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Chacina no Rio:Por quê, para quê?-Luiz Carlos de Oliveira e Silva

arlindenor pedro
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Neste vídeo, o prof. Luiz Carlos de Oliveira e Silva quer lançar luz acerca dos objetivos da ação de 28 de outubro do governo do Rio de Janeiro, já que todos sabemos que esse tipo de ação é ineficaz para derrotar – ou mesmo enfraquecer – o assim chamado “crime organizado”?”.
É a política, estúpido!, seria a resposta para a pergunta acerca dos objetivos da operação de ontem.

Olá, eu sou Luiz Carlos de Oliveira e Silva e estou gravando este vídeo no dia 29 de outubro de 2025, no dia seguinte à chacina que vitimou mais de 100 pessoas aqui na cidade do Rio de Janeiro.

Este vídeo quer lançar luz acerca dos objetivos que procurou atingir a ação de ontem do governo do Rio de Janeiro, já que todos sabemos que esse tipo de ação é ineficaz para derrotar – ou mesmo enfraquecer – o assim chamado “crime organizado”?”.

É a política, estúpido!, seria a resposta para a pergunta sobre os objetivos da operação de ontem…

Portanto, não se trata de derrotar – ou mesmo de enfraquecer – o “crime organizado”, mas, isso sim, de reafirmar o projeto de poder da extrema-direita como a única saída para a “violência dos bandidos”, bandidos esses protegidos pela esquerda, como dizem.

É disso que se trata!

A ação de ontem, como disse o governador do Estado, foi muito bem planejada…

Ficou claro que ela foi feita de modo a, deliberadamente, (1) produzir uma chacina, (2) envolver toda a cidade na ação, (3) tirar a extrema-direita das cordas, (4) associar a operação com as ações de Trump no mar do Caribe e do Pacífico, e, repito, (5) reafirmar o projeto de poder da extrema-direita que não é outro senão o de instaurar no país um Estado totalitário, entreguista, neoliberal e reacionário até a medula.

A operação de ontem faz sentido à luz desse projeto de poder…

Ponto 1 (Porque é importante produzir uma chacina)

Ao produzir uma chacina, a extrema-direita propagandeia na prática, ainda que sub-repticiamente, a ideia ainda inconfessada de que no atual estágio do capitalismo não há espaço para todos.

A necessidade da produção da morte em escala como política de Estado foi o que permeou as ações da extrema-direita na pandemia da Covid-19, no Brasil e mundo afora, lembram?

Essa tese macabra de que no atual estágio do capitalismo não há espaço para todos e que, portanto, é preciso fazer alguma coisa a respeito, antes que seja tarde, nessa tese macabra reside o fundamento mesmo do ideário da extrema-direita.

A produção da morte como política, é disso que se trata. Não tenhamos dúvidas quanto a isso… Não podemos nos dar a esse luxo.

A produção da morte como política esteve presente na operação de ontem tanto como economia – não há espaço para todos –, quanto como ideologia, uma ação ideológica para convencer as pessoas que só com um Estado violento se pode combater a violência.

Para a extrema-direita, quanto mais violência – seja a dos bandidos, seja a do Estado – melhor… Basta ver o carnaval que a mídia de extrema-direita está fazendo com os acontecimentos de ontem, tentando capitalizar politicamente a chacina.

A violência política, a produção da morte como política e a propaganda do Estado totalitário sempre estão juntas nas ações da extrema-direita. Foi o que vimos, mais uma vez, ontem aqui no Rio de Janeiro…

Ponto 2 (Porque era importante envolver toda a cidade na ação)

A ação de ontem foi feita para mobilizar toda a cidade, não apenas as comunidades sob o ataque das forças do Estado, como costuma acontecer.

Ontem aconteceu um salto de qualidade: o Centro da cidade, por exemplo, onde moro, às 16 horas parecia um domingo, com tudo fechado.

Era importante para o projeto de poder da extrema-direita que toda a cidade vivesse uma experiência coletiva, na qual o Estado sob a direção da extrema-direita aparecesse como o defensor da cidadania, empregando a única linguagem que os bandidos entendem, que é a violência.

