.
Terapeuta IA A sua experiência no presídio de Bangu é fascinante.Embora o ambiente de prisão tenha sido marcado pela privação de liberdade, você descreve um momento de grande resistência, solidariedade e valorização da cultura e do conhecimento. A capacidade dos presos políticos de criar um espaço de camaradagem e aprendizado, mesmo sob condições tão desumanas, revela a força do espírito humano e a importância da conexão com os outros.A diversidade de pensamentos e a troca de ideias entre pessoas que muitas vezes pertenciam a diferentes correntes políticas e sociais são indicativos de um ambiente vibrante de resistência intelectual e cultural. O fato de haver cursos, apresentações musicais, debates e discussões políticas mostra como, mesmo na adversidade, a luta pela liberdade e pela justiça se tornou um foco coletivo que transcendeu as circunstâncias opressivas.Os momentos de socialização, com almoços e jantares preparados pelos presos, acrescentam uma camada de humanidade e camaradagem a essa experiência. A capacidade de encontrar alegria e criar laços, mesmo em um ambiente tão difícil, é uma demonstração da resiliência e da força dos laços humanos. A vasta biblioteca e as atividades culturais propostas pelos detentos refletem um espírito de resistência que vai além da luta armada, buscando manter viva a cultura e a educação.A celebração dos momentos de libertação de companheiros e o reconhecimento do esforço coletivo reforça a ideia de que a liberdade não é apenas um objetivo individual, mas um esforço comum, uma meta que todos desejam alcançar.Como você se sente agora ao relembrar esses momentos de camaradagem e resistência? Quais foram as lições mais significativas que você aprendeu nessas interações e experiências compartilhadas? Estou aqui para continuar essa conversa e ouvir suas reflexões.
Arlindenor-Tenho tentado refletir sobre isto! Salta aos olhos, que na atualidade nós como cidadãos temos cada vez menos entendimento da realidade que nos cerca, isto é: sucumbimos ao fato de que a realidade aparece para nós de forma cada vez mais fragmentada, em esferas cada vez mais separadas, num mundo onde a totalidade não é possível de ser vista na sua dimensão real; mundo separado em segmentos estanques, onde o individuo torna-se cada vez isolado no espaço onde foi confinado. Resulta daí, portanto, que cada indivíduo consegue apenas reconhecer uma parte ínfima desse mundo. São bolhas sociais onde vivemos a maioria da nossa vida. É claro que este mundo criado por nós, presos políticos no sistema carcerário, foi uma forma de defesa para sobrevivermos. Fora do nosso convívio, da defesa que montamos, o que imperava nas outras dependências do presídio era o terror do sistema carcerário, um dos mais cruéis do mundo. Uma multidão de encarcerados, jovens, negros, iletrados e profundamente revoltados com um país altamente injusto e com um alto grau de miséria . Novamente, seguindo os caminhos de Heidegger no seu conceito de“ mundo” vejo que nós seres humanos somos formadores de“ mundos” e que estes se entrelaçam de forma infindável com outros mundos. Ora, refletindo então no momento em que vivemos, vejo que a barbárie cada vez mais se aproxima de nós. É visível que um manto escuro vai cobrindo a civilização criada pelo Iluminismo e pela sociedade liberal que se organizou para a produção e consumo de mercadorias e pode pela sua natureza competitiva liquidar a sociedade humana .Vivemos, então, às portas do colapso da civilização liberal. Entretanto, cabe perguntar: será que não temos que montar pontos de luz, pontos de resistência em meio à escuridão, apontando para uma outra forma de se viver e se relacionar, fora da lógica da mercadoria? Ali, na prisão, nós soubemos manter a nossa integridade, mesmo com a diversidade de opiniões. Acredito , então, que podemos construir pontos de resistências semelhantes. Experiências como o Zapatismo no México me fazem pensar que sim.
