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Emancipe-se: Dominando o Método Dialético-Científico-Clifford Neves Pinto

arlindenor pedro
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Emancipe-se: Dominando o Método Dialético-Científico-um ensaio de Clifford Neves Pinto

1. Por onde começar: Além da Superfície

O conhecimento inicial, a experiência primeira sobre o objeto investigado é como um iceberg. A ponta visível, a que todos têm acesso imediato, é a aparência do objeto – importante, mas apenas a porta de entrada. A verdadeira jornada intelectual começa quando mergulhamos nas profundezas para desvendar a essência: a estrutura lógica e a dinâmica real que governam o objeto de estudo. Este é o cerne do pensamento científico e dialético.

 Portanto, é crucial entender:

• Um método de pesquisa que se contenta com a aparência, sem buscar a essência, é não-dialético e não-científico.

• Um método de pesquisa que nega a possibilidade de capturar a estrutura lógica e a dinâmica real do objeto também o é.

• Conclui-se: equiparar aparência à essência é um caminho seguro para distorcer a realidade. É criar recortes convenientes que negam a totalidade do objeto, abrindo as portas para o relativismo, as “pós-verdades”, as fakenews e as teorias da conspiração (como a Terra plana).

Toda ciência será supérflua se a forma de manifestação [a aparência] e a essência    das coisas coincidirem imediatamente.”

(Marx, 1974b, p. 939, apud Netto, 2011 )

Verdade Objetiva: Não é uma questão de opinião

A verdade objetiva existe, quer acreditemos nela ou não. Ela é o alicerce da ação prática:

• Você pode duvidar da gravidade, mas ela continuará a puxá-lo para o centro da Terra.

• Você pode acreditar que a Terra é plana, mas a curvatura do planeta será evidente para qualquer um que observe as estrelas de diferentes latitudes.

• Você pode negar a existência de classes sociais, mas a realidade de que alguns possuem os meios de produção e outros devem vender sua força de trabalho para sobreviver permanece uma verdade estrutural.

Outras Formas de Conhecer: Válidas, mas Insuficientes

A arte, a religião e o conhecimento empírico cotidiano são fontes poderosas de insight, mas não revelam a essência teórica dos objetos.

• Artes: Machado de Assis e Monteiro Lobato, em suas obras, capturam brilhantemente a divisão de classes em sua época, mostrando uma sociedade onde uns trabalham e outros usufruem.

• Religião: As cosmogonias – da Grécia Antiga (Caos, Nix, Gaia), do Gênesis judaico-cristão (“No princípio…”) ou do Tupi-Guarani (Tupã) – oferecem explicações mitológicas e profundas sobre a origem de tudo.

• Empírico Cotidiano: Ditados como – “neblina que baixa, sol que racha” – ou – “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco” – são saberes notórios baseados na observação repetida.

 Estes conhecimentos possuem validade social – moldam culturas e crenças – mas não equivalem ao conhecimento científico da essência.

 Do Complexo ao Simples: A Chave para a Compreensão

Um pilar fundamental do método dialético é que não se alcança o complexo a partir do simples. Pelo contrário, é o complexo que nos permite entender verdadeiramente o simples.

• A Teoria da Relatividade Geral de Einstein explica e contém a gravitação de Newton, e não o contrário.

• A anatomia humana, mais complexa, nos permite entender as limitações da anatomia do macaco (como a impossibilidade do movimento de pinçar com o polegar).

Desvendando a Realidade: Do Empírico ao Concreto

Vejamos dois exemplos que contrastam o conhecimento superficial com a realidade concreta:

a) A Poda das Árvores:

• Empírico: “Pode em meses sem a letra ‘R’.”

• Concreto: A poda deve ser feita em meses de baixa pluviosidade e inverno, quando o fluxo de seiva é reduzido, preservando a energia da árvore. (Os meses sem “R” no sudeste coincidem com essa época, daí a regra popular funcionar, mas por uma razão errada).

 b) A Austeridade Fiscal:

• Empírico/Pós-Verdade: “Austeridade fiscal promove crescimento econômico e investimento privado reduz a pobreza.”

• Concreto: A austeridade é uma falácia perigosa. Na prática:

◦ Curto Prazo: Amplia pobreza e desigualdade.

◦ Médio Prazo: Gera déficit fiscal e recessão, agravando a crise social.

