JORNAL NACIONAL E A IDEOLOGIA DOMINANTE
Uma das teses do marxismo que continua de pé, passados mais de 150 anos, é aquela que diz que a ideologia dominante numa sociedade é a ideologia da classe dominante.
Ideologia é, grosso modo, uma visão de mundo configurada por interesses de classe bem concretos.
Uma ideologia torna-se dominante por meio de vários instrumentos e técnicas que “escondem” o seu caráter de classe, de modo a induzir as pessoas a pensar que o que é bom para a classe dominante é boa para elas.
Uma das característica centrais da atual configuração da ideologia dominante é o individualismo.
O individualismo perpassa todas as classes sociais: na burguesia, o individualismo apresenta-se como neoliberalismo, nas classes médias como meritocracia, e nas camadas populares como empreendedorismo.
Praticamente em todas as edições do JN vemos uma longa matéria sobre algum indivíduo que superou suas limitações iniciais, seja pela via do estudo, seja pela via do empreendedorismo.
A função da ideologia é “produzir subjetividade”, isto é, produzir um determinado modo de compreensão, de percepção, de valorização, de sentir etc.
Se o indivíduo do JN conseguiu furar a bolha, todos podem, só depende de força de vontade: eis a mensagem que quer levar o indivíduo a se responsabilizar pelas dificuldades que enfrenta.
O que a ideologia do individualismo quer é criar obstáculos a toda e qualquer iniciativa coletiva de busca de mudanças estruturais, única saída real para as camadas populares.
Não há uma única edição do JN em que não vemos essa ladainha…