Impressões da catástrofe através do olhar da Crítica do Valor-Dissociação
Sobre o Seminário
O Seminário Pesquisas Sobre um Colapso Anunciado pretende reunir pesquisadores e estudiosos que dialoguem com a perspectiva teórica da “crítica do valor-dissociação”, em especial os interessados que já contam com interpretações relativamente avançadas em relação ao tema. A proposta de realização do Seminário ocorre no momento que as circunstâncias da pandemia de COVID-19 confinam os participantes dos grupos de estudos, forçando sua realização por videoconferências. Para os proponentes do Seminário, a possibilidade das videoconferências não é percebida como oportunidade desejável, nem como lado bom da catástrofe. Estes grupos de estudos visam manter suas atividades diante da impossibilidade do encontro sem a mediação eletrônica que altera a percepção e exclui os que não têm condições de conexão. Trata-se, portanto, de tirar consequências de uma experiência à qual estamos sujeitados, na continuidade do debate sobre a interpretação já anunciada do momento que vivemos como o do colapso da modernização em suas particularidades atuais. A proposta é realizar este Seminário periodicamente, enquanto estivermos submetidos ao confinamento imposto pela pandemia.
Este colapso vem sendo estudado no Brasil desde 1992, ano de publicação do primeiro livro de Kurz. Temos consciência de que o debate sobre a crise do trabalho é muito mais amplo do que seus desdobramentos de pesquisa, os quais pretendemos tematizar neste Seminário. Um primeiro grupo de estudos do livro foi formado já no ano de 1993, coordenado pelo professor Heinz Dieter Heidemann no Laboratório de Geografia Urbana (LABUR) do DG-FFLCH-USP. Observe-se que o LABUR tem uma vasta experiência de formação de grupos de estudos, não sendo em nenhum sentido uma prática exclusiva dos leitores da obra de Robert Kurz. São, no entanto, vinte e sete anos de aprofundamento em que dezenas de estudantes e professores envolveram-se com esta estratégia voltada à leitura cuidadosa e ao debate aberto.
Estes grupos desdobraram-se em grupos de pesquisa. Esta é mais uma das questões contraditórias que o Seminário pretende abordar. Temos em nossa memória de debate com Kurz, em sua forma caracteristicamente direta de fazer as críticas, a pergunta sobre a possibilidade de produzir teoria crítica na Universidade. Esta pergunta nos faz problematizar criticamente nossas práticas de reprodução: sabemos que a autonomia da Universidade (e da pesquisa) precisa ser revelada como autonomização, um fetiche a ser desnaturalizado. Propomos, portanto, abrir o debate para além do LABUR e até da universidade, primando pelo olhar sobre os processos de pesquisa e investigação, e não somente sobre a exibição de resultados.
Resta ainda colocar uma questão pertinente às preocupações da Geografia, mas que não se restringem a este campo de conhecimento. A tese central de O colapso da modernização, de Kurz, foi apresentada com especial atenção às particularidades da modernização que levaram ao fim do “socialismo real” na URSS. Afinal, tratava-se de mostrar esta crise como forma de manifestação de um colapso da totalidade do capital, mediada por mercadorias e dinheiro. A totalidade, assim apresentada, concretiza-se pela mediação de dinheiro e mercadoria como abstração real, que ocorre independentemente da perspectiva teórica dos pesquisadores. O trabalho concreto do pesquisador permite que estas formas de manifestação da totalidade sejam ou não consideradas nas pesquisas como empiricamente significantes; não sendo, são abstraídas da apresentação do problema.
Sugerimos que a forma das particularidades entre os contextos territoriais dominados pela totalidade capitalista foi sendo reelaborada pela crítica de Kurz, manifestando-se a cada novo ensaio publicado desde O colapso da modernização e permanecendo ainda tematizada em seu último livro, Dinheiro sem valor. Roswitha Scholz problematiza diretamente a questão das particularidades em seus textos. Esta sugestão exige dos pesquisadores (e de todos os que pretendem elaborar a experiência de sofrimento destes tempos de colapso anunciado) uma estratégia de apresentação da totalidade sem que as particularidades sejam abstraídas, e em especial tomando as relações de dissociação como momento necessário à reprodução das condições reais deste contexto crítico. Neste sentido, a consideração da imposição das relações mediadas por mercadoria e dinheiro não resultam em um processo de homogeneização, mas em transformações particulares de seus contextos. Vistas deste modo, as relações de valor e dissociação se territorializam em formas particulares pressupostas em sentido histórico, sem deixar de implicar a sua relação com a lógica inerente ao capital que impõe cegamente o colapso, sem reduzir diferenças, mas agravando seu aspecto de violência fetichista.
