( publicado em “ O Olho da História” ) , n. 18, Salvador (BA), julho de 2012.
Imagem de Pawel Kuczynski
A morte do filosofo alemão Robert Kurz, ocorrida no dia 18 de outubro em Nuremberg, representou um duro golpe nas fileiras daqueles que em todo o mundo buscam frear a atual marcha dos seres humanos na direção da barbárie, que põem em perigo a nossa própria espécie .
Kurz foi um crítico impiedoso dos conceitos gerais do chamado marxismo oficial, elaborado pela esquerda dogmática e positivista que ajudou a burguesia liberal a erigir a sociedade da mercadoria, em que atualmente o mundo está atolado, levando a humanidade a uma situação de penúria sem precedentes.
Para ele o movimento socialista serviu, em ultima instância, como avalizador da sociedade de consumo em que vivemos. Com seus escritos, propunha, então, um novo olhar para as obras de Marx ressaltando nela os estudos que ele fez sobre o trabalho abstrato e fetiche da mercadoria. Mostrou que estes estudos foram abandonados pelo marxismo oficial, que optou em ver dogmaticamente o proletariado como o motor principal de mudanças na sociedade, omitindo-se na luta pela destruição do Estado e a construção de uma nova sociedade, onde a mercadoria e o dinheiro não mais seriam os elementos de intermediação entre o homem e a natureza.
Robert Kurz teve muita coragem e ousadia!
Propunha uma revisão completa dos conceitos iluministas que nortearam a construção da sociedade reacional que se firmou plenamente após a terceira revolução industrial, onde a incorporação da ciência ao processo produtivo levou ao declínio da classe trabalhadora , seja do ponto numérico, seja do ponto de vista de inserção no processo produtivo , tornando-a, pouco a pouco, secundária ou mesmo, em muitos aspectos, desnecessária para economia capitalista, substituída que foi pelas máquinas criadas pela robótica . Insere-se , portanto , na vertente de pensadores marxistas que se preocupavam com a impossibilidade do homem moderno encontrar sua plena existência num mundo dominado pela dinâmica da sociedade das mercadorias.
Nos últimos tempos, através de seu acurado conhecimento sobre as verdadeiras causas da tragédia contemporânea, que nos aproximam de uma grave crise na nossa história, dado ao poder de destruição que acumulamos, Kurz se tornou uma referência teórica e de princípios, formulando conceitos que nos ajudam a encontrar a saída do desastre eminente.
A importância do pensamento de Robert Kurz é muito grande, devido ao fato de se tornar o continuador dos conceitos libertários da humanidade, à altura das ideias expressas em obras como “História e Consciência de Classe-Estudos sobre a dialética marxista” , de György Lukács e do “Estudo sobre a teoria do valor” , de Isaak Rubin, obras da década de 20, que foram pioneiras no estudo do conceito do fetiche da mercadoria na economia capitalista, formulado por Marx, e que não foi levado em conta pelos pensadores da Terceira Internacional.
À partir das pesquisas e formulações de alguns integrantes da Escola de Frankfurt a teoria do valor foi sendo amadurecida e as condições para o desenvolvimento do pensamento de Kurz foram então criadas : ele consegue dá um passo adiante em suas formulações avançando em um campo teórico que hoje convencionamos chamar de crítica do valor.
Kurz foi um autor prolífico em artigos e ensaios e alguns deles – como Razão Sangrenta, Ontologia Negativa, Tábula Rasa e Dominação sem sujeito ( publicados em 2004 e reunidas em um livro que tomou o nome de Razão Sangrenta ) tornou – se um marco por sua critica radical ao Esclarecimento ou Iluminismo . Uma crítica à própria modernidade e à sociedade capitalista , considerando-a uma sociedade baseada na abstração das qualidades sensíveis e na racionalidade assentada exclusivamente no valor.
