nos 132 Anos de Copacabana
‘Copacabana me recebeu de braços abertos. / Seus estreitos braços, entre o mar e a montanha. / Ruas, ladeiras, becos, avenidas. / Ombro com ombro, seus edifícios uniformes criaram a muralha que me serviu de amparo / Suas línguas de espumas coliformes lamberam e cicatrizaram minhas feridas. / Suas velhas marquises desbotadas foram meu abrigo nas horas de tormenta. / O néon, que iluminava as fachadas, clareou e coloriu o meu caminho. / Os sinais nos cruzamentos me despertaram nas horas certas: avançar, parar, atenção./ Alerta. / Em suas atlânticas calçadas surfei todas as ondas: sereia, equilibrista, cavalo marinho. / Espantada, descobri que Eros era o seu rei e morava em um quitinete na Barata Ribeiro. /Que Braguinha, Gullar, Drummond e Dolores também respiravam dos seus ares, partilhavam das suas alegrias, repartiam suas dores. / Em seus becos, ladeiras, cinemas e teatros matei minha fome secular insaciável. / Ah, a carne assada com vinho, da Domingos Ferreira! / Quem diria, eu, que de tão longe vinha, jantando ao lado de Bandeira. / Nas tuas praças embalei minhas crianças: a que carrego comigo aqui dentro, aquela que eu trouxe do subúrbio e todas que gerei em meu ventre. / Nas suas loucas esquinas fiz passeatas, protestos, comicios, abaixo-assinados, e lancei mil manifestos. / Participei de todo e qualquer ato. / Bebi das fontes da Chacrinha, escondidas no meio do mato. / Conheci todos os quintais, segredos e mistérios, por fora e por dentro: tamarindos curiosos espiando pela janela, jacas indecentes invadindo o apartamento. / E você, complacente, mostrando os dentes cariados, só fazia sorrir de cada surpresa. / Como eu tive medo, decadente e centenária senhora! / Como eu te amo, minha eterna e sempre terna princesa!
no livro ‘Rastros, Poemas escolhidos’, 2006.
a alma da nossa poeta
Muito bom! A arte sensibiliza!