Passados mais de cinqüenta anos da queda do governo de João Goulart e a tomada do poder por uma ditadura militar , que durou cerca de vinte anos , o Brasil ainda não conseguiu fechar totalmente as chagas abertas neste período- as lembranças destes anos de terror ainda assombram os brasileiros !
Lentamente estamos fazemos a catarse do que ocorreu , seja através de documentos, em livros, em filmes , palestras ou mesmo com o estabelecimento de uma comissão especial : a Comissão da Verdade, e suas congéneres nos estados, que estão garimpando os inúmeros episódios de desrespeitos aos direitos humanos efetuados pelos militares que estavam no poder ,procurando fazer um inventário oficial deste triste momento da nossa história .
É claro que tal empreitada não é fácil : afinal, um mesmo evento pode ter diversas interpretações, dependendo do ponto de vista do observador ou mesmo do participante.
Vemos, então, por força do tempo que passou, o desfilar das mais variadas análises e mesmo comportamentos , que passam desde a justificativas de personagens que tiveram importantes papéis neste período , de um lado ou de outro , até mesmo a auto crítica de órgãos da imprensa.
Dentre os inúmeros depoimentos sobre o assunto, gostaria de trazer até vocês, o de uma simples mulher : a hoje professora de história , mãe e avó, que na época, muito jovem , com cerca de 13 anos , foi arrastada para a luta clandestina , sofrendo por isso, os golpes implacáveis de um regime que não tolerava oposição .
Através do vídeo que apresento a seguir , na visão de Luiz Fernando Sarmento , fazemos um mergulho no tempo, e , através do relato de Fátima Setúbal, tomamos conhecimento, pela lembranças que ela nos trás , do grau das insanidade ocorridas nos quartéis do Exército Brasileiro- fatos que até hoje não são reconhecidos pelas nossas autoridades.
Fátima Setúbal foi a irmã caçula de dois conhecidos militantes que pereceram na luta contra o regime militar – Januário e Marcus Pinto .
Era, na época, uma típica representante da classe média tijucana, vivendo em uma família estruturada , com vários integrantes, muitos deles com intensa atividades na cúpula da Igreja Católica.
De um momento para o outro a vida desta família mudou, e em um curto espaço de tempo , viram a morte violenta de dois jovens estudantes, filhos da família , além da prisão e tortura de Fatima , na época com apenas 18 anos.
As imagens e o relato apaixonado de Fátima falam por si. Deixam claro que no final das contas o motivo principal que impulsionou a saga desses jovens era meramente o desejo de liberdade- desejo de uma existência plena, libertária e fraternal, que foi impedida pela barbárie de um sistema excludente e desumano , que se instaurou com a deposição de um governo legitimamente eleito .
Durante todos esses anos Fátima jamais se calou e sua vida foi totalmente devotada a denúncia do que se passou com ela, sua família , seus irmãos e amigos . Este filme é o corolário deste processo, que em ultima instância tem o propósito de impedir que tais fatos se repitam no país .
Assistam o vídeo e pensem sobre isto .
Serra da Mantiqueira, agosto de 2014
Arlindenor Pedro