◦ Exemplo Concreto: A Crise Grega (2010-2017) é um monumento aos seus fracassos: desemprego massivo (22.5%), cortes salariais, aposentadorias miseráveis e colapso nos serviços públicos de saúde e educação.

A verdade objetiva é que o investimento público estratégico, não a austeridade, impulsiona o desenvolvimento, como provam o New Deal estadunidense nos anos 1930 e a política econômica atual da China.

2. O Método em Ação: A Ontologia do Ser

O método dialético-científico é de natureza ontológica: ele quer descobrir o Ser da Coisa. Seu lema, na concepção de Lenin, é “análise concreta de uma situação concreta”, não abstrações vazias. Dessa análise nasce a Teoria.

O que é a Teoria?

É a reprodução ideal, no pensamento do pesquisador, da estrutura e dinâmica real do objeto. Como disse Marx, “

“o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ele interpretado.”

 A teoria não é um retrato estático nem uma mera compilação de dados. Ela é um processo dinâmico que:

– Parte da empiria (a observação).

-Elabora mediações e abstrações (categorias analíticas).

– Sintetiza essas categorias para reproduzir idealmente a dinâmica real do objeto.

Quanto mais fiel for essa reprodução, mais verdadeira é a teoria. É assim que a Relatividade Geral explica o cosmos e que a crítica da economia política desvenda o capitalismo – mostrando como o lucro deriva da exploração do trabalho, uma verdade frequentemente mascarada por complexos mecanismos financeiros e contábeis alicerçados na ideologia capitalista.

3. Conclusão: A Jornada do Ser Humano

A teoria é, em última análise, a busca incansável por reproduzir em pensamento o movimento real do mundo.

E o Ser Humano não é um espectador passivo. Para desvendar a riqueza de um objeto, ele próprio deve ser rico: em cultura, em conhecimento intelectual, científico e filosófico. A emancipação pelo conhecimento não é um dom; é uma conquista que exige estudo, reflexão, debate e um compromisso inflexível com a verdade objetiva.

A riqueza do objeto investigado só é revelada àquele que investe em sua própria riqueza intelectual.


Obs : A elaboração da breve reflexão advêm de leituras de textos e de videoaulas presentes na seguinte bibliografia:

 Bibliografia

NETTO, J. P., Introdução ao método de Marx. PPGPS/SER/UnB, 19 abr. 2016. Disponíveis em: Parte I e Parte II. Acessado em: 01 set. 2025.

NETTO, J. P., Introdução ao estudo do método de Marx, 1a edição, Editora Expressão Popular, São Paulo, 2011.

DANTAS, G. e TONELO, I., O Método em Marx: Antologia, Edições Iskra/Centelha Cultural, 2016.

BARATA-MOURA, J., Dialéctica Marxista, Editorial Avante, Lisboa, 2010.

MARTINS, L. M. e LAVOURA, T. N. , Materialismo histórico-dialético: contributos para a investigação em educação, Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 71, p. 223-239, set./out. 2018.

Disponível em: DOI:https://doi.org/10.1590/0104-4060.59428. Acessado em: 01 set. 2025.

DUAYER, M., Marx e a crítica ontológica da sociedade capitalista: crítica do trabalho}, Revista EM PAUTA, Rio de Janeiro, n. 29, v. 10, p. 35-47, 1o. Semestre de 2012. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.12957/rep.2012.3880Acessado em: 01 set. 2025.

DUAYER, M.; ESCURRA, M. F.; SIQUEIRA, A. V., A ontologia de Lukács e a restauração da crítica ontológica em Marx, R. Katál., Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 17-25, jan./jun. 2013. Disponível em:  https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4481170. Acessado em: 01 set. 2025.

LUKÁCS, G., Ontologia do ser social. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx}. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Livraria Ciências Humanas, 1979b.

CHASIN, J., Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo, 2009.

COUTINHO, C. N., O estruturalismo e a miséria da razão, 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

KOSIK, K., Dialética do concreto, 2. ed., 6. reimpr. Tradução Célia Neves e Alderico Toríbio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

BACHELARD, G., A formação do espírito científico, 1a edição, editora Contraponto, Rio de Janeiro, 1996.

Clifford Neves Pinto é Professor associado- Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ).Faculdade de Tecnologia (FAT) – Campus Regional de Resende-Rodovia Presidente Dutra km 298 (sentido RJ-SP) – Pólo Industrial Resende/RJ 
Cep: 27.537-000-Orcid ID: https://orcid.org/0000-0001-8390-9882

 

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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