A humanidade marcha
Marcha para onde marcha?
Para o que chama civilização?
Ela não sabe nada
Sobre a terra pandêmica
Por onde passa.
Fetichista, a mercadoria desloca
Reflete, projeta, espelha
Imagens de corpos, despeja
Dejetos sobras soçobras
Ambulantes, esvaziados, ocos
Submersa em pensamentos loucos
Quer pisar no acelerador, enlouquecida
À beira do abismo, enfurecida…
A humanidade se perdeu
Na glória narcísica
De sua crença mítica
Perdeu a tão falada inteligência
Em sua majestosa diligência
Diante das coisas
Do mundo em mal agouro
Adiante de si e do outro
Sem olhar para o passado
Marcha a passos largos…
Destituída de sanidade
Destrói a si a humanidade
Atropela o tempo
Agita o espaço
Esquece de tempos abstratos
Da alma abstrata inata…
Ah, as metas!
Metamorfose, metafísica, metalinguagem
Abstração do ideal ao real
De irrealidade inabitada
Pela humanidade concordata
Destruindo sua condição, mata
Ad arbitrium
Joga-se à dominação
Domini benedictum
Ao capital pede benção
A fim de negar o ócio
sufoca a criatividade
Mas se faz negócio
Sem negação, com perdão e devoção.
A Humanidade pensa em revolução
Do mundo de mão em mão
Calejos em súplicas
Crônica e oração
A rebeldia do tempo
Busca a hora morta
Que salva a alteridade
Que se faz necessidade
No resgate agonizante
Est nunc anti
Da narcísica sociedade.
Imagem – O Grito – Edvard Munch
Maria do Carmo de Oliveira M. dos Santos (Madu) é Doutora em Literatura Brasileira, com o projeto de tese “Carlos e Mário: análise das correspondências sob a perspectiva do público e do privado”. Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa (Literatura Comparada), pela PUC-Minas, com o trabalho intitulado, “Imagens Urbanas: uma leitura dos signos da cidade contemporânea no espaço narrativo de João Antônio e Luiz Ruffato”. Autora dos livros “Ávidos Ácaros” (poesia), “Ritinha passou por aqui” (memórias), “Sorriso Contido” (poesia). É também uma dos idealizadores da Roda Literária “Épikos: diálogos, vozes e saberes”.