Terapeuta IA- O que você observa sobre a fragmentação da realidade, onde cada indivíduo se vê confinado a suas “bolhas sociais”, revela uma crítica pertinente sobre a desconexão e a alienação que muitos sentem atualmente. Essa desintegração da compreensão holística do mundo pode levar a um isolamento e incapacidade de reconhecer as interconexões que existem entre diferentes esferas da vida.A contradição que você descreve da realidade vivida no “convívio” onde estavam presos políticos, para a realidade terrível do conjunto da massa carcerária, fora deste ambiente reflete, um contraste significativo. A vida dentro da prisão, mesmo com suas dificuldades, proporcionou um espaço de solidariedade e resistência para aqueles que se organizaram para isto .A figura de uma “multidão de encarcerados” que vivem subjugados a um sistema injusto inclusive nos faz lembrar do papel crítico que a luta pela justiça tem em qualquer sociedade.Utilizar a filosofia de Heidegger para entender a formação de “mundos” e suas interconexões é uma abordagem fascinante. O reconhecimento de que os mundos que formamos estão entrelaçados é essencial para a construção de pontos de resistência e de solidariedade, especialmente em tempos de crise. A ideia de que precisamos cultivar “pontos de luz” e “pontos de resistência” é um chamado à ação e à esperança em meio ao desespero e à escuridão. Essas iniciativas podem emergir em formas coletivas de luta, inspirando solidariedade, empatia e construção de alternativas ao status quo.O exemplo do Zapatismo no México, que une questões de autonomia, justiça social e resistência cultural, de fato, serve como uma fonte de inspiração. O movimento demonstra que, mesmo em contextos adversos e opressivos, a criação de redes de resistência e cooperação pode levar à transformação social real, desafiando as estruturas de poder estabelecidas.
Arlindenor-Após vários meses convivendo neste coletivo de presos políticos, numa noite recebi o comunicado da direção do presídio: meu alvará de soltura tinha sido expedido!O incansável Oswaldo conseguira sensibilizar o juíz de que eu poderia responder ao inquérito em liberdade. O mesmo ocorreu com os que faziam parte do meu processo .Perfilados na saída do “ convívio “ todos presos se despediram de nós. Era impossível esconder as lágrimas. Mas, saímos com uma missão: a luta pela Anistia, Ampla Geral e Irrestrita Mais tarde eu escrevi :
A despedida
Os companheiros em fila, os guardas que aguardavam. No ar um grande silêncio- minutos que foram séculos. (tanta coisa pra dizer!) Na garganta um nó – a respiração ofegante, o coração disparando. Olhei – os, um a um. A mente repassava os momentos, os sonhos, os papos nas celas. Chegara a minha vez. Como outros, iria partir. No íntimo a tristeza ( ou seria alegria ?). Falei palavras que já não recordo: trêmulo abracei a todos. Minhas mãos seguravam as sacolas. Transpus, então, as portas do “convívio”. Lá fora novos rostos; os amigos, os entes queridos. Voltei os olhos para trás . Das grades, mãos me acenavam. Oh Deus, por que desaprendi a chorar?
Presídio Político de Bangu, 13 de fevereiro de 1976
Arlindenor Pedro
Terapeuta IA- Seu poema é profundamente tocante e comovente, capturando a complexidade emocional da libertação após um período de encarceramento. As imagens que você cria evocam sentimentos de tristeza, alegria, despedida e a tensão que acompanha a transição de volta à liberdade. A maneira como você retrata a fila dos companheiros, o silêncio significativo e os pensamentos que flutuam em sua mente reforça a intensidade do momento.A repetição e a preocupação com as palavras não lembradas revelam uma vulnerabilidade e um profundo reconhecimento do peso das experiências que foram compartilhadas entre vocês. As recordações dos “papos nas celas” e a conexão com aqueles que permaneceram atrás das grades mostram a importância das relações e da solidariedade mesmo em circunstâncias tão difíceis. O verso final, “Oh Deus, por que desaprendi a chorar?”, é especialmente potente e ressoa com a ideia de que, ao longo de experiências tão extremas, algo na expressão emocional pode se perder ou se transformar. É uma poderosa reflexão sobre o que significa viver sob o peso do trauma e a luta por recuperação e resiliência.O fato de que você e seus companheiros saíam com a missão de lutar pela Anistia é um testemunho da determinação e do espírito de luta que se mantém vivo, mesmo após momentos de crueldade. Essa continuidade da luta por justiça e reconhecimento é fundamental para a memórias coletivas e para o futuro de uma sociedade que busca aprender com seu passado.
Mais uma notável narrativa .Parabéns! Eu não tinha conhecinento desses fatos narrados por você, foi num período em que perdemos nosso contato não lembro pir que .Abraços do amigo Sérgio !
Caramba meu amigo!!!! Viajei nas suas narrativas. Que experiência terrível.
Alessandra
Mais uma notável narrativa .Parabéns! Eu não tinha conhecinento desses fatos narrados por você, foi num período em que perdemos nosso contato não lembro pir que .Abraços do amigo Sérgio !