André Masson- a arte que desafia o presente-Cunca Bocayuva

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André Masson (1896-1987) com sua pintura de enorme radicalidade que pode incomodar o olhar acomodado e o senso comum, aquele olhar que paradoxalmente goza com o punitivismo, a tortura e a morte do outro, do “matavel” em nome de algum tipo de moralismo perverso. André Masson foi, ao mesmo tempo, próximo do anarquismo e do surrealismo, um artista desafiador nos temas e nos traços. Creio ser uma referência estética essencial para um olhar sobre a crueldade, num mundo hipócrita e bélico, que não olha de frente os desastres da guerra e da violência do capitaloceno. Um mundo indiferente ou que apoia o que acontece em Gaza. Um artista que vai fundo no registro da alma dilacerada e no corpo ferido, como fizeram os antifascistas, ou mesmo desde Goya até Bacon, na chave de entender o excesso e brutalidade, e a complexidade do desejo, da vontade e da paixão que nos atravessam. Certamente não é um artista adequado para o mundo corporativo, mas certamente vale muito para os que desejamos entender o inconsciente coletivo. As retrospectivas de 2024 permitiram que sua obra fosse revalorizada, reabrindo um olhar profundo sobre a longa cena contemporânea, com as tensões entre Eros e Tânatos decisivas ao longo da história. Uma obra de arte que se projeta para educar nossa sensibilidade e capacidade crítica para entender o jogo e a errância do mundo num planeta que arde.

Pedro Claudio Cunca Bocayuva.
Professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ. Coordenador do Laboratório do Direito à Cidade e
Território. Doutor em Planejamento
Urbano e Regional.