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Exercícios sobre tela e papel com pincel acrilex e pastel suave. Resíduo de uma tentativa de lidar com meus limites no trato do impulso figurativo. A intenção era reforçar o projeto crítico da pornotopia cibernética do excesso na superfície da web. As fronteiras do desafio da leitura das máquinas de produção estão na hipervisibilidade, na superfície da sociedade do espetáculo.
O projeto exige outras bases, dada compreendermos a intensidade e os desafios para lidarmos com a hiperexposição fetichista, em especial do corpo feminino. Tive mais êxito no trabalho digital e no reforço da metodologia de leitura no elo corpo-território no período da pandemia, convertendo desenho sobre o papel em imagem, acompanhando alguns encontros de formação em projeto de extensão, tendo em vista a conjuntura sanitária global.
Guardar telas exige espaço, mas por pior que seja o resultado, tenho dificuldade de me desfazer ou doar, por outro lado, não vejo valor mercantil nesta atividade. Este resto é parte deste esforço. Mas devo seguir com a busca dos conceitos e modos de ler, com o esforço do uso dos diagramas que desenho.
A leitura de Georges Bataille é parte deste caminho, a descoberta de André Masson foi um bônus para lidar com o limite e as intensidades da cena contemporânea. A possibilidade de encontrar um espaço para o meu “Ateliê Digital” vem no lidar criticamente com a força das capturas imagéticas sobre as pulsões, articulando as reflexões sobre “erotismo”, guerra e capitalismo. Daí surge uma possibilidade para dar um contorno mais preciso aos estudos do hiperreal virtual em 2025. Lidar com espectros, fantasmas e imagens corpos através do desenho pode ser uma ferramenta que articula estética e ética no turbilhão que líquida as fronteiras do interdito, sob formas que remetem ao processo de banalização da crueldade como modos de autofagia e brutalismo necropolitico.
Uma leitura combinada de autores como Anselm Jappe atuais e clássicos como George Bataille pode ajudar a explorar a fronteira do elo fetichismo e narcisismo, usando a possibilidade de um efeito contra-hegemônico e clínico, que se soma aos esforços de contenção da desmedida. Ao contrário de temer o jogo do mundo cabe mergulhar na disputa dos modos de desenho/escrita como parece ter sido a trajetória de Masson, sem contar os trajetos de ruptura descritos por Gilles Deleuze no seu belo livro sobre Francis Bacon.
Na corda bomba do diagnóstico de uma época que retoma o crime conduzido pelos justiceiros em nome de Deus e do Capital, temos de saber lidar com a travessia no campo de forças que liquefaz os modos de vida, acentuando os efeitos extremos do desamparo e da obsolescência da condição do sujeito humano que tem de ser reinventado, mas que aguarda sairmos do tribunal das máquinas ideológicas da verdade ficcional que nos lança nos quadros de guerra.

Pedro Claudio Cunca Bocayuva.
Professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ. Coordenador do Laboratório do Direito à Cidade e
Território. Doutor em Planejamento
Urbano e Regional.
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