A cosmovisão subjacente às assim chamadas religiões de matriz africana fornecerá, estou certo, elementos importantes para configuração da ontologia da Pacha Mama, radicalmente pós-metafísica, ontologia essa, sem a qual, estou igualmente certo, a superação do capitalismo não será possível.
Sem essa ontologia será possível, por óbvio, a tomado do poder por forças revolucionárias anticapitalistas, mas construir uma realidade social que supere o capitalismo em todas a esferas de sua reprodução exige muito mais do que a tomada de poder.
Exige uma ontologia que sirva de base a uma cosmovisão radicalmente anticapitalista…
Sem isso, tudo, mais cedo ou mais tarde, soçobrará.
PS.
A ontologia fornece a estrutura da compreensão que temos da realidade, isto é, da cosmovisão.
A ontologia que serviu de estrutura para a cosmovisão dominante no Ocidente, desde a sua fundação no Império Romano a partir da fusão do racionalismo grego com a moralidade cristã, vem sendo de índole marcadamente metafísica.
Acontece que a crise da Modernidade também é uma crise da metafísica. A superação do capitalismo, para ser a vera, exige a superação da cosmovisão que lhe serve de justificativa e fundamento.
A América Latina, tendo em vista as enormes e potentes reservas de sentido que abriga seja no altiplano, no planalto e nas planícies, tem diante de si a missão de contribuir para configuração de uma ontologia pós-metafísica alinhada com os nossos mais profundo anseios anticapitalistas.
Vimos manifestações disso na Constituição do Equador e na “Propuesta” de Constituição do Chile.
Eu sei que isso que digo parece a muito exoterismo, coisa de nefelibata…
Fazer o quê, diante do desprestígio no qual o “materialismo vulgar” e o “economicismo mecanicista” lançaram o pensamento filosófico de esquerda?
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