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Anticapitalismo para o século XXI – Um breve panorama da nova crítica do valor – Joelton Nascimento

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 76 leitura mínima

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ANTICAPITALISMO PARA O SÉCULO XXI
Um breve panorama da nova crítica do valor
Joelton Nascimento1

The sky is falling
Human race that we run
It left me crawling
Staring straight at the sun

[O céu está caindo
A corrida humana que corremos
Me deixou rastejando
Encarando diretamente o sol]

Josh Homme, Nick Oliveri
(Queens of the Stone Ages)

INTRODUÇÃO

Neste artigo temos a pretensão de apresentar em linhas gerais algumas das teses defendidas pela Nova Crítica do Valor (NCV), além de referências sobre alguns de seus precursores. Pela designação NCV entendemos uma frente da batalha de ideias anticapitalistas, que surgiram e se desenvolvem em torno de coletivos teóricos que se apresentam publicamente sobretuo
por intermédio de publicações abertas, em especial as revistas alemãs Krisis e Exit!.

Comecemos por explicitar o que entendemos por “anticapitalismo”. Como todo “anti”, o anticapitalismo se define por aquilo contra o que ele se opõe. Uma teoria anticapitalista, portanto, só pode ser assim considerada como tal quando for possível a definição elementar do que seja a realidade social que se encontra sob a denominação de capitalismo.

A palavra “capitalista” começa a ser utilizada pela primeira vez no século XVIII por economistas, para designar a figura do detentor de bens e valores que os emprega para obter lucros. Foi usado nesse sentido por Adam Smith (1723-1790) e por Anne Turgot (1727-1781), por exemplo. Se nos restringíssemos à definição dada por estes autores capitalismo significaria o sistema econômico que tem em seu centro a figura do capitalista.

Anticapitalismo, neste contexto, seria apenas a teoria e a prática que combateriam a figura do capitalista. Esta definição, todavia, seria extremamente problemática, uma vez que para muitos dos autores deste período, como François Quesnay (1694-1774) e o próprio Turgot, o representante mais exemplar de capitalista é o fazendeiro e não o empreendedor da indústria (JESSUA, 2011). Seria preciso uma ideia consistente sobre o que é o capitalismo para que sua crítica intelectual e prática possa ter também consistência.

É neste sentido que dizemos que a teoria anticapitalista consistente nasceu junto com o trabalho e a prática de Karl Marx (1818-1883) e seus colaboradores. E isto pela simples razão de que antes dele ainda não era possível vislumbrar com nitidez os contornos do que seria “capitalismo”. Do ponto de vista descritivo, a princípio, poderíamos considerar o capitalismo como a grande indústria, movimentada pela economia monetária do trabalho assalariado, regulada pelo estado-nação.

Poder-se-ia dizer que bem antes de Marx já havia ideias comunistas rondando a modernidade, como as do publicista francês François Noël Babeuf. É perfeitamente possível considerar Babeuf um comunista (ainda que um comunista “primitivo” ou “proto-comunista”) pois é com ele que pela primeira vez se torna claro um programa político e social de igualitarismo de tipo comunista (VOVELLE, 2000); trata-se de um político e intelectual que se junta à longa corrente daqueles que fizeram de suas próprias vidas uma batalha pela justiça e pela equidade. Contudo, dificilmente poderíamos chamá-lo de anticapitalista, uma vez que a ordem social erguida pela grande indústria, movimentada pela economia monetária do trabalho assalariado e regulada pelos estados-nação, ainda não tinha se desenvolvido a ponto de delinear suas feições mais básicas.

Talvez ele pudesse ser considerado anticapitalista no sentido que a palavra “capitalista” tinha para Quesnay, isto é, no sentido de um sistema econômico centrado na figura do capitalista individual, cujo exemplar mais típico é o fazendeiro. E, de fato, a mais contundente das teses de Babeuf é contra a propriedade privada da terra, que, segundo ele, deveria ser inteiramente nacionalizada e redistribuída equitativamente; imposta apenas como propriedade coletiva.

A propriedade privada, todavia, não é um princípio capaz de abarcar nenhum dos pilares principais do capitalismo mencionados em nossa descrição do capitalismo dada acima.

Com Marx nasce uma teoria anticapitalista como delineamento de uma prática comunista concreta, para além de objeções morais e de idealizações acerca de uma sociedade futurista.

1. ELEMENTOS CENTRAIS DO MARXISMO TRADICIONAL

Ajudado pelo afastamento histórico, Ingo Elbe (2013)2 resumiu de modo formidável as leituras da teoria marxiana centrais até então realizadas. Segundo ele, depois dos escritos de Marx, temos em nosso acervo crítico o marxismo, ou o marxismo tradicional, isto é, as interpretações dos escritos de Marx ligados primariamente aos partidos políticos e representativos de trabalhadores. Temos, ainda, os marxismos, ou modos dissidentes de leitura dos textos de Marx.

O marxismo tradicional é fundamentalmente aquele canonizado nas obras de Engels e Kautstky e que serviram de base para o assim chamado marxismo-leninismo. Esta leitura se acostumou e se adaptou inteiramente aos esquemas canônicos de leitura voltados para as camadas “exotéricas” das obras de Marx, isto é, os textos do filósofo e líder operário que serviam sobretudo para a divulgação e para a agitação política3. Os marxismos dissidentes, em especial o denominado marxismo ocidental e a Nova Leitura de Marx (a neue Marx-Lektüre), se detiveram em uma leitura do Marx “esotérico”, isto é, nos textos marxianos com maior densidade e alcance analítico e crítico.

Outrossim, os marxismos dissidentes se desenvolveram amiúde fora dos partidos e mesmo de grandes instituições de pesquisa (exceção é a Escola de Frankfurt) na condição sobretudo de um marxismo underground.

Ainda segundo Elbe, o marxismo tradicional tem como um de seus cânones mais importantes a obra Anti-Dühring [1877] (1976) de Engels. Kautsky nunca escondeu o fato de que todos os intelectuais à sua volta liam O Capital de Marx pelas lentes deste livro de Engels; em grande medida pode-se dizer que o marxismo tradicional é um “engelsianismo” (2013, p. 2/13).

Três são os pilares do marxismo tradicional, segundo Elbe: 1) a tendência ao determinismo ontológico; 2) a interpretação historicista do método formal-genético e 3) a crítica do estado restrita ao conteúdo. Veremos a seguir rapidamente cada um destes pilares.

1.1- A tendência ao determinismo ontológico

A tendência ao determinismo ontológico é fruto bastante direto da busca engelsiana de forjar a dialética como um método para se compreender, inclusive em termos de determinação de causa e efeito, tanto os fenômenos da natureza quanto os fenômenos de ordem social e histórica. A dialética é dividida drasticamente em “dois conjuntos de leis”, a partir de onde se pode concluir que o pensamento ou a consciência é entendida como uma imagem mental passiva do mundo externo. São pelo menos três os desvios – e pode-se dizer, distorções – da concepção marxiana de práxis realizadas pelo engelsianismo e que são fundadores do marxismo tradicional.

