Itaci Batista vive o seu momento de Street Photography . A megalópoles São Paulo com sua fome de almas consome suas entranhas, obrigando – o a devolver aquilo que viu e sentiu através de suas incríveis fotos monocromáticas – com nuances que impedem dizer o que é preto ou o que é branco .
Com a prevalência de uma única cor, com seus variados degraus de ordenação, a junção dos tons se espalham , tornando impossível dizer o que domina – a não ser a luz que explode nos pequenos detalhes .
À exemplo de outros artistas de rua, parece que o meu amigo finalmente sucumbiu à força da cidade. Volta e meia sinto – o errante pelas ruas, em movimentos de deriva que me lembram os situacionistas – poetas libertários parisienses da década de 60!
A cidade inebria ! Sampa sabe fazer isto melhor do que qualquer uma outra (como faz com seus grafiteiros, malabaristas, pintores, cantores, etc ). O fotógrafo de rua deriva por suas vertentes, registrando e marcando com sua arte os seres que pulsam em seus momentos de vida, tendo a cidade como moldura .
Enganam -se os que pensam que podem entender ou mesmo dominar esta cidade . No máximo podem fazer como os artistas : retrata – la nos seus indescritíveis contrastes, seguindo a máxima do mestre : ” fotografo apenas , pois para mim isto é um estado de espírito!”.
E, nesse sentido , a prática da Street Photo, nos mostrando de forma casual, sem poses e sem produção, com os seus personagens no seu estágio mais primitivo, nos comove, nos toca, e nos dá a esperança de um dia, quem sabe, poder decifrá-la?
Como num exercício de tai-chi-chuam, onde os movimentos comandam quem os pratica, a cidade vai dominando a todos, num processo avassalador da vida não-vivida, do consumo incessante de uma grande cidade contemporânea .
Na verdade, todos, fotógrafos ou fotografados , fazem parte do mesmo processo : o processo de domínio total da Matrix, do espetáculo que não visa chegar a nada, mas simplesmente se realizar no mundo realmente invertido, onde o verdadeiro é um momento do falso !
Serra da Mantiqueira , fevereiro de 2016
Arlindenor Pedro
Itaci Carlos Sá Pinto Batista é carioca e viveu até a adolescência no Grajaú , bairro do Rio, nos anos dourados .
Iniciou-se na fotografia profissional em 1965 no fotojornalismo na Bloch Editores. Em 1972 mudou-se para Paris onde residiu durante cinco anos trabalhando na fotografia de moda e ilustrativa para grandes publicações .
Retornou a São Paulo em 1977 e trabalhou para os editores brasileiros, publicando inúmeras matérias de moda em diversas revistas. Em 1979 fez uma breve passagem por Nova York com algumas publicações. Em 1980 residiu em Munique onde publicou na Vogue alemã, Eltern e catálogos de moda. No mesmo ano, de volta a São Paulo, deu continuidade na fotografia editorial.
Em 2001/2003, já tendo deixado a fotografia de moda, publicou dois livros de “Fine Art Photography” com imagens em preto e branco, Insights e Mutações . Em 2008 participou da Segunda Bienal de Fotojornalismo da cidade do México, com oito fotografias do ensaio Guerreiros do Viaduto, o boxe embaixo do viaduto do café no Bixiga.
“Eu hoje sou um apaixonado pela fotografia de street e estou totalmente tomado por ela . Nela, o meu foco é o ser humano , o habitante da cidade . O trabalho de Henri Cartier Bresson, Robert Doisneu E Robert Capa me encantam e me ensinaram . Uma fotografia que não voltará a acontecer jamais, é a base, a iniciação do street que se chamava apenas fotografia. Estes sim são os grandes mestres !” , nos fala Itaci sobre esta nova fase da sua vida na área fotográfica .
Suas fotos podem ser vistas no youtube nos vídeos Keep Moving On – Parte I e II e Guerreiros do Viaduto e também no http://www.itacibatista/flickr.com.
“A fotografia é um estado de espírito”, repete Itaci Batista .
Street Photo ou Snapshots é uma ramificação da fotografia que deve ser buscada individualmente. Cada fotógrafo tem a sua visão e expressão, não existe fórmula nem modismo.