Tais formulações e o conceito de dissociação sexual no capitalismo absorvidas por influência dos escritos de Roswitha Scholz , em determinado momento, fez inclusive que a própria revista Krisis, criada por Kurz em 1986, e onde ele publicava sua ideias, divida-se, dando lugar então a uma nova revista criada com um conjunto de teóricos, que passou a ter o nome de Exit.
Mas, o chegar de Kurz e seus companheiros às formulações que os fazem originais no que diz respeito ao tipo de combate que empreendem ao sistema capitalista, não pode ser visto na sua gênese (propondo a ruptura com conceitos como trabalho, luta de classe, progresso, etc.), sem integra-lo num grande movimento de crítica ao mundo das mercadorias, movimento esse que tem o francês Guy Debord como um de seus expoentes mais importantes.
Debord pertenceu à outra geração de pensadores europeus e sua militância politico-teórica se deu num mundo relativamente diferente do de Kurz: a Europa de pós-guerra.
Ele não conheceu a internet na sua plenitude e nem o estágio de globalização da economia do mundo contemporâneo, que fez parte da vida de Robert Kurz e de seus companheiros da Exit!
A Sociedade do Espetáculo que é a obra mais conhecida desse importante teórico francês, não é muito fácil de ser lida devido ao caráter fragmentário e bastante abstrato de seu texto, além de certa dificuldade para ser encontrada no Brasil.
Assim como as obras de Robert Kurz, a obra de Debord foi claramente condenada ao esquecimento pela mídia da burguesia liberal e, assim como a de Kurz, tachada de apocalíptica.
Desse modo suas ideias também não deveriam ser levadas a sério.
Segundo o filosofo alemão Anselm Jappe, autor do livro Guy Debord, isto se dá devido ao fato de que sua obra como um todo é inaceitável para aqueles que dominam a mídia em todo o globo. Quando são divulgadas, suas ideias são banalizadas,como por exemplo, a voz corrente nos bancos acadêmicos e nos estúdios de televisão, sobre o que é a sociedade do espetáculo.
Recorrendo a Anselm Jappe, diria também que
“devemos lamentar essa desinformação? Quando li Marx pela primeira vez fiquei surpreendido por não ter ouvido falar dele nas escolas. Quando comecei a entender Marx, isso deixou de me surpreender.”
Também as teorias de Marx foram deturpadas, ou reduzidas a uma simples doutrina econômica acerca do empobrecimento pretensamente inevitável do proletariado, para em seguida, por isso não ter acontecido totalmente, ser denunciada como uma teoria sem valor científico.
Para compreendermos a teoria de Guy Debord precisamos saber, preliminarmente, o que é, de fato, aquilo que chamamos de Sociedade do Conhecimento – conceito que é amplamente aceito para nomearem-se as principais características de um tipo de sociedade que vai emergindo e substituindo a sociedade industrial, que conhecemos até então.
Esta sociedade, fruto da revolução tecnológica que tomou força a partir dos anos 50, tem, grosso modo, como principais características: 1. a globalização das economias e dos costumes, moldando um mundo cada vez mais igual, onde é reproduzindo o estilo de vida da matriz ideológica – a sociedade americana; 2. rápidas mudanças tecnológicas, fazendo com que o tempo útil da mercadoria seja cada vez menor, acentuando nela o seu valor de troca; 3. desmaterialização das mercadorias, lá onde o mercado dos intangíveis vai substituindo o dos tangíveis, fazendo com que a imagem do produto tome o lugar dele próprio, como objeto de consumo; 4. customização dos produtos, onde o consumo é cada vez mais dirigido, criando-se tribos definidas para este fim, além, é claro, da extrema concorrência a nível global.
Mas, o conceito de Sociedade do Conhecimento, por si só, não é suficiente para que possamos ter uma compreensão exata do mundo em que vivemos. Para isto teremos que utilizar outros conceitos, mais específicos e menos abrangentes do que o da Sociedade do Conhecimento.