Segundo Marx, não só o objeto mas também a observação do objeto é historicamente e praticamente mediada, e portanto não é externa ao modo de produção. Engels, por seu turno, enfatiza que a observação da natureza tal e qual já constitui uma observação “materialista”. “O realismo ingênuo da teoria do reflexo sistematizada por Lênin e outros – que resta presa à aparência reificada da imediação daquilo que é socialmente mediado, do fetichismo de um em-si daquilo que existe apenas em uma estrutura de atividade humana historicamente determinada – recebe seus fundamentos já nos escritos de Engels” (ELBE, 2013, p. 2/13). Assim, uma visão pseudo-materialista relaciona crua e não-mediadamente pensamento e ser, consciência e realidade material.

Em A Ideologia Alemã (1845-46), junto com Marx, Engels expressou o conceito de derivação natural [Naturwüchsigkeit] como algo negativo, isto é, ali eles enunciaram a ideia de superação das noções e leis sociais que permaneciam ocultas no inconsciente dos agentes coletivos como se naturais fossem. Já no Engels de Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (1886) desaparece este caráter negativo, para ele agora era preciso apenas aplicar conscientemente no mundo social as “leis gerais de movimento” do mundo externo.

Se nas Teses sobre Feuerbach (1845) Marx dizia que

“Todos os mistérios que orientam a teoria para o misticismo encontram sua solução racional na prática humana e na compreensão desta prática” (MARX, 1990, p. 34), Engels reduziu praxis à atividade experiental das ciências naturais. De modo geral, “Engels embrulhou junto [do marxismo] o cientificismo de sua época, pavimentando o caminho para concepção mecanicista e fatalista do materialismo histórico, mudando o enfoque de uma teoria social da práxis para uma doutrina, uma teoria-reflexão contemplativa do desenvolvimento” (id.).

Reduzida ainda mais às “três leis da dialética” e aos “cinco modos de produção”, a doutrina engelsiana do desenvolvimento foi elevada à categoria de doutrina oficial de estado pelo stalinismo. A potência do estado soviético era constantemente proclamada como advinda da capacidade de seus dirigentes de “aplicar conscientemente” e de “acelerar” os movimentos da história com base no conhecimento de suas “leis”, em um misto paradoxal de voluntarismo e determinismo: a vontade tudo pode na medida em que se conhece e aplica o conhecimento sobre as leis de movimento da realidade objetiva independente dos agentes envolvidos nesta.

1.2- A interpretação historicista do método formal-genético.

Segundo Ingo Elbe, neste tópico o marxismo-leninismo é, ainda mais explicitamente, engelsianismo. A interpretação de Engels da simultaneidade histórica e lógica do livro 1 de O Capital é a dominante nos cem anos que sucederam a primeira publicação deste livro.


Contra o pano de fundo de sua concepção de reflexo, Engels interpreta o primeiro capítulo de O Capital como uma apresentação simultaneamente lógica e histórica da “produção simples de mercadorias” que se desenvolve no sentido das relações de trabalho assalariado capitalista, “apenas despido de sua forma histórica e desviando das ocorrências casuais”. O termo “lógico” neste contexto não significa basicamente nada além de “simplificado” (ELBE, 2013, p. 5/13) 4

A interpretação engelsiana da crítica da economia política marxiana como uma obra fundamentalmente histórica, apenas refletindo “logicamente” o desenvolvimento histórico é o fundamento da tese de Hilferding de que “de acordo com o método dialético, a evolução conceitual corre em paralelo com a evolução histórica” (HILFERDING apud ELBE, 2013, p. 5/13). Mesmo um dos marxismos dissidentes, o chamado marxismo ocidental, seguiu em grande medida esta tese de Engels-Hilferding.

O principal resultado desta tese é a visada ao passado com categorias e conceitos próprios das sociedades capitalistas. Toda a história humana passa a, indiferentemente, ser uma história da apropriação do trabalho alheio. Entretanto, a especificidade das categorias valor e dinheiro são inteiramente subestimadas e a distinção marxiana entre valor e forma valor fica inteiramente obscurecida5.


Até os anos 60, os teoremas de Engels continuam a ser transmitidos sem disputas. Junto com sua fórmula (uma vez mais tirada de Hegel) da liberdade como sendo a consciência da necessidade, e os paralelos esboçados entre as leis naturais e os processos sociais, eles deram sustentação para um “conceito de emancipação” sócio-tecnológico de acordo com a seguinte premissa: a necessidade social (sobretudo a lei do valor), que opera anarquicamente e descontroladamente no capitalismo será, por meio do marxismo como ciência das leis objetivas da natureza e da sociedade, gerenciadas e aplicadas de acordo com um plano. Não o desaparecimento das determinações de forma capitalistas, mas, antes, seu uso alternativo é o que caracteriza este “socialismo de adjetivos” (termo de Robert Kurz) e esta “economia política socialista” (ELBE, 2013, p. 5/13).

Observações engelsianas sobre o estado também encontramos em Anti- Dühring, Ludwig Feuerbach e Origens da família, da propriedade privado e do Estado (1884). Estes trabalhos são os cânones do marxismo tradicional a respeito do tema, sendo tanto tomados como chaves da leitura para os textos do próprio Marx quanto amalgamados indiferentemente com estes6.


Em Ludwig Feuerbach Engels afirma que o fato de todas as necessidades nas sociedades de classe serem articuladas através da vontade do estado é “o aspecto formal do tema – aquele que é autoevidente”. A questão principal para uma teoria materialista do estado, entretanto, é “qual é o conteúdo desta vontade meramente formal?” A resposta desta questão, baseada puramente baseada em conteúdo, concernente à vontade do estado é para Engels o reconhecimento de “que na história moderna a vontade do estado é, como um todo, determinada pelas necessidades cambiantes da sociedade civil, em face da supremacia desta ou daquela classe, em última análise pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações de troca” (ELBE, 2013, p. 5/13)7.

Gert Schäfer (1990, p. 99) já havia compreendido bem os limites desta concepção engelsiana:


Mais tarde [em relação a 1886, JN] Engels assegurou que “nós todos” colocamos e tínhamos que colocar “o acento principal na dedução das ideias políticas, jurídicas e semelhantes, bem como nas ações mediadas através destas ideias, a partir das relações econômicas básicas”. “E ao fazer isto descuidamos do lado formal em benefício do conteúdo: o modo como estas ideias, representações, etc., surgem”. Engels considerou esta falta de mediação entre conteúdo e forma (“sempre dei por esta falta post festum”) como um dos “lados da coisa, a qual… todos nós descuidamos, muito mais do que ela merecia” (Engels a Franz Mehring, 14/07/1893).

