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Segunda – feira – Arlindenor Pedro

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 2 leitura mínima

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Com o bater de sua mão o relógio parou de tocar.De um salto alcançou a cozinha. Ao abrir a porta da rua sentiu o frio cortante; recuou por momentos. Lá fora estava o poço . Tomou coragem e o alcançou. Estrelas brilhavam na alvorada que não tardava. Ao largo, no portão, vultos negros deslizavam silenciosos, perdendo-se na escuridão . Eram seus companheiros. Iam para o trabalho. Pouco  tempo fazia que os mesmos vultos tinham chegado e agora já partiam. Apanhou a lata com água e arrepiou-se com o gelo no rosto. Usou a escova. Colocou-a na caixa em cima do poço. Entrou na meia água e acendeu o fogão. Andava com cuidado. Não queria tropeçar nos corpos que casa a dentro ressonavam. Tudo estava pronto: era só esquentar a marmita com o de sempre. Tudo preparado na véspera pela mulher. Dentro da marmita a pasta negra começou a borbulhar. Deixou mais alguns minutos- questão de hábito,  para não azedar! Do quarto ouviu a voz rouca da Maria:- Zé, toma o café ! Não dava tempo. Nunca dá tempo, pensou. Entrou na sala. Olhou para as pequenas sombras espalhadas pelo chão -seus filhos! Esticou o pescoço tentando alcançar o quarto. Lá dentro a mulher voltara a dormir. Com passos rápidos saiu. Na rua de terra, molhada pelo sereno, os vultos iam se perdendo na névoa . Respirou fundo o ar da madrugada. Tossiu. Porcos, dezenas deles atravessavam o caminho em direção às valas que margeavam a estrada  e  que serviam de esgoto. Ergueu a gola do casaco roto e apressou-se. Breve iria passar o velho ônibus : -como sempre estaria lotado, pensou. Iria repetir o ciclo: o ônibus, o trem…a fábrica.

DOPS,agosto de 1975

Arlindenor Pedro

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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