Os Vídeos
Abertura
Abertura – Territorialização do capital e colapso da modernização: pode-se fazer crítica radical na pesquisa acadêmica? (Carlos de Almeida Toledo)
Primeiro Ciclo
Primeiro Ciclo – O crescimento e a crise da economia brasileira do século XXI como crise da sociedade do trabalho (Fábio Teixeira Pitta)
Primeiro Ciclo – O eclipse do progressismo brasileiro: mapa ideológico da crise (Felipe Catalani)
Primeiro Ciclo – O fim da gestão da barbárie e as novas formas de (i)mediação (Marildo Menegat)
Segundo Ciclo
Segundo Ciclo – Territorialização do capital: do escravismo e controle das terras diamantíferas ao escravo de ganho como síntese da propriedade privada primitiva (Carlos de A. Toledo)
Terceiro Ciclo
Terceiro Ciclo – Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência (Allan R. C. Silva)
Terceiro Ciclo – Capitalismo em quarentena (Clément Homs e Gabriel Zacarias)
Quarto Ciclo
Quarto Ciclo – Condição periférica e o devir-periferia do mundo na crise do capital (Thiago Canettieri)
Quinto Ciclo
Quinto Ciclo – A reprodução da periferia no colapso da modernização(Daniel M. Giavarotti)
Quinto Ciclo – A crítica do valor-dissociação no estudo do colonato do oeste paulista (Cássio A. Boechat)
Quinto Ciclo – A expansão da disponibilidade do crédito PRONAF às comunidades quilombolas do Vale do Ribeira/SP como expressão da crise imanente do capital (Cecília C. Vecina)
Sexto Ciclo
Sexto Ciclo – Subjetividade sem valor: a subjetividade do capital(Fernando Gastal)
Sexto Ciclo – Reflexões sobre as novas leituras de Marx: a teoria crítica como um conhecimento não-identitário (Alfonso Vela)
Sexto Ciclo – Fenomenologia do anti-Espírito (Jordi Maiso)
Sexto Ciclo – O homem sem qualidades à espera de Godot: a forma-sujeito e a tautologia do vazio (Robson de Oliveira)
Sétimo Ciclo
Sétimo Ciclo – O princípio do usufruto direto/gratuidade: por uma viragem aos valores de uso (Daniel Feldmann)
Sétimo Ciclo – O colapso do capital e a crise da luta social a partir das transformações do MST (Ana Elisa Corrêa)
Sétimo Ciclo – Por um movimento transnacional emancipatório: para a ruptura com o moderno sistema fetichista patriarcal produtor de mercadorias. Para gestar a emancipação humana, ambiental e o segundo devir humano (Jorge Paiva)
Oitavo Ciclo
Oitavo Ciclo – Um estudo sobre Os Sertões, de Euclides da Cunha(Caio Esquioga)
Oitavo Ciclo – Um estudo sobre a configuração trágica do romance Essa Terra (Renata Rente)
Oitavo Ciclo – Figurações arquetípicas do asselvajamento do patriarcado em Eles não usam black-tie e Os Inquilinos (Luciana Niro)
Oitavo Ciclo – Macunaíma e a modernidade: a reificação das transformações do herói (Pedro Naletto)
Oitavo Ciclo – Complexo, moderno, tropical e negativo: notas sobre “Verdade Tropical” e indústria cultural (Rafael Florêncio)
Debate
Debate sobre o livro – A sociedade autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição (Anselm Jappe)
Palestra
Palestra – As periferias de São Paulo: do “desenvolvimento desigual e combinado à “desconstrução realmente existente” (Daniel M. Giavarotti)
Debate
Debate sobre o ensaio – A guerra não tem paz: notas para uma crítica categorial da guerra (Marildo Menegat)
Debate
Debate sobre o ensaio – A pandemia na crise fundamental do capital(Fábio T. Pitta)
Debate
Debate sobre o texto – A fronteira da territorialização do capital(Carlos de A. Toledo)
Debate sobre o texto – O abismo da modernização não possui estrelas: sobre “as formas mais estranhadas do capital”, a guerra e o mecanismo sonambular que move o sujeito (Marildo Menegat)
11 Ciclo
11º Ciclo – O MST e o colapso da modernização (Ana Elisa Corrêa)
11º Ciclo – Brasil-catástrofe: Constelações da destruição que estamos vivendo (Thiago Canettieri)
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