Retomando as observações de Schäfer, Elbe percebe que, para Engels, o estado e seus desdobramentos políticos e jurídicos passam a ser explicados quase que inteiramente pelo seu respectivo poder e pertencimento de classe. “A partir deste modo de considerar o estado histórico-universalmente fixado no conteúdo, pode-se deduzir que Engels perde de vista a questão realmente interessante, nomeadamente, sobre o porquê do conteúdo de classe no capitalismo tomar a forma específica da autoridade pública” (2013, p. 5/13).

O resultado mais importante desta visão estreita do marxismo tradicional é que ele concebe o planejamento econômico estatal e a socialização direta como equivalentes. A tarefa do movimento operário passaria a ser “comandar” o poder centralizador, planejador e monopolizador advindo do desenvolvimento mesmo do capitalismo, alterando-lhe somente o conteúdo classista, que, ademais, seria uma consequência natural da “obsolescência” da classe burguesa. E aqui novamente, caberia uma longa mas crucial observação de Gert Schäfer:


Engels (também Hilferding e Lênin) confunde a sociabilidade específica da produção capitalista de mercadorias e o seu modo característico de planejamento com a produção imediatamente social. A “produção” capitalista “privada” não desaparece pelo simples fato de ser um capital da sociedade, “produção para a conta associada de muitos” capitalistas. Não se elimina a “inexistência de planificação” no capitalismo a partir do momento em que os trusts e outras formas semelhantes de organização do capital passam a conceber planos em larga escala. De fato, Engels tinha empregado um conceito de produção privada que se referia àquilo que hoje chamamos de capitalismo do empresário, e a “falta de planejamento” era entendida por ele num sentido limitado; no seu entender, o fim da “falta de planejamento” dar-se-ia através do controle de mercados tal como é exercitado nos trusts, o qual permite um planejamento de vendas, das quantidades e dos preços, o que coloca em cheque a ideia de que a livre concorrência constitui a forma única e absoluta de movimentar o capital. Entretanto, Engels passou ao largo do problema decisivo, que é o da relação da lei do valor com as novas formas assumidas pela monopolização e pela intervenção estatal; e mais tarde Lênin identificou falsamente a “anarquia” do modo capitalista de produção com a efetividade desenfreada da “anarquia do mercado”, com o assim chamado capitalismo da concorrência (SCHÄFER, 1990, p. 132- 133)
.

O estado, concebido apenas por intermédio de uma fixação de conteúdo, passa a ser determinado inteiramente pela classe social que tem dominância sobre seus aparelhos, sendo as classes, por sua vez, determinadas sobretudo pela propriedade privada dos meios de produção; sendo esta última determinação, não obstante, inelutavelmente jurídica ela própria.

Lênin escrevia com toda clareza em 1917 que para ele “transição socialista” significava que “todos os cidadãos se tornam empregados e operários de um só truste universal de Estado”, e assim, a “sociedade inteira não será mais do que um grande escritório e uma grande fábrica, com igualdade de trabalho e igualdade de salário” (LÊNIN, 2011, p. 153). Este pode ser visto como um desenvolvimento político-prático da “crítica” engelsiana do estado.

2. ELEMENTOS CENTRAIS DOS MARXISMOS DISSIDENTES

Os anos 20 do século XX assistiram a uma forte retomada criativa da crítica anticapitalista e, no seu ensejo, de leituras mais próximas dos textos de Marx e que abririam novas chaves para sua leitura. Quatro obras se destacam como representativas deste momento: História e Consciência de Classe (1923) de Geog Lukács, Marxismo e Filosofia (1923) de Karl Korsch, A Teoria Geral do Direito e o Marxismo, de Evgeny Pachukanis (1924) e A Teoria Marxista do Valor (1924) de Isaak Ilitch Rubin.

As duas primeiras obras, do jovem Lukács e a Korsch foram fundadoras daquilo que Merleau-Ponty chamou de “marxismo ocidental” (2006)8. A redescoberta das duas últimas obras nos anos 60 foram propulsoras de outra vertente de marxismo dissidente, a Nova Leitura de Marx que, por seu turno, recebeu forte influência do marxismo ocidental.

Intelectuais como Georg Lukács (1895-1971), Ernst Bloch (1885-1977), Karl Korsch (1886-1961), Antonio Gramsci (1891-1937), Max Horkheimer (1895-1973), Theodor Adorno (1901-1969), Herbert Marcuse (1889-1979), Alfred Sohn-Rethel (1899- 1990), Lucio Coletti (1924-2001), Henri Lefebvre (1901-1991), Galvano Della Volpe (1895-1968) e Louis Althusser (1918-1990) têm em comum o fato de que propuseram novas leituras e fronteiras para o pensamento anticapitalista que iam além dos cânones do marxismo-leninismo.


Gramsci, por exemplo, criticava a uso da Revolução Russa de Outubro como paradigma de revolução para o ocidente. Lukács esclareceu em grande medida a real posição teórico-crítica de Marx a respeito da dialética e do materialismo, para além de algumas das distorções e reduções do engelsianismo, tarefa também que se deu Karl Korsch. Alguns importantes aspectos do marxismo-leninismo, porém, permaneceram no chamado “marxismo ocidental”, como por exemplo, em Lukács e Gramsci a centralidade do papel revolucionário para o proletariado fabril (ELBE, 2013, p. 6/13).

Para Elbe , entretanto, o marxismo ocidental pode ser caracterizado também pelo que ele silenciou sobre :

A característica geral desta formação marxista – sua sensibilidade para o legado hegeliano e o potencial crítico-humanista da teoria de Marx, a incorporação de abordagens “burguesas” contemporâneas para elucidar a grande crise do movimentos dos trabalhadores, a orientação para a metodologia, a sensibilização para os fenômenos psicossociais e culturais em conexão com a questão referente às razões para a falha da revolução no “ocidente” – provê a estrutura para um novo tipo de exegese restrita de Marx. Esta se caracteriza essencialmente pela negligência em relação aos problemas da política e da teoria do estado, uma seletiva recepção da teoria do valor de Marx, e a predominância de uma “ortodoxia silenciosa” concernente à crítica da economia política. (…) Até meados dos anos 60 parece que nenhum marxista ocidental estendeu seu debate com as tradicionais interpretações de Marx para o domínio da teoria do valor (ELBE, 2013, p. 6/13).

