Receba regularmente nossas publicações e assista nossos vídeos assinando com seu e-mail em utopiasposcapitalistas.Não esqueça de confirmar a assinatura na sua caixa de mensagens
Silvio Ribeiro de Castro interpreta Manoel Bandeira
FELICIDADE
‘A doce tarde morre. E tão mansa ela esmorece Tão lentamente no céu de prece, Que assim parece, toda repouso, Como um suspiro de extinto gozo De uma profunda, longa esperança Que, enfim cumprida, morre, descansa.
E enquanto a mansa tarde agoniza, Por entre a névoa fria do mar Toda minh’alma foge na brisa Tenho vontade de me matar!
Oh, ter vontade de se matar…
Bem sei é coisa que não se diz. Que mais a vida pode me dar? Sou tão feliz!
— Vem, noite mansa…’
POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE
‘Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação. Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite. Então me levantei. Bebi o café que eu mesmo preparei. Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando… — Humildemente
pensando na vida e nas mulheres que amei.’
MANUEL BANDEIRA, na Coletânea ‘Literatura Comentada’, 1981.

Manuel Bandeira — O Poeta do Despojamento e da Liberdade Interior
Manuel Bandeira (1886–1968) foi um dos poetas que melhor expressou a transição do Brasil para a modernidade. Nascido no Recife e marcado desde cedo pela tuberculose, transformou o isolamento e a fragilidade física em matéria de reflexão e poesia. “Fui um poeta a contragosto da vida prática”, dizia, frase que traduz sua recusa do mundo utilitário e sua aposta na sensibilidade como forma de resistência.
Mesmo sem participar da Semana de 1922, Bandeira antecipou o espírito modernista. Rompeu com o academicismo e aproximou a poesia da fala cotidiana, buscando o essencial nas pequenas coisas, como o bonde, a vizinha e o quintal. Por isso, Mário de Andrade o chamou de “modernista antes do Modernismo”.
Desde A cinza das horas (1917) até Libertinagem (1930), construiu uma obra marcada pela simplicidade e pela profundidade. Em Vou-me embora pra Pasárgada, criou uma das mais belas utopias literárias do país: um lugar imaginário onde a vida é livre e plena. Mais que fuga, “Pasárgada” é uma recusa poética à racionalidade fria do mundo moderno.
Nos livros posteriores, como Estrela da manhã e Lira dos cinquent’anos, Bandeira buscou serenidade diante da morte e beleza nas pequenas resistências da vida. Sua poesia é leve, irônica e humana, uma pedagogia da simplicidade num tempo dominado pela pressa e pela mercadoria.
Poeta do despojamento, fez da limitação uma forma de liberdade. Sua obra lembra que “a vida inteira que podia ter sido e que não foi” ainda pulsa como promessa, não como lamento, mas como esperança.

Silvio Ribeiro de Castro é declamador,poeta, compositor e gosta de ser conhecido como um “ contador de histórias” . Publica regularmente para este blogue na sua coluna, na nossa Home.
![]()