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Mudanças Climáticas e Consumo-José Roberto de Paiva

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 8 leitura mínima

Percebemos como a recente pandemia, que nos afetou mudou nossos hábitos, nosso comportamento.

As mudanças climáticas, que começam a se confirmar, afetarão muito mais nosso cotidiano e exigirão mudanças de hábitos e comportamentos em graus muito mais complexos.

Secas, incêndios florestais, inundações e grandes eventos meteorológicos serão a cada ano mais extremos e poderão afetar a produção agrícola, trazendo episódios de fome. Essa percepção tem que passar por aqueles que comandam os governos, que precisarão de órgãos com capacidade científica envolvidos com planejamento, que é uma coisa que deixou de existir nos últimos anos nas esferas de poder no Brasil.

Um político alinhado com as ideias de mudanças necessárias, deve principalmente buscar ações na Gestão do Lixo, desenvolvendo a compostagem caseira, comunitária e urbana, o incentivo à reciclagem, com apoio aos catadores, e o consórcio de municípios para a disposição final do lixo inaproveitável. E desenvolver ações de Educação Ambiental no ambiente escolar e na sociedade, introduzindo o conceito da necessidade de mudar o comportamento das pessoas, a cultura e diminuir o consumo de carnes. Sim, esse é um assunto que vem permeando o ambiente científico em todo o mundo.

De acordo com a análise mais abrangente já feita sobre o impacto do sistema alimentar no meio ambiente, reduções no consumo de carne no mundo todo são essenciais para evitar mudanças climáticas perigosas.

Temos hoje no mundo o incrível número de mais de 8 bilhões de seres humanos e a necessidade de alimentar tanta gente com os recursos escassos e limitados do Planeta. A energia que é usada para sustentar a Vida no nosso Planeta é a energia do Sol.

Somente os vegetais têm a capacidade de aproveitar essa energia para transformar quimicamente as substancias disponíveis em compostos orgânicos; açúcares, gorduras e aminoácidos, que são utilizados para a manutenção da Vida. Os animais, entre eles o Homem, retiram a energia de que necessitam se alimentando de vegetais ou de outros animais, que se desenvolveram alimentando-se de vegetais, que são assim a base da Vida (a partir da energia do Sol).

Vamos raciocinar em termos bem simplistas para entender essa questão; vamos pensar num sistema vivo isolado composto por gramíneas, que retiram seu alimento da Terra utilizando a energia do Sol, de gafanhotos, que se alimentam das gramíneas, sapos que comem gafanhotos, cobras, que comem sapos, e gaviões, que comem cobras e sapos.

Está claro que em tal sistema, a massa de gramíneas, expressa em gramas ou toneladas, terá de ser muito maior do que a de gafanhotos, essa maior do que a massa total dos sapos, que por sua vez tem de ser muito maior do que a de cobras ou gaviões.

A complexidade da vida com suas teias de relações de produtores e predadores e de quem come quem, é claro que é muito maior, mas o exemplo simplista acima serve para entendermos além.

O crescimento da Humanidade faz com que o consumo e a produção de alimentos aumentem muito; o aumento da riqueza do Homem, aliada a uma estagnação moral, faz com que a demanda por alimentos refinados também aumente. Ou seja, há um desejo altruísta de acabar com a fome no mundo, mas a “necessidade” de sofisticar o consumo, com produtos de apelo televisivo,embalagens que encantam, sabores novos e sofisticados, produtos enfim que ofereçam gordos lucros, é muito maior.

A distorção pode ser ainda verificada no consumidor; enquanto uma parcela da humanidade passa por desnutrição, aquela que é atingida pelo consumismo tem problemas de obesidade, que já são problemas de saúde pública em inúmeros países ricos e países emergentes como o México e o Brasil.E dentre esses produtos está a carne de boi, ovelha, porco ou o que for.

Os rebanhos desses animais no mundo chegam a ser de uma uma dimensão comparável a humanidade. A população de bovinos no nosso País chega a ser maior do que a de humanos. O rebanho é mantido alto através de métodos antinaturais, como fertilização artificial, antibióticos, hormônios, rações especiais, que fazem com que o animal se transforme em máquina de produzir carne. Tudo é feito em escala industrial para o animal crescer mais rápido e dar melhor carne. E aalimentação desse gado? Milhares de hectares de terra são semeados para gerar grãos (soja e milho principalmente), que vão fazer rações para o gado.

Ora, voltemos ao exemplo simplista acima da gramínea ao gavião. Por ele fica claro que a massa de grãos e outros vegetais gerados para alimentar uma superpopulação de gado mundo afora é muito maior do que a massa de carne que pode ser gerada. A massa de grãos e outros vegetais gerados para alimentar uma superpopulação de gado mundo afora é muito maior do que a massa de carne que pode ser gerada.

Há estudos que falam numa relação de 15 a 17 vezes. Ou seja, se a população mundial optasse por diminuir o consumo de carne, a quantidade de alimentos disponíveis para a população estaria automaticamente aumentada de cerca de 16 vezes a massa de carne que deixar de ser consumida, utilizando-se a mesma área disponível para plantação. Ou ainda, a terra necessária para produzir carne para um milhão de seres humanos, produziria alimentos vegetais para alimentar 16 milhões.

Precisamos refletir sobre os limites dessa produção para a preservação de nossas florestas, o incentivo à agricultura familiar e a manutenção do clima global.Um outro fato deriva deste: é a expansão do setor agropecuário que provoca uma pressão para a expansão da fronteira agrícola rumo às florestas e demais áreas de preservação. De acordo com a análise mais abrangente já feita sobre o impacto do sistema alimentar no meio ambiente, reduções no consumo de carne no mundo todo são essenciais para evitar mudanças climáticas perigosas.

Paul McCartney faz há anos campanhas para que as pessoas consumam menos carne elegendo um ou dois dias na semana para uma dieta sem o produto. Os milhares de jovens que participaram das manifestações contra as mudanças climáticas ao lado de Greta Thunberg pediam a diminuição do consumo. Pense nisso.

Horta de uma escola municipal, que usa composto produzido com o “lixo orgânico” da própria escola (sobras da cozinha, da merenda escolar, podas e cortes de gramados e jardim, etc.).

Graças ao trabalho dos trabalhadores que vivem do lixo, o Brasil apresenta índices de reciclagem de alguns materiais compatíveis com os índices de reciclagem é feita em alguns países desenvolvidos. O poder público deve incentivar e dar apoio e organicidade para aumentar a eficiência da atividade.

José Roberto Tavares de Paiva é físico formado pela UFRJ

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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