De acordo com o competente estudo panorâmico realizado pela revista/coletivo Endnotes, das retomadas da leitura de Marx, em especial de O Capital nos anos 609, se destacam aquelas realizadas pela Nova Leitura de Marx [neue Marx-Lektüre] na Alemanha. As principais razões para a vantagem da releitura alemã de Marx, segundo Endnotes é que:


… o grande recurso cultural que Marx usava na crítica da economia política – o idealismo clássico alemão – não estava sujeito aos mesmos problemas de recepção do pensamento hegeliano que em outros países. Assim, enquanto na Itália e na França as novas leituras de Marx tendiam para um preconceito anti-Hegel como reação em face dos modismos hegelianos anteriores e contra o “marxismo hegeliano”, os debates alemães conseguiram esboçar um quadro mais matizado e informado do vínculo Marx-Hegel. Um fato crucial foi que eles viram que ao descrever a estrutura lógica da totalidade real das relações capitalistas, Marx em O Capital ficou em dívida não tanto com a concepção de Hegel de história dialética, mas com a dialética sistemática da Lógica. Assim, o novo marxismo crítico, algumas vezes denominado depreciativamente de Kapitallogik tinha menos em comum com o marxismo crítico anterior de Lukács e de Korsch do que com o de Rubin e Pachukanis. A Nova Leitura de Marx não era uma escola homogênea mas uma abordagem crítica envolvendo sérios argumentos e discordâncias que não obstante compartilhavam um certo direcionamento (ENDNOTES, 2010, p. 5/17)

Três são os autores mais expressivos deste primeiro momento da Nova Leitura de Marx: Hans-Jürgen Krahl10 (1943-1970) cujos escritos mais importantes foram recolhidos em Constituição e Luta de Classes ([1971], 2008), Hans-Georg Backhaus, cuja obra principal, que foi gestada desde esses anos é Dialética da forma-valor ([1997], 2011) e Helmut Reichelt, o mais conhecido deles, cuja obra Sobre a estrutura lógica do conceito de capital em Karl Marx (2013) , pode ser apontada como a mais importante da primeira “rodada” de debates da Nova Leitura de Marx. Krahl, Backhaus e Reichelt significam tanto uma ruptura quanto um desenvolvimento da reflexão filosófico-crítica da Escola de Frankfurt. Mais ainda: a Nova Leitura de Marx rompeu definitivamente com os limites engelsianos que comprimiam a leitura dos textos de Marx e as críticas do capitalismo delas derivadas.


Nos debates alemães, e subsequentemente internacionais, a autoridade de Engels – assim como do marxismo tradicional que dela dependiam – foi compreensivamente desafiada. A Nova Leitura de Marx argumentava que nem a interpretação engelsiana, nem qualquer uma das modificações a ela propostas fez justiça ao movimento por trás da ordem e do desenvolvimento das categorias em O Capital. Em lugar de um avanço partindo de um estágio não-capitalista, ou um modelo simplificado hipoteticamente da produção mercantil simples até chegar a uma etapa posterior, ou um modelo mais complexo de produção capitalista de mercadorias, era preciso captar o movimento de O Capital como uma apresentação da totalidade capitalista desde o princípio, que se movia do abstrato ao concreto. Em Sobre a estrutura lógica do conceito de capital de Karl Marx Helmut Reichelt desenvolveu uma concepção que, de um modo ou outro, agora é fundamental para os teóricos da dialética sistemática: que a “lógica do conceito de capital” como processo autodeterminado corresponde a ir para além de si do conceito da Lógica de Hegel. De acordo com este ponto de vista o mundo do capital pode ser considerado como objetivamente idealista: por exemplo, a mercadoria como uma coisa “suprassensível ainda que sensível”. A dialética da forma-valor mostra como, partindo da forma-mercadoria mais simples, os aspectos materiais e concretos do processo da vida social estão dominados pelas formas sociais abstratas e ideais do valor (ENDNOTES, 2010, p. 6/17).

Saído diretamente do debate aberto pela Nova Leitura de Marx, o assim chamado “debate derivacionista” recolocou em questão o problema do estado, de um modo profundamente divergente do modo engelsiano-leninista. O modo distinto conforme o qual Pachukanis colocou o problema foi redescoberto. Lembremos da proposição pachukaniana:


O conceito de direito é aqui [em Plekhanov] considerado exclusivamente do ponto de vista de seu conteúdo; a questão da forma jurídica enquanto tal não é colocada. Contudo não há dúvida de que a teoria marxista não deve apenas examinar o conteúdo concreto dos ordenamentos jurídicos nas diferentes épocas históricas, mas fornecer também uma explicação materialista do ordenamento jurídico como forma histórica determinada. Se renunciarmos à análise dos conceitos jurídicos fundamentais, obteremos apenas uma teoria jurídica explicativa da origem do ordenamento jurídico a partir das necessidades materiais da sociedade e, consequentemente, do fato de que as normas jurídicas correspondem aos interesses de tal ou qual classe social. Mas o próprio ordenamento jurídico permanece sem ser analisado enquanto forma, apesar da riqueza do conteúdo histórico que introduzimos neste conceito (PASUKANIS, 1988, p. 18-19).

Ainda que não se mostre consciente disso, Pachukanis colocou as premissas engelsianas em cheque, de um modo muito semelhante àquele de Isaak Rubin (1980) ao tratar dos problemas da crítica da economia política11. É por esta picada que avançam os autores dos debates derivacionistas, dentre os quais se destaca Joachim Hirsch (1990, 2010)12.


Baseando-se na obra pioneira de Pachukanis, os participantes do debate da derivação do estado captaram a separação entre o “econômico” e o “político” como elemento próprio da dominação capitalista. Isto implicava que, longe de ser considerada como o estabelecimento de uma economia socialista e de um estado obreiro, como preconizava o marxismo tradicional, a revolução devia ser entendida como destruição tanto da “economia” como do “Estado”. Apesar do caráter abstrato (e as vezes acadêmico) destes debates, começamos a ver agora como na Alemanha o retorno crítico a Marx sobre a base das lutas do final dos anos sessenta teve consequências concretas (e muito radicais) para a forma que concebemos a superação do modo de produção capitalista (ENDNOTES, 2010, p. 7/17)

O debate aberto pela Nova Leitura de Marx, que pode ser caracterizado pelo recurso à dialética sistemática da forma valor se espalhou a seguir por vários países, sem que necessariamente possamos encontrar nisso uma relação de influência direta, mas de simultaneidade. Diversos autores mais ou menos ligados a movimentos sociais e mais ou menos acadêmicos, se detiveram nas questões postas pela crítica marxiana das formas sociais do valor. Estes autores podem ser relacionados aqui no que segue (de modo não exaustivo): Roman Rosdolsky (2001), Cristopher Arthur (2004), Alfredo Saad-Filho (2002), Werner Bonefeld (1992), Michael Eldred (2010), Michael Heinrich (2004), Patrick Murray (2005), Geert Reuten (2005), Fred Moseley (2004), Felton Shortall (1994), Ruy Fausto (1983, 2002), Tony Smith (1993), Claudio Napoleoni (1980, 1988), Jean-Marie Vincent (1987), Ingo Elbe (2010, 2013), Massimo De Angelis (2007), e, a nosso juízo, em destaque: Slavoj Žižek (2012, 2013), Moishe Postone (2006, 2014), John Holloway (2003, 2013) e Kojin Karatani (2003, 2014).

