Fundado em novembro de 2011

Elon Musk-negócios e política-Luiz Carlos de Oliveira e Silva

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 7 leitura mínima
Luiz Carlos de Oliveira e Silva

(De início, um pouco de história recente…)

Quando a plutocracia, depois de um período de hesitação, finalmente decidiu apoiar o impeachment da presidente Dilma – urdido de início no “bas fond” da política –, ela supôs que estava apenas, sem maiores consequências, tirando do governo um parceiro de ocasião que as trapaças da sorte colocaram em seu caminho

Diante da impotência eleitoral dos tucanos, a plutocracia não teve alternativa senão “engolir o sapo barbudo”, que logo se apressou – em nome da governabilidade – em mostrar-se digno de confiança, leia-se: “Carta aos banqueiros”.

A plutocracia apoiou o impeachment com vistas a acelerar a implantação do que restava da agenda neoliberal de liquidação do Estado e de direitos, sem ter que negociar as contrapartidas de “redução de danos” historicamente exigidas pelo PT.

Com a “janela de oportunidades” abertas pelo impeachment, a plutocracia passou a considerar que o apoio ao PT já não fazia sentido, e que era hora de reconduzir ao poder os tucanos, esses sim “amigos do peito” e gente de confiança.

Segundo o colunista Carlos Castelo Branco, a ilusão política é enorme e chega mesmo a ser maior do que a ilusão amorosa. Pois é, apesar da ilusão em contrário acalentada por próceres do partido, gente experimentada na política, o PT jamais foi aceito pela plutocracia como um dos seus. E deu no que deu…

Abandonado pela plutocracia a quem tanto tentou agradar, o PT foi, sem mais, enxotado do governo, mas, deu ruim: quem se beneficiou do golpe parlamentar não foram os tucanos, como estava nos planos, mas uma horda de bárbaros, cuja liderança era a sua mais completa tradução.

Cara de um, focinho do outro, Bolsonaro e bolsonaristas, como um vírus oportunista, valeram-se da franqueza do organismo – o sistema de poder que dominou a cena política desde a promulgação da Constituição de 1988 – para ameaçá-lo de morte.

Aí, eles erram na mão, segundo a plutocracia…

Depois de terem se valido à larga da presença de Paulo Guedes à frente da política econômica do governo, a plutocracia se insurgiu contra o projeto de poder da extrema-direita liderada por Bolsonaro. Neoliberalismo sim, mas com “democracia”: eis o mantra.

(Fim da recuperação da história recente…)

Sentindo-se ameaça pelo projeto de poder da extrema-direita, a plutocracia viu-se diante da tarefa urgente de fazer com o bolsonarismo o que foi feito com o petismo: expulsá-lo do jogo político! Esse era o objetivo, o meio encontrado foi o de recompor o sistema de poder implodido pelo impeachment de Dilma; o que implicava – fazer o quê? – trazer Lula de volta ao centro da cena, mesmo porque não havia outro com força eleitoral capaz de vencer Bolsonaro nas urnas.

Derrotar eleitoralmente Bolsonaro não bastava para recompor o sistema de poder implodido, e assim, derrotar o projeto de poder da extrema-direita. É aqui que entra o STF e Alexandre de Moraes, a quem a plutocracia delegou a tarefa de completar, a seu modo, o serviço inaugurado pela vitória eleitoral de Lula.

Para a recomposição do sistema de poder anterior ao impeachment – em defesa da democracia como se costuma dizer –, a plutocracia destinou ao STF um papel central e decisivo.

Lula fez “tchan”, caberia a Alexandre de Moraes fazer “tchun” para que a plutocracia, diante de Bolsonaro e da extrema-direita, possa fazer “tchan- tchan- tchan”…

É aqui que entra Elon Musk, um empresário que viu na instrumentalização da extrema-direita um boa oportunidade de fortalecer ainda mais os seus negócios. Uma parte importante dos negócios de Musk projetam um futuro “disruptivo”, futuro esse que parece, visto desde o presente, favorecer mais os seus parceiros políticos do momento que os seus adversários.

A extrema-direita falar em “liberdade de expressão”, sabemos todos, é de um cinismo sem limites. Mas quem está ligando para isso? Fato é que essa cantilena – e outras de mesmo jaez – serve para manter a base política da extrema-direita coesa e mobilizada, e o seu projeto de poder ativo e operante.

O projeto de poder da extrema-direita – a implantação de um Estado totalitário –, para atingir o seu objetivo final precisa, como condição “sine qua non”, que se instaure entre nós uma situação de anomia, isto é, de falência múltipla dos órgãos da República. (A Insurreição do dia 8 de Janeiro fracassou, em última instância, porque não havia uma situação de anomia entre nós.)

A acintosa provocação de Elon Musk contra Alexandre de Moraes (e contra o STF) – vazada em termos totalmente ajustados à narrativa da extrema-direita local e internacional – combina pressão sobre o governo, no sentido de atender os seus vários interesses econômicos no país, com a necessidade de se levar adiante o processo em curso de desgaste das instituições da República.

(Uma das características do tempo atual reside no fato de que explorar o ideário da extrema-direita virou um ótimo negócio.)

Acontece que o papel o que STF vem desempenhando para desconstruir a extrema-direita, sob a liderança proativa de Alexandre de Moraes, ao combater o “inimigo da democracia” nos moldes com que vêm sendo feito, colabora para que o processo em curso de desgaste das instituições em direção à anomia siga em frente.

A situação é tal que, mesmo perdendo no curto prazo, a extrema-direita vai acumulando forças, e o processo em direção a anomia não está dando mostras de que foi estancado. Pelo contrário…

Loading

Compartilhe este artigo
Seguir:
Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
1 comentário
  • Luiz, parabéns pelo texto! Somado ao que temos vivido, o meu desconforto é potencializado ao ler uma argumentação lúcida que descortina e justifica a aridez político-social encabrestada pelo argentarismo. Entendo perfeitamente que o objetivo de qualquer empresário seja auferir lucros, porém, feito isso, passar às dinâmicas de manipulação, exauridas de qualquer senso ético, arrotando soberba e idolatrado por uma direita, que me dá náuseas. Pois é, meu texto tem cunho bem intimista, talvez a educação que tenha recebido tenha passado por crivos derrubados por terra, hoje militam a serviço dos interesses do poder, venal. Triste.

Deixe uma resposta para ALAOR DE SOUZA JUNIORCancelar resposta

Descubra mais sobre Ensaios e Textos Libertários

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading

Ensaios e Textos Libertários