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Zerar a dívida externa-uma luta anticapitalista-Arlindenor Pedro

arlindenor pedro
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Arlindenor Pedro

Olá, amigos e amigas.

No nosso último vídeo,discutimos aqui a necessidade de encontrar novos caminhos para superarmos esta crise em que estamos imersos, crise provocada pelo capitalismo

É evidente que não há saída nos parâmetros atuais que regem a sociedade capitalista.As lutas do movimento operário, lutas iniciadas com a fundação da Primeira Internacional em 1864, encerraram seu ciclo com o colapso da União Soviética em 1991.Agora, devemos buscar novos caminhos para derrubar o capitalismo e construir um novo momento para a humanidade, rumo à emancipação.Para isso, é imperativo destruir os pilares teóricos que sustentam a sociedade capitalista: o conceito de trabalho, mercadoria, mercado, dinheiro, Estado Nacional e dominação patriarcal devem ser superadosEsses são conceitos de uma sociedade em dissolução. Insistir neles apenas perpetuará a crise, levando-nos a um ciclo de eterno retorno.Precisamos, portanto, dar um salto qualitativo que nos leve da imanência à transcendência, criando novos valores. Criando uma outra visão de mundo, diferente da visão de mundo consumista do capitalismo

Uma alternativa, ainda no campo da imanência, para a superação desta crise estrutural, seria a luta pela anulação, pelo encerramento das dívidas,dos países insolventes.

Essa luta poderia abrir um novo momento no cenário internacional, levando-nos a novas experiências de relacionamento entre os seres humanos e entre os países.A experiência de Solon, legislador de Atenas que em 594 a.C libertou os camponeses da servidão por dívida, é um exemplo histórico que deve ser estudado.Naquele momento, sua medida tirou Atenas da crise e movimentou sua economia, apesar da insatisfação das oligarquias.As reformas de Solon abriram o caminho para uma nova sociedade na Grécia Antiga.

A questão central, no entanto, está no “day after” da abolição da dívida.De nada adianta eliminar a dívida de um país se continuarmos a desenvolver um sistema que repete os modos de produção existentes, que inevitavelmente levarão a novas dívidas.A abolição da dívida deve ser acompanhada pela busca de novos caminhos que nos levem à transcendência, insisto aqui.A Revolução Russa de 1917 e a Revolução Cubana são exemplos de tentativas de transformação que ficaram pelo caminho, presas que foram das estruturas do mercado e do valor de troca, em vez da priorização do valor de uso, que continuou existindo após estas revoluções.

O pensamento do canadense Moshe Postone, de que

“a dominação social no capitalismo no seu nível mais fundamental não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas porestruturas sociais abstratas criadas pelas próprias pessoas”,

In, Tempo Trabalho e Dominação Social

deve ser entendida e é fundamental neste momento, pois nos leva a priorizar a necessidade de criar novas formas de relacionamento entre as pessoas, que impeçam o domínio da mercadoria sobre os seres humanos.É necessário impedir que o fetiche da mercadoria conduza as ações humanas!

O capitalismo criou um sistema em que praticamente todos os países são devedores de um imenso sistema financeiro que opera acima das nações, e são parte integrante do capitalismo.Países como os EUA, com a maior dívida externa do mundo, podem sustentar suas dívidas graças ao poder de suas forças armadas.Mas, para países como Líbano, Sri Lanka, Argentina, Zâmbia, Venezuela e Grécia, e muitos outros , a situação de inadimplência significa a paralisação de suas economias e a ausência de perspectivas de desenvolvimento.

Sei que a proposta de anulação das dívidas seria atraente para os países sufocados por obrigações financeiras, mas que enfrentaria grandes desafios.Credores internacionais e instituições financeiras resistiriam, é fato, temendo impactos negativos em seus próprios sistemas econômicos.É certo que bancos irão falir com tais medidas.Além disso, a anulação de dívidas poderia levar à irresponsabilidade fiscal, com países assumindo novas dívidas na expectativa de perdão futuro.

Mas, o momento de crise exige soluções radicais. Não existe outra saída, mesmo nos marcos do capitalismo.

O fato é que a acumulação capitalista encontrou seus limites internos com a terceira revolução industrial, levando o capital financeiro a dominar a superestrutura produtiva e criar bolhas especulativas.Os Estados, as autarquias e os orçamentos públicos e privados se endividam em montantes inéditos, prisioneiros de uma necessidade de um dinheiro sem valor, um capital fictício, que transformou as economias internacionais num grande cassino, sem nenhuma relação com a realidade.

Os países endividados só têm então uma saída:

exigir a suspensão imediata de suas dívidas para poder recomeçar.

Eles devem se reunir em um fórum dos endividados, semelhante ao G-20 dos países ricos, e traçar uma estratégia comum de enfrentamento perante os credores.

A questão da dívida deve ser colocada na mesa internacional.

Ou se busca uma solução para esses países, ou todos perecerão, inclusive os mais ricos.

Está mais do que claro que esta crise avança da periferia para o centro, e a barbárie chegará inevitavelmente a todos os países.

Não existe salvação nos parâmetros atuais.Ninguém escapará!

Reafirmo, finalizando, que a questão central está no “day after”.

A abolição da dívida deve ser acompanhada pela construção de uma nova sociedade, livre dos pilares que sustentam o capitalismo.Não devemos insistir em experiências que não deram certo, como o chamado “socialismo real”.Devemos aprender com sociedades que sobreviveram fora dos limites do capitalismo, como as indígenas, andinas, quilombolas e ciganas, ou iniciativas como a recente carta constitucional do Chile que infelizmente ainda não teve forças para se impor.

Encerro aqui com um pensamento baseado em uma uma citação do pensador alemão Robert Kurz:

“O grande corte da anulação das dívidas não deve ser interpretado como solução definitiva e superação do capitalismo.A exigência da anulação de todas as dívidas impagáveis pode se tornar um motivo importante do novo movimento social mundial.”

Serra da Mantiqueira, setembro de 2024

Arlindenor Pedro

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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