3. A NOVA CRÍTICA DO VALOR

A expressão “Nova Crítica do Valor” apareceu pela primeira vez no livro do crítico social e ensaísta Anselm Jappe, As Aventuras da Mercadoria, publicado originalmente em 2003 (JAPPE, 2006). Com esta expressão Jappe designava uma vertente de teoria crítica anticapitalista à qual seu livro ainda é a mais poderosa síntese.

A NCV pode ser definida, inicialmente, como uma dupla releitura: ela é tanto uma releitura da obra de Karl Marx quanto uma releitura do capitalismo, que toma como base suas recentes transformações ocasionadas pelo decurso de seu próprio desenvolvimento. Contudo, estas duas releituras se fundamentam mutuamente e de modo complexo: a releitura de Marx é fundamento para uma nova teoria crítica do capitalismo, e esta nova teoria crítica do capitalismo é o fundamento para uma nova leitura de Marx. A NCV, desta forma, é uma tentativa de ir “com Marx, para além de Marx”13 com fundamento em uma interpretação própria do desenvolvimento do capitalismo após os anos 1970.

Não podemos, entretanto, deixar de notar que esta vertente teórico-crítica é, ao mesmo tempo, uma ruptura e um desenvolvimento da Nova Leitura de Marx alemã. Ela se delineia especificamente a partir do final dos anos 1980 junto com a atividade de coletivos e de intelectuais independentes em torno da publicação Krisis14. Este esforço se desdobra e se ramifica em diversas outras publicações, dentre elas a revista austríaca Streifzüge (1996)15 e a mais importante, a nosso juízo, a alemã Exit! (2004)16. Tanto a Krisis quanto a Exit!, entretanto, são publicações voltadas a estudiosos, com artigos teoricamente densos.

Esta vertente da crítica do capitalismo começou a ganhar alguma atenção no Brasil quando da publicação do livro de Robert Kurz (1943-2012), O Colapso da Modernização (1993), muito debatido, com defesas e críticas por parte de intelectuais de esquerda brasileiros e que revelou uma diferente visão sobre as crises econômicas dos anos 90. Outras obras de Kurz foram também traduzidas e publicadas (KURZ, 1997, 2004, 2010) a seguir; a manutenção de um portal eletrônico com textos da Nova Crítica do Valor em Portugal também foi crucial para a divulgação dos trabalhos de autores como Robert Kurz, Roswitha Scholz, Norbert Trenkle, Ernst Lohoff, Franz Schandl, Claus Peter Ortlieb, Anselm Jappe e outros17.

3.1- A crítica do trabalho

A nosso juízo, um dos primeiros e mais expressivos pontos de ruptura/desenvolvimento da NCV em relação à Nova Leitura de Marx se dá em 1995 com a publicação de um artigo de Kurz no no 15 de Krisis, chamado Pós-marxismo e o fetiche do trabalho ([1995], 2003). Trata-se aqui de um passo importante de construção teórico-crítica do Manifesto Contra o Trabalho ([1999], 2003) que seria publicado 4 anos depois.

Desde os Grundrisse, chamado de “laboratório de estudos” (Bellofiore) marxianos de onde saiu O Capital, Marx se via às voltas com dois conceitos categoriais de “trabalho” dos quais a definição e a distinção seriam cruciais para sua madura crítica da economia política. Em sua explanação metodológica – que na dialética marxiana não se separa do objeto mesmo – Marx dá o exemplo da categoria de trabalho nos seguintes elucidativos termos:


O trabalho parece uma categoria muito simples. A representação do trabalho nessa universalidade – como trabalho em geral – também é muito antiga. Contudo, concebido economicamente nessa simplicidade, o ‘trabalho’ é uma categoria tão moderna quanto as relações que geram essa simples abstração. (…) A indiferença diante de um determinado tipo de trabalho pressupõe uma totalidade muito desenvolvida de tipos efetivos de trabalhos, nenhum dos quais predomina sobre os demais. Portanto, as abstrações mais gerais surgem unicamente com o desenvolvimento concreto mais rico, ali onde um aspecto aparece como comum a muitos, comum a todos. Nesse caso, deixa de poder ser pensado exclusivamente em uma forma particular. Por outro lado, essa abstração do trabalho em geral não é apenas o resultado mental de uma totalidade concreta de trabalhos. A indiferença em relação ao trabalho determinado corresponde a uma forma de sociedade em que os indivíduos passam com facilidade de um trabalho a outro, e em que o tipo determinado de trabalho é para eles contingente e, por conseguinte, indiferente. Nesse caso, o trabalho deveio, não somente enquanto categoria, mas na efetividade, meio para a criação da riqueza em geral e, como determinação, deixou de estar ligado aos indivíduos em uma particularidade. Um tal estado de coisas encontra-se no mais alto grau de desenvolvimento na mais moderna forma de existência da sociedade burguesa – os Estados Unidos. Logo, só nos Estados Unidos a abstração da categoria ‘trabalho’, ‘trabalho em geral’, trabalho puro e simples, o ponto de partida da Economia moderna, devém verdadeira na prática. Por conseguinte, a abstração mais simples, que a Economia moderna coloca no primeiro plano e que exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, tal abstração só aparece verdadeira na prática como categoria na sociedade mais moderna. (…) Esse exemplo do trabalho mostra com clareza como as próprias categorias mais abstratas, apesar de sua validade para todas as épocas – justamente por causa de sua abstração –, na determinabilidade dessa própria abstração, são igualmente produto de relações históricas e têm sua plena validade só para essas relações e no interior delas (MARX, 2011, pp. 57-58).

O trabalho, como categoria abstrata, poderia ser pensado fora do tempo histórico capitalista?18 Se sim, a crítica do capitalismo pode ser tida como uma crítica “do ponto de vista do trabalho”, sendo este último concebido como um contraprincípio trans-histórico ao capital. Mas se não, então a crítica do capitalismo é também uma crítica da sociedade do trabalho sans phrase; do trabalho como categoria social formada e formadora da “economia” e da “política” próprias da sociedade produtora de mercadorias.

O Marx dos Grundrisse não desempata a questão, ele oscila a respeito dela.

No Capital, Marx encaminha o problema elaborando os conceitos de trabalho abstrato e trabalho concreto. Estes seriam os correspondentes respectivos da natureza bífida da mercadoria (valor e utilidade). Sendo o primeiro, o de trabalho abstrato, o conceito que define a atividade humana na dimensão em que esta transmite valor à mercadoria e o segundo, o de trabalho concreto, o conceito que define a atividade humana que transmite valor de uso à mercadoria em sua dimensão material e simbólica. Não se trata, como se percebe, de dois fenômenos distintos, mas de duas dimensões de um mesmo fenômeno. A caracterização bífida do trabalho nos conceitos de trabalho concreto e trabalho abstrato é o modo encontrado por Marx para resolver o problema da abstração social-real que existe no trabalho das sociedades produtoras de mercadorias; para resolver sua oscilação anterior entre uma caracterização “ontológica” supra- histórica do trabalho e ao mesmo tempo sua crítica do modo histórico que o trabalho apresenta em sua subsunção ao capital. Entretanto, a oscilação só foi lançada para adiante, permencendo latente.