Ora, tornou-se um lugar comum dizer que uma teoria tem caráter científico quando ela é demonstrável e pode ser aplicada numa realidade universal.
Num caso específico da filosofia, e da forma de se observar a sociedade capitalista contemporânea, parece-me que as ideias desenvolvidas por Debord no livro que denominou Sociedade do Espetáculo, e que é relatada através do filme do mesmo nome, podem ser plenamente demonstráveis no mundo contemporâneo: ela nos diz que a mercadoria é o nexo que estrutura a sociedade contemporânea – o mundo do presente-vivido, e me parece que este é um conceito concreto, visível a todos, passível de levarmos em consideração.
Vemos nos tempos atuais o capitalismo completar o seu ciclo final, após ter-se globalizado totalmente, banindo da terra outros modos de produção, que ainda insistiam em sobreviver.
Podemos dizer que ele parte agora para um novo momento – seu momento mais importante, o ápice da sua existência: a conquista das almas de todos os seres humanos.
A ideia é a de uma sociedade em que tudo se torna descartável.A busca por objetos é incessante e parte de uma equação que traduz a compreensão de que ter esses objetos é sinônimo de felicidade. O consumo, então, acaba por reger nosso modelo de vida atual, definida pelo excesso de ofertas, demandas vorazes e liquidez destes mesmos objetos. A atualidade seria, então, marcada por uma “cultura das sensações”, na qual imperaria o culto ao corpo e a beleza e certo hedonismo: tendência a querer obter permanentemente o prazer e evitar o sofrimento.
Desta forma, vemos o capitalismo tornar a todos que estão acima da linha de pobreza em consumidores, com objetos customizados para todos os gostos, com preços plenamente alcançáveis para aqueles que estão dentro do mercado de consumo, onde o conceito de “ter” que antes tinha substituído completamente o conceito de “ser”, dá lugar ao conceito do “parecer”, isto é: não é mais necessário se possuir um produto se uma cópia perfeita pode me dar a mesma sensação de satisfação, dentro do grupo social que frequento, pois o que importa é a sensação que aquela mercadoria me dá.
Globalizando os mercados e procurando transformar a humanidade em um um exército de consumidores, o capitalismo abriu mão do trabalho como o elemento determinante da sua existência, através do uso continuado e cada vez mais incessante da tecnologia, notadamente da tecnologia digital, sucessora da tecnologia analógica , onde a robótica substitui com maior frequência o trabalho humano , criando paradoxalmente uma crise que ameaça a sua própria existência, pois o seu núcleo central passa a sofrer de uma insuficiência dinâmica devido ao fato de que a mais-valia gerada é crescentemente insuficiente para remunerar o volume de capital existente em nível adequado, tornando-se por isso incapaz de sustentar o crescimento do sistema.
A descaracterização do trabalho e a transformação de todos em meros consumidores, eis aí a base de entendimento desta nova sociedade.
Regra geral, a observação das características desse tipo de sociedade foram feitas pelo filósofo francês Guy Debord, na década de 60, influenciando os jovens nas barricadas de Paris e em todo mundo.
Naquela ocasião, ele tornou claro que o espetáculo, adjetivo com que nomeava essa nova característica da sociedade contemporânea, seria o resultado e o projeto do modo de produção existente – que entendo eu ser o modo de produção capitalista – erigindo para um novo momento da humanidade, uma a visão de mundo (weltanschauung) da burguesia liberal que, em última instância, desenvolveu até as ultimas consequências os preceitos do mundo esclarecido.
Portanto, o espetáculo seria o elemento mais importante da atual sociedade produtora de mercadorias: como todo intercâmbio entre os indivíduos só se realiza por intermédio das mercadorias, então os indivíduos converter-se-iam em espectadores do movimento autônomo das coisas, tornando-se, inclusive, eles próprios mercadorias.
