Os companheiros em fila,
os guardas que aguardavam.
No ar um grande silêncio- minutos que foram séculos.
(tanta coisa pra dizer!)
Na garganta um nó – a respiração ofegante,
o coração disparando.
Olhei – os, um a um.
A mente repassava os momentos,
os sonhos, os papos nas celas.
Chegara a minha vez.
Como outros, iria partir.
No íntimo a tristeza ( ou seria alegria ?).
Falei palavras que já não recordo:
trêmulo abracei a todos.
Minhas mãos seguravam as sacolas.
Transpus, então, as portas do “convívio”.
Lá fora novos rostos;
os amigos, os entes queridos.
Voltei os olhos para trás .
Das grades, mãos me acenavam.
Oh Deus, por que desaprendi a chorar?
Presídio Político de Bangu, 13 de fevereiro de 1976
Arlindenor Pedro