Nas seguintes passagens de O Capital, ela reaparece:


Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza (1996, p. 297).
O processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples e abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação natural para satisfazer as necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a Natureza, condição natural eterna da vida humana e, portanto, independente de qualquer forma dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as formas sociais (1996, p. 303).

Assim, o processo de trabalho só pode ser concebido como processo que “regula, controla, e media o metabolismo do homem com a natureza”, e portanto, como condição eterna e independente de qualquer forma histórica de vida quando é pensado em sua forma “simples e abstrata”! O trabalho concreto, criador de valor de uso, só pode ser pensado trans-historicamente quando submetido a uma maneira “simples e abstrata” de raciocínio, que remete ao modo histórico de sua subsunção ao capital – tal como vimos na passagem acima dos Grundrisse. É flagrante a oscilação marxiana em muitas passagens como estas.

Em um artigo publicado na revista Krisis em 1995 Robert Kurz criticou esta “duplicação” do conceito de trabalho, afirmando que, com ele, Marx apenas “rasgou em dois” a abstração real que se encontra no trabalho produtor de mercadorias. Seguindo a própria argumentação marxiana, a “dialética da forma valor”, a conclusão mais consistente a que se deveria chegar é que, assim como a mercadoria apresenta natureza bífida, o trabalho que a faz existir também a possui. Entretanto, Marx faz do aspecto material, sensível, uma suposta “âncora ontológica” onde uma dimensão do trabalho pode aparecer como independente de sua determinação pela forma. Assim, na caracterização da natureza bífida do trabalho produtor de mercadorias que se encontra nos conceitos de trabalho abstrato e trabalho concreto, Marx persegue pois, apenas o trabalho determinado pela forma, deixando de lado a aspecto social-real da abstração contida no conceito mesmo de “trabalho”.


O famoso conceito de trabalho abstracto que daí surge é na verdade uma expressão estranha, uma duplicação retórica, como se falássemos de um “verde abstracto”, visto que a definição de algo como verde já é em si uma abstração. Marx por assim dizer rasga em dois a abstracção real: sua forma seria historicamente limitada, sua substância ou seu conteúdo seria ontológico. Assim temos, portanto, o “trabalho” como eterna necessidade natural e o “trabalho abstracto” como determinação histórica do sistema produtor de mercadorias. Marx prolonga por um lado a abstracção real decalcada na forma rumo ao ontológico e, de outro, tenciona salvar-lhe o caráter histórico e, desse modo, sua superação (KURZ, 2003, p. 9).

Segundo a interpretação de Kurz,

este “rasgo em dois” da abstração do trabalho foi o tributo pago por Marx à “imagem necessária e imanente que o movimento operário faz de si mesmo” e que, segundo ele, pesa em diversos momentos da elaboração teórica de Marx, a fazendo oscilar. Contudo, como ele observa: “O marxismo do movimento operário teve pouco a fazer com o conceito de ‘trabalho abstracto’ e não o mobilizou criticamente; em vez disso, preferiu prender-se ao conceito ontológico de trabalho (enobrecido ‘conforme o valor de uso’), a fim de legitimar-se de forma histórico- filosófica” (id., ib.)19.

E o que é, pois, a abstração real do trabalho, visto pela sua essência ou conteúdo?


Tal bipartição acha-se novamente na determinação daquilo que afinal é realmente abstracto no trabalho abstracto. Marx a desenvolve principalmente numa única direcção – a direcção da forma: como abstracção real “do” conteúdo material, como indiferença ao momento sensível, representada pela forma do valor e seu desdobramento no dinheiro, a coisa “realmente abstracta”. Não resta dúvida de que isso é de grande relevância. Mas o “trabalho” produtor de mercadorias também é “realmente abstracto” em um segundo sentido, que Marx não desenvolve sistematicamente: em sua existência como esfera diferenciada, separada de outras esferas como a cultura, a política, a religião, a sexualidade, etc., ou, noutro plano, separada igualmente do tempo livre… (id., ib.).

Para a NCV é impossível restringir-se à crítica do trabalho abstrato e não se lançar na crítica da abstração do trabalho. E as implicações da crítica não apenas do trabalho abstrato, mas da abstração-real do trabalho são muitas e variadas, e não cabem nem preliminarmente no espaço deste artigo.

Começa neste ponto, a nosso ver, o “pós-marxismo” da NCV. A ruptura com um importante e basilar conceito da letra de Marx, em favor de seu espírito, a saber, a dialética da forma valor. Em 1999, com a publicação do Manifesto Contra o Trabalho (2003), no Brasil oferecido ao público pela editora Conrad, tais reflexões críticas do trabalho irrompem com a força polêmica do manifesto20.

3.2 – Formas sociais de fetiche e luta de classes

Outro eixo controverso dos debates inflamados pela Nova Crítica do Valor – e que um exame mesmo superficial é capaz de relacionar com a crítica do trabalho – é o da obsolescência da luta de classes, tal como esta foi pensada pelo marxismo tradicional, mas também pelo marxismo ocidental. No estilo cáustico que lhe era peculiar, Kurz escreveu que quando se trata do tema das “classes” e da “luta de classes”, é comum ver as lágrimas escorrerem pelos olhos dos marxistas do movimento operário (2003b).

A ideia tão propagada e aceita de que o único anticapitalismo efetivo é aquele que se coloca “do ponto de vista do trabalho” e, por conseguinte, do ponto de vista do contraprincípio sempiterno ao capital é o fundamento da visão da classe trabalhadora como demiurgo da história de superação do capitalismo. Nas palavras de Kurz:


O aparelho conceptual da crítica radical tem de ser liberto do pó. A “classe revolucionária” de Marx foi inequivocamente o proletariado fabril do século XIX. Unida e organizada através do próprio capital, tornar-se- ia o seu coveiro. Os grupos sociais, dependentes de salário das áreas derivadas de serviços, infra estruturas, etc. estatais e comerciais, podiam ser juntos ao “proletariado” apenas como uma espécie de grupos auxiliares, e mesmo isto só enquanto este ainda dominava como núcleo de massas sociais nas fábricas produtoras de capital. Com uma inversão das proporções numéricas, como se tinha esboçado já desde o início do século XX (e fora reflectido apenas de forma superficial pelo antigo marxismo, p. ex. no debate de Bernstein) o esquema tradicional de classes e de revolução não podia continuar a passar (KURZ, 2003).

