A OTAN – criada em 1949, em plena Guerra Fria, um sistema de defesa militar, multinacional, composto por diversos países da Europa Ocidental – é liderada política e militarmente pelos EUA, que mantém bases militares em diversos países-membros.
Com Trump, os EUA, estão ameaçando sair da OTAN, numa manobra que tem potencial para desarranjar, pelo menos de início, um sistema de poder em vigor desde a Guerra Fria.
Em plena Guerra Fria, e bem fiel ao seu espírito, o tratado que deu origem a OTAN exigia que todos os países-membros se comprometessem com a defesa de cada deles frente a eventuais ataques vindos do Oriente europeu, já que a China naquela ocasião não representava ameaça militar real.
O objeto da OTAN, diziam, era proteger militarmente a Europa Ocidental da “ameaça comunista” representada pela URSS e seus aliados da Europa Oriental. Esses, em contrapartida, criaram em 1955 o Pacto de Varsóvia, cristalizando assim dois blocos antagônicos na Europa.
Esperava-se que, com a desintegração da URSS e com o fim do Pacto de Varsóvia que se lhe seguiu, a OTAN, devido a falta de inimigo que justificasse a sua existência, também viesse a ter um fim.
Mas não foi isso que se viu…
O poderosíssimo complexo industrial-militar e a enorme burocracia anexa tinham na OTAN um eficaz mecanismo de transferência de renda e de criação de valor em seu favor.
Para garantir a continuidade desse estado de coisas, a OTAN precisava continuar existindo, o que exigia a criação de um inimigo, mesmo que fictício. Esse inimigo, mesmo que por atavismo, não poderia ser outro senão a Rússia – o que explica o fato de as tratativas para o ingresso dos russos na OTAN, como era a intenção publicamente manifestada por Boris Yeltsin, nunca terem ido adiante.
Também pudera, com a Rússia na OTAN, essa perderia imediatamente o sentido de existir, contrariando interesses muito poderosos.
Assim, o clima de Guerra Fria, ainda que mitigado, precisava continuar para que o complexo industrial-militar e a burocracia anexa continuassem se beneficiando à larga.
Soma-se a isso a intenção do capital monopolista europeu e estadunidense em dar continuidade ao processo de desintegração estatal iniciado com a fragmentação da URSS.
A atual Rússia é ainda uma federação, composta por diversas nacionalidades, que ao capital monopolista europeu e estadunidense interessa desintegrar.
A aposta de todos esses interesses conjugados, sob a liderança do Partido Democrata dos EUA, supunha que, ao forçar a Rússia a uma guerra na Ucrânia, bloquear seus bens no exterior e promover sanções econômicas severas, tudo isso somado a uma excitação fabricada nas diversas nacionalidades da Federação russa, iriam tornar a situação interna da Rússia um caos, facilitando a almejada desintegração daquele país.
Mas não foi o que aconteceu…
A Rússia conseguiu atravessar intacta em sua integridade federal e a sua economia não colapsou frente aos bloqueios e sanções.
Com a vitória dos Republicanos contra os Democratas, em 2024, a situação sofre uma importante mudança. Para os interesses políticos e econômicos estadunidenses liderados por Trump, o problema não está no Atlântico (com a falsa ameaça russa) e sim no Pacífico (com a real ameaça chinesa).
![]()