Contra a violência dos bandidos, a violência do Estado, e só ela, e não os “direitos humanos”, como quer a esquerda: esse é o quadro que a extrema-direita não perde oportunidade de afirmar, capitalizando, a seu favor, o medo das pessoas.

Por isso, era importantíssimo que a operação de ontem produzisse uma experiência coletiva, ao mesmo potencializando o medo das pessoas e apresentando a violência estatal como a única saída.

Isso nos leva ao ponto 3: tirar a extrema-direita das cordas.

A reação do “sistema” à tentativa de golpe bolsonarista e as atitudes de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos levaram, não há como negar, me parece, a extrema-direita às cordas. Eles precisavam, portanto, fazer alguma coisa para reverter o quadro, sobretudo agora quando ficou claro que as movimentações pela anistia se esvaziaram e que as sanções de Trump contra o país podem não produzir os efeitos esperados.

As ações de ontem visam também tirar a tentativa de golpe bolsonarista do centro do debate, para colocar no centro do debate uma pauta na qual a extrema-direita nada de braçada, que é a pauta da assim chamada “violência urbana”.

Eles nadam de braçada nessa pauta porque são os mestres do cinismo, da demagogia e da exacerbação e da manipulação do sentimento de medo das pessoas.

Eles exploram ao máximo o medo, e se apresentam como os únicos capazes de resolver o problema da violência, porque, dizem, só com a violência do Estado se pode vencer a violência dos bandidos.

Essa demagogia, apesar de simplória, é muito eficiente, sobretudo em situações de medo exacerbado. Portanto, eles não vão perder ocasião de exacerbar o medo das pessoas… Foi o que vimos ontem…

O quarto ponto aponta para uma novidade, uma terrível novidade, que está sendo a tentativa de associação das ações de ontem no Rio com as ações criminosas de Trump no mar do Caribe e do Pacífico, contra embarcações venezuelanas e colombianas.

Vi próceres da extrema-direita falando hoje em “narcoterrorismo”, para se referir ao que até então a mídia chamava de “crime organizado”.

Ao invés de “crime organizado” teremos, doravante, “narcoterrorismo”? Pois é…

Se isso se consolidar, teríamos aqui um tremendo salto de qualidade na política da extrema-direita, abrindo campo para uma intromissão militar, aberta, dos Estados Unidos em solo brasileiro.

A tese do “narcoterrorismo” busca, não tenhamos dúvidas quanto a isso, legitimar uma intromissão militar, aberta, dos Estados Unidos em solo brasileiro. É isso o que dá sentido à fala aparentemente estapafúrdia de Flávio Bolsonaro, quando sugeriu o bombardeamento por parte dos Estados Unidos de barcos na Baía de Guanabara.

A fala de Flávio Bolsonaro, a tese do “narcoterrorismo” e a operação de ontem são faces um único e mesmo poliedro, poliedro que não é outra coisa senão o projeto de poder da extrema-direita.

Como disse o governador do Rio, a operação de ontem foi muito bem planejada…

Aqui chegamos ao quinto ponto: o projeto de poder da extrema-direita. É esse projeto de poder que dá sentido a tudo o que aconteceu ontem e aos desdobramentos que a extrema-direita vem se empenhando em produzir a partir dos acontecimentos ontem.

Como venho dizendo aqui há tempos, o projeto de poder da extrema-direita é o de implantar no país um Estado totalitário. Por enquanto, esse projeto de poder não unifica a burguesia, mas até quando? Até quando ficar claro que, no capitalismo atual, não há espaço para todos?

Que as forças progressistas se preparem para o pior…

Se enganam aqueles que acham que, com a prisão de Bolsonaro e de seus cúmplices, o projeto de poder da extrema-direita foi derrotado.

Repito: que as forças progressistas se preparem para o pior…

Luiz Carlos de Oliveira e Silva,é filósofo, carioca da Vila da Penha ,morador do centro do Rio de Janeiro e botafoguense escrachado.

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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