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Arte e Modernidade-a arte de Cunca Bocayuva

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 5 leitura mínima

Em mundo totalmente dominado pelo fetiche da mercadoria, a arte se sobrepõe como um potente instrumento de resistência ao domínio total da nossa humanidade — a nossa transformação em “sujeito automático”. O que consistiria, em tese, na ideia de que nesta sociedade os indivíduos não agiriam como agentes racionais e autônomos, mas sim como produtos e reflexos das forças sociais e econômicas que os cercam. Existiria, então, um papel passivo dos indivíduos nas estruturas sociais capitalistas, onde seus comportamentos e decisões seriam influenciados por condições econômicas e sociais que escapariam muitas vezes ao seu controle consciente.

Mas, embora isto seja real, é claro também que existe neste sujeito um grau de humanidade presente que o faz entrar em êxtase diante de situações provocadas em áreas sensíveis da sua existência. Isto nos provaria, em resumo, sendo uma falácia afirmação corrente, de alto teor de darwinismo social, de que o “homem seria o lobo do homem”. E é aí, sem dúvidas, onde a arte opera, tentando resgatar este ser humano coletivista e solidário.

Por operar no campo sensitivo de nossas emoções, o artista, quando não se rende ao “canto de sereia” da sociedade da mercadoria, pode alavancar situações em que grandes parcelas dos seres humanos, em contato com a arte por ele criada, possam se dar conta da existência da escravidão a que estão submetidos. E, desta forma, fora do estágio de alienação, estejam aptos a buscar novos caminhos-caminhos emancipatórios, que os tirem do torpor criado pela sociedade de consumo.

Cunca Bocayuva é um artista que se movimenta neste campo! O campo das emoções humanas. É neste sentido que sua arte tem um importante significado. Ativista reconhecido no campo da luta social no Rio de Janeiro, tem atualmente duas trincheiras de luta: a Universidade, onde desenvolve projetos no campo do conhecimento, e o da prancheta de desenhos, onde nos traz imagens cheias de conteúdos emancipatórios. Em uma realidade onde o fetiche da mercadoria aprisiona grande parte dos artistas que se rendem aos ditames da Indústria Cultural, Cunca é uma exceção: suas criações explodem como ferramentas de uma luta do ser que visa escapar das amarras do capitalismo. Infelizmente, não chegamos a um estágio onde aos artistas usem de sua sensibilidade e conhecimento para se contraporem ao mundo decadente da sociedade produtora de mercadorias que está levando o mundo a exaustão e ao próprio perigo de extinção da humanidade. Mas, tenho certeza de que uma nova realidade irá se impor: a da ação em bloco dos artistas, em todas as áreas de expressões culturais, que apontarão para outra forma de se viver. Uma sociedade de uma humanidade emancipada que substituirá o capitalismo.

Dedicamos a ele, Cunca Bocayuva, uma exposição neste nosso blog e aproveitamos para fazer um convite a você para que se detenham na sutileza do seu traço e na profundidade do seu conteúdo, visitando o carrossel de suas últimas obras. Por ora, deixamos aqui a mostra de alguns de seus desenhos expostos em um vídeo organizado por ele. Um grande abraço,

Serra da Mantiqueira, dezembro de 2024.
Arlindenor Pedro.

A arte de Cunca Bocayuva

Pedro Claudio Cunca Bocayuva.

Professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ. Coordenador do Laboratório do Direito à Cidade e

Território. Doutor em Planejamento

Urbano e Regional

“O pós-capitalismo é antecipado na chave estética do desenho digital. A paixão por uma nova hegemonia nos remete a uma cartografia crítica como suporte para navegar e usar os territórios, através das redes, pela poética e pela política. A arte serve de abertura cognitiva de inspiração para a imaginação e o traçado de novos possíveis, instrumento necessário de experiência para o devir mundo civilizatorio, da nossa reinvenção como corpo e consciência em presença no planeta ferido que herdamos do desastre da modernidade do capital nas suas muitas faces de fascismo, colonialidade e guerra”.

 

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
1 comentário
  • Recebi no WhatsApp.
    Caro Arlindenor, obrigado por oferecer mais do que uma homenagem. Devo confessar minha surpresa com um texto tão generoso. Faço setenta anos amanhã e aprecio o fato de que pessoas como você podem surpreender ao saber combinar o posicionamento crítico e o poder de análise com o uso audacioso do espaço cibernético, apontando e arriscando na tarefa de entendimento e no sentimento do pulsar do mundo em crise. Me sinto identificado com seu esforço pela inventividade, atualidade e criatividade para enfrentar o sistema com as ferramentas da cooperação intelectual e da inteligência coletiva, manejando as ferramentas digitais na direção do social, do público e do comum. A inteligência coletiva em rede se faz na soma de milhões de interações “celulares” que se realizam no espaço virtual processo sustentado por quem cria suportes como o do utopiasposcapitalistas!

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