Somos contemporâneos de tomadas de decisões à respeito da nossa relação com o meio ambiente, em caráter global , que terão efeitos sobre os nossos descendentes de forma positiva ou negativa .
Isto porquê , nunca como nos dias de hoje , o homem teve tanto poder para alterar o ambiente que habita (incluindo-se aí os seres vivos de todas as espécies ) através do seu conhecimento científico .
Foi graças a isso , inclusive, que os geólogos passaram a cunhar de Antropoceno a Era em que vivemos , querendo com isto marcar esta virada na relação entre a natureza e a humanidade , quando são os homens , e não mais a Terra , que dão as cartas , ou como eu diria : pensam que dão !
O antropólogo francês Bruno Latur ao abordar em seu livro ” Jamais fomos modernos ” esta dissociação entre o homem e a natureza , que se materializa através do que chamamos de ” civilização ocidental ” , chega a classificá-la como monstruosa , contestando a visão corrente de que somos modernos , pois na verdade estamos muito distante disto .
Alguns antropólogos , como por exemplo o brasileiro Eduardo Viveiros de Castro , vão mais longe e classificam como simplesmente esquizofrênica esta situação , onde o ser humano pretende se sobrepor ao meio que o circunda, renunciando à conviver integrado com ele , ao contrário de todos os outros seres vivos do planeta.
Tal anseio de sujeição total da natureza que persegue o homem moderno gerado pela “visão de mundo” da burguesia liberal , que erigiu uma sociedade totalmente dissociada e compartimentada, a que Adorno e Horkheimer fazem alusão na sua “Dialética do Esclarecimento ” só poderia gerar um monstro , que nos dias atuais está prestes a devora-la.
Hoje , está claro para todos ( a não ser , é lógico, pela lógica intransigente dos negacionistas ) que grande parcela da responsabilidade da catástrofe ambiental que ameaça a nossa sobrevivência neste planeta se deve a forma de vida que estruturamos , alterando, consumindo e desequilibrando tudo o que é natural e que nos cerca , como um vírus enlouquecido que se reproduz vorazmente , consumindo seu hospedeiro , até atingir a totalidade que resulta na sua própria extinção .
Como esse sistema de dominação abstrato , o capitalismo , que no dizer de Moshe Postone , em seu livro “Tempo, Trabalho e Dominação Social ” foi criado pelas pessoas e passa a dominá-las sem que elas disto tenham consciência , tem uma lógica de reprodução incessante , que pode ser adjetivado com o nome de “ânsia de progresso “, torna finito aquilo que ele julga infinito : os recursos naturais . E isto nos coloca frente ao perigo de nossa própria extinção . Em suma : o planeta continuará sua jornada mas não é provável que dela participemos , caso não tomemos as decisões certas .
O clamor dos que veem o perigo da extinção se aproximando, e que é cada vez mais evidente , apresentando – se na forma do aquecimento dos mares, extinção acelerada das espécies , proliferações de pragas incontroláveis, extinção das fontes de água potáveis , avanço dos desertos e tantas outras situações criadas que impedem a existência humana , levou os povos a exigirem de seus líderes soluções imediatas que ponham fim a esta escalada macabra .
E este é , sem dúvidas , o principal motivo que faz com que os olhos de milhões de pessoas se voltem para a próxima reunião sobre o clima , convocado pela ONU , que será realizada em Paris no mês de dezembro deste ano .
Após inúmeros encontros frustrantes , como foi por exemplo a ECO 92, no Rio de Janeiro, mais uma vez os líderes e representantes dos povos de todo o mundo tentam barrar esta lógica do capital em direção ao caos .
Desta vez em uma reunião de cúpula a que o ator Robert Redford , em recente entrevista para convocar a todos ao encontro em Paris , classificou como a derradeira oportunidade que tem a humanidade de reverter esta marcha em direção ao final da sociedade moderna, a entrada na barbarie e a provável extinção da humanidade .
Aqui no Brasil , como sempre , ” a ficha ainda não caiu ” . A mídia irresponsável que temos não busca conscientizar a população para a importância desta reunião . Prefere ficar embalando a sociedade no jogo do espetáculo dos inquéritos contra a corrupção e nas incertezas do governo .
Ao contrário do que acontece em todo mundo , com uma expressiva mobilização de governos e amplos setores sociais , pouco se fez na direção de uma efetiva contribuição do nosso país para este evento .
Somente alguns setores da sociedade se dão conta da gravidade do momento , que gerou um reunião mundial desta porte . Destaco aqui a Igreja Católica , que através do posicionamento de sua última Encíclicas Papal , a “CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI’DO SANTO Padre Francisco sobre O Cuidado da Casa Comum” faz severas críticas ao capitalismo e também atenta para os perigos da extinção da humanidade. Tendo como base este documento tem realizado reuniões entre seus fiéis para discutir o problema .
Certamente , os mais preocupados neste momento, são as diversas nações indígenas , que no dizer do Eduardo Viveiros de Castro , são os que mais entendem sobre extinção , por viverem esta realidade dede o ano de mil e quinhentos , quando foram invadidos pela civilização portuguesa .
Com a liderança do Cacique Raoni , as principais lideranças indígenas que vivem no território brasileiro articularam- se com outos grupos indígenas, nos demais continentes, e preparam uma ação conjunta para esta Cimeira da ONU – a ação dos ” Guardiões da Amazônia ” .
Aguardamos ansiosos o desfecho desta Cimeira e esperamos que a prevaleça o espírito de sobrevivência do ser humano que supere a lógica predatória do capital .
Serra da Mantiqueira, setembro de 2015
Arlindenor Pedro