No marxismo-leninismo, como vimos, voluntarismo e determinismo se fundiam em uma amálgama que muito bem se prestou a ser uma doutrina de estado autoritário. Algo desse amálgama se contrabandeia para a teoria anticapitalista quando se trata de conceber a “luta de classes” como uma narrativa demiúrgica da história. Quanto mais ela é invocada como razão teórica, menos há disposição para explicar o que ela poderia significar nos tempos atuais. Em face das muitas transformações recentes, dentre elas, em especial, a revolução industrial microeletrônica:

A “luta de classes” está dissolvida como parte integrante deste sistema da concorrência universal, e tem-se revelado como mero caso especial desta, que de modo algum consegue transcender o capital. Pelo contrário, num baixo nível de desenvolvimento, ela foi directamente a sua forma de movimento imanente, quando ainda se tratava de reconhecer os proletários fabris como sujeitos civis neste sistema. Para poder concorrer, tem de se agir nas mesmas formas comuns. O capital e o trabalho são no fundo diferentes estados de agregação de uma mesma substância social. O trabalho é capital vivo e o capital é trabalho morto. A nova crise porém consiste precisamente no facto de que, através do desenvolvimento capitalista, a própria substância do “trabalho abstracto” é derretida como base de produção de capital (KURZ, 2003).

As formas sociais constitutivas das sociedades produtoras de mercadorias (valor, capital, estado) aparecem como naturalizações e, por conseguinte, como “naturezas” secundárias da socialização. A luta por interesses sócio-econômicos imanentes a estas categorias, como por exemplo, as lutas pelos direitos ao trabalho e ao “justo” assalariamento foram importantes molas propulsoras da modernização capitalista. Não há como se negar este fato.

Mas nas condições atuais de desenvolvimento elas perderam o condão para guiar a transição para além do capital.

Nas palavras de Kurz


Assim, a noção da “luta de classes” perde a sua luminiscência metafísica, aparentemente transcendente. Os novos movimentos já não podem definir-se a si próprios, “objectivística” e formalmente através de uma ontologia do “trabalho abstracto” e através da sua “posição no processo produtivo”. Eles podem definir-se apenas pelo conteúdo através daquilo que querem. Nomeadamente, o que querem impedir: a destruição da reprodução social através da falsa objectividade dos constrangimentos formais capitalistas. E o que querem ganhar como futuro: o emprego racional comum das forças produtivas alcançadas, de acordo com as suas necessidades em vez de conforme os critérios doidos da lógica capitalista. A sua comunidade já só pode ser a comunidade da fixação emancipatória do objectivo, e não a comunidade de uma objectivação definida pela própria relação do capital. A teoria ainda tem de encontrar um conceito para aquilo que a prática já está a executar tacteando no escuro. Só então os novos movimentos podem tornar-se radicalmente críticos de capitalismo, de uma maneira também nova, para lá do velho mito da luta de classes (2003).

Este tema tem provocado importantes debates. Alguns, por exemplo, propugnam uma conciliação entre o tema da luta de classes e a crítica das formas sociais da NCV (CUNHA, 2009).
3.3 – O limite absoluto interno da sociedade da mercadoria

Também fortemente atada tanto à crítica do trabalho quanto à crítica ao caráter transcendente da luta de classes está a tese do limite interno absoluto das sociedades produtoras de mercadorias. Anselm Jappe resumiu bastante bem esta tese em suas três dimensões principais.

3.3.1 A contradição entre a realidade material e sua forma valor

Segundo Jappe (2006, p. 137), a crise ecológica de nosso tempo é a externalização de uma contradição interna:
O que vem hoje à luz do dia é uma crise muito mais profunda do que as que no passado desencadeavam desproporções quantitativas momentâneas. A contradição entre o conteúdo material e a forma valor conduz à destruição do primeiro. Esta contradição torna-se particularmente visível na crise ecológica e apresenta-se então como um “produtivismo”, como produção tautológica de bens de uso – produção essa que, contudo, mais não é do que a consequência da transformação tautológica do trabalho abstrato em dinheiro.

3.3.2 A contradição entre as necessidades de uso e sua forma valor

Esta contradição também se torna visível nos efeitos danosos de desigualdades sociais, regionais e internacionais; ela se manifesta, por exemplo, na crise alimentar global.


A produção de valor e de mais-valia, o único objectivo dos sujeitos da mercadoria, pode comportar também uma diminuição da produção de valores de uso, mesmo dos mais importantes. É o que se verifica no caso cada vez mais frequente da desindustrialização de países inteiros nos quais a produção se reduz aos sectores cujos produtos são suscetíveis de ser exportados, mesmo que se trate apenas de amendoim. A “produção pela produção” significa a maior acumulação possível de trabalho morto. Os ganhos de produtividade, designadamente o aumento da produção de valores de uso, em nada alteram o valor produzido em cada unidade de tempo. Uma hora de trabalho continua a ser uma hora de trabalho, e se nessa hora se produzem sessenta cadeiras em vez de uma, tal significa que em cada cadeira está contida apenas a sexagésima parte de uma hora: a cadeira “vale” assim apenas um minuto. O aumento das forças produtivas, empurrado pela concorrência, não aumenta de modo algum o valor de cada unidade de tempo: este facto constitui um limite inultrapassável à criação de mais-valia, cujo crescimento se torna progressivamente mais difícil. Para produzir a mesma quantidade de valor torna-se necessária uma produção sempre mais ampliada de valores de uso e consequentemente um consumo acrescido de recursos naturais. Ao proprietário do capital, se não quer ser eliminado pela concorrência, torna-se necessário produzir as sessenta cadeiras na esperança de encontrar uma procura compensadora. Pode inclusivamente tentar criar essa procura, sem levar em conta a relação real entre necessidades e recursos no interior da sociedade (JAPPE, 2006, p. 138-139).

3.3.3 A contradição entre a produtividade do trabalho e sua forma valor

As constantes inovações tecnológicas que, por um lado, foram impulsionadas pelas urgências de aumentar a produtividade do trabalho subsumido ao capital, por outro lado entram constante e progressivamente em colisão com a lucratividade do
próprio capital.


…essa produtividade acrescida do trabalho – que enquanto tal poderia ser naturalmente um bem para toda a humanidade – produz de uma maneira directa o desmoronamento da sociedade baseada no valor. Paradoxalmente, o capitalismo atinge o seu próprio limite em virtude de sua força, a saber, a libertação das forças produtivas: o dispêndio individual de força de trabalho é cada vez menos o factor principal da produção. São as ciências aplicadas, bem como os saberes e capacidades difundidos ao nível social, que se tornam directamente a força produtiva principal. A necessidade de calcular o trabalho efectuado por cada um, e portanto o valor que lhe compete, transforma-se então numa “couraça” que sufoca as possibilidades produtivas, porque o trabalho individual deixa de ser mensurável. O dispêndio de trabalho deixa de poder constituir a forma social da riqueza e deixa de ser a condição para que o indivíduo participe nos respectivos frutos. (…) Hoje em dia, porém, a separação dos produtores já não tem base material ou técnica e deriva exclusivamente da forma do valor abstracto, a qual perde assim definitivamente a sua função histórica (JAPPE, 2006, p. 140-141).

No desenvolvimento contemporâneo do capitalismo, a lógica do valor deixou de ser um fator histórico “civilizador” – como ainda parecia para o Engels e o Marx dO Manifesto Comunista – para se tornar uma “arcaica camisa-de-força” (2006, p. 141). Fundamentalmente o que acontece é o seguinte:


Dissemos acima que a queda da taxa de lucro acompanhou toda a evolução do capitalismo. Mas durante muito tempo essa queda foi compensada, e mesmo sobrerecompensada, pelo aumento da massa de lucro. Bastava que o modo de produção se ampliasse mais rapidamente que a queda da taxa de lucro: se em dez anos, graças à utilização de novas tecnologias, a parte do capital variável (ou seja, a parte do salário) contida numa mercadoria decresce 20 a 10%, e portanto a taxa de lucro (supondo uma taxa de mais-valia, ou seja, uma grau de exploração, estável a 50%) diminui 10 a 5%, mas se ao mesmo tempo se produz três vezes mais mercadorias, então a massa de lucro cresceu 50% e pode portanto alimentar um ciclo alargado de produção. Esta possibilidade foi prevista por Marx e realizou-se efectivamente durante mais de um século. Contudo, é evidente que esta evolução há-de chegar um dia a um ponto em que a massa de lucro do capital global começará a diminuir até atingir um limite absoluto (JAPPE, 2006, p. 142).

O que nos mostra Jappe é que tais contradições estão como que “armadas” desde a forma simples do valor e da mercadoria. E assim a “sufocação progressiva da produção de valor em virtude do aumento dos falsos encargos e do trabalho improdutivo, bem como a diminuição da massa de lucro que daí resulta, são, no plano lógico, uma consequência inelutável das contradições de base da mercadoria” (JAPPE, 2006, p. 146).


Atingir tal limite, entretanto, ainda não leva a nenhum “caos da crise”. Ao contrário, é a razão para outro salto para frente por parte do capital. Este salto, todavia, só adia por pouco tempo as consequências inelutáveis do limite absoluto, e torna-os ainda maiores. Assistimos, desde os anos 70, à financeirização e à “ficcionalização” no capitalismo (JAPPE, 2006, p. 148 e ss.; 2013, p. 35 e ss).

Rosa Luxemburgo considerava este limite interno absoluto teoricamente verdadeiro, mas acreditava também que a “luta de classes” encerraria o capitalismo antes disso. Esse limite interno era como que a “extinção do sol” de tão longínquo. Em nossos dias, entretanto, parece que o “sol” está minguando a olhos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A NCV ainda é uma vertente marginal nos debates anticapitalistas e sua produção ainda se coloca sob o signo do subterrâneo, do underground – ainda que alguns de seus impulsionadores, em especial Robert Kurz, Anselm Jappe e Roswitha Scholz sejam relativamente bem conhecidos. A NCV não aparece no mapeamento de Göran Therborn (2008) dos marxismos e dos pós-marxismo atuais; também não aparece na enciclopédia dos marxismos contemporâneo organizada por Jacques Bidet e Stathis Kouvelakis (2009), por exemplo.

Entretanto, são as condições de crise, que Foster e McChesney (2012) denominaram de “crise sem fim”, que tornam as teses expostam pela NCV não menos que urgentes. E neste particular, deveríamos aplicar ao próprio anticapitalismo o conteúdo da 2a Tese sobre Feuerbach de Marx: é na realidade prática e efetiva que a força e o caráter terreno do pensamento devem ser julgados. Que tipo de teoria anticapitalista é a mais verdadeira diante de uma crise sem precedentes da sociedade produtora de mercadorias?

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Notas
1 Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. Email: joeltonnascimento@hotmail.com

2 Todas as citações deste artigo de Elbe foram traduzidas pelo autor.
3 Segundo Marcel Van der Linden (1997, p. 448) o primeiro a propor a distinção entre um Marx “exotérico” e um Marx “esotérico” foi Stefan Breuer (1977). Distinção esta que exerceu um papel crucial em Robert Kurz ([1998], 2005) e nos demais autores da NCV.

4 As aspas indicam citações de Engels de sua resenha à Contribuição à Crítica da Economia Política (1859) de Marx.

5 A observação de Marx em uma nota de O Capital (1996, p. 205, n. 119) contra Smith e Ricardo, caberiam, pois, como uma luva para o próprio Engels e seus seguidores.

6 Para um estudo marxológico que separa cuidadosamente as considerações de Marx das de Engels a respeito do estado, cf. Tamy Pogrebinschi (2009), para um estudo confrontando os textos de Marx e os de Engels, cf. Norman Levine (1975).

7 As aspas indicam citações de Engels de Ludwig Feuerbach.

8 A expressão “marxismo ocidental”, como lembra Elbe, parece ter vindo logo que História e Consciência de Classe foi publicado. Ela serve como referência geral mas já foi bastante e acertadamente criticada como referência a um conjunto de teses ou uma “escola”. O uso da expressão foi consagrado por Perry Anderson (1976).

9 Outras releituras importantes deste momento foram as de Tronti e do obreirismo na Itália e a do estruturalismo de Althusser na França, que, todavia, estão mais próximas das tentativas de releitura de Marx do marxismo ocidental e de seus limites.

10 Curiosamente, Krahl foi um dos líderes do movimento estudantil antiautoritário que interrompeu uma aula de Adorno em protesto, e Adorno, em resposta, chamou a polícia em um polêmico episódio que antecedeu sua morte em 1969. Krahl morreu em um acidente de carro no ano seguinte.

11 Como observa Endnotes (2010, p. 16/17, n. 51), Rubin pouco influenciou os debates alemães inicialmente.

12 Para materiais sobre o debate derivacionista cf. (HOLLOWAY & PICCIOTO, 1978).

13 Este é o mote do projeto teórico do grupo alemão Exit! chamado Crítica do Capitalismo para o século XXI. Há uma versão do projeto traduzida para o português em <http://obeco.planetaclix.pt/exit_projecto_teorico.htm&gt;.

14 Cf. o material disponível em http://ww.krisis.org
15 Disponível em: http://www.streifzuege.org/
16 Cf. material disponível em http://www.exit-online.org/

17 Cf. <http://obeco.planetaclix.pt/&gt;.

18 Cf. o exame minucioso de Moishe Postone desse problema em (2006), em livro recém-publicado no Brasil pela Editora Boitempo. Ver ainda Duarte (2009 e 2015).

19 Kurz retoma de modo minucioso seu estudo sobre o destino do conceito de trabalho abstrato em (KURZ, 2005). Uma abordagem mais recente recoloca com bastante pertinência o problema marxiano do duplo caráter do trabalho, em um sentido bastante semelhante ao de Kurz. Cf. (HOLLOWAY, 2013). Para um comentário comparativo entre a abordagem de Holloway e a da Nova Crítica do Valor, Cf. Daniel Cunha (2014).

20 Cf. o resumo e algumas teses complementares ao Manifesto contra o trabalho em (NASCIMENTO, 2014).

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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