No espetáculo já não predominaria simplesmente a produção mercantil, mas a imagem. A separação, ou alienação do trabalho, consumada no âmbito da produção capitalista retornaria como falsa unidade no plano da imagem. O espetáculo seria a autonomização das imagens, doravante contempladas passivamente por indivíduos que já não vivem em primeira pessoa. Ali, a imagem não reflete apenas a mercadoria, como numa banal teoria pseudocrítica do consumo, mas o conjunto da relação social capitalista baseada na separação.
Por isso, o espetáculo não seria simplesmente um conjunto de imagens, um abuso do mundo visível, e sim um tipo particular de relação social entre pessoas mediadas por imagens.
Tratar-se-ia, evidentemente, das relações de produção capitalistas, radicadas na alienação do trabalho, isto é, na total indiferença da produção em relação à vontade e ás necessidades dos produtores. A contemplação passiva das imagens, que foram escolhidas por outros, substituiria o vivido e próprio poder de determinar o futuro do indivíduo. O espetáculo torna-se o capital concentrado a tal ponto que se transforma ele próprio em imagem.
O espetáculo é, portanto, o capital que esgotou a fase de acumulação primitiva – dissolução dos últimos laços pré-capitalistas que ainda restavam como limites exteriores do capitalismo – e passa a reproduzir essa mesma acumulação como seu elemento interior e incessantemente renovado.
A separação dos homens de suas condições de vida foi estendida agora ao mundo todo e completada, não restando ao capital outra saída senão intensificar esta separação, privando do homem dos seus aspectos mais elementares – seus desejos, afetos, seus sonhos. Isolados, separados num mundo onde não tem mais nenhum papel ativo, sucumbe o homem a uma total dominação, invisível e implacável.
Seria o racionalismo pleno de um mundo onde até o sonho é previsível e controlado.
Sou da opinião de que esta forma de observar o mundo, este pensamento de Guy Debord, insere-se na vertente das obras iniciadas, no inicio do século XX com os pensadores da Escola de Frankfurt, ou do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Frankfurt, onde eles fazem a critica do valor, de forma diferenciada da escola marxista oficial, presente principalmente nos partidos comunistas europeus.
Embora em nenhum momento, Debord, tenha comungado abertamente das teses desta Escola, suas ideias, assim como suas atitudes políticas, nos levam a ver similitudes no pensamento dele com o de muitos teóricos daquela Escola, que acabam revendo os conceitos gerais elaborados pelo iluminismo, que servem de base para o pensamento ocidental da atualidade e dão suporte para a sociedade da mercadoria.
Uma das obras mais conhecidas desta Escola e que nos leva a repensar esses conceitos é a A Dialética do Esclarecimento de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Editada em 1947, em pleno pós-guerra, transformou-se em importante documento de análise filosófica da historia humana, e em particular, dos conceitos gerais do Iluminismo, que aqui eles chamam de Esclarecimento.
As consequências das análises de suas obras levavam a um caminho diferente daquele do marxismo oficial, profundamente integrado ao pensamento leninista e já nos finais dos anos 20 e início dos anos 30 do século passado pelo pensamento estalinismo, que vigorou até bem recentemente e dominava a maioria dos partidos comunistas do mundo.
Seus estudos utilizavam-se tantos dos pressupostos teóricos marxistas como da psicanálise freudiana, integração que irá perpetuar-se ao longo da produção teórica da maior parte dos membros do Instituto.
A Dialética do Esclarecimento é uma obra que tem um inestimável valor, por procurar responder as perguntas frequentes que assolam o homem contemporâneo: por que após o avanço inquestionável da ciência que deu ao homem condições de superar a maioria dos males que aflige a sua existência, como a fome, a desigualdade, o medo e a exploração do homem pelo homem, ao invés de conduzir-se para um mundo de plena emancipação, dá testemunho do curso de uma nova barbárie?
Os autores, num escrito que desenvolveram propositalmente de forma assistemática, num texto complexo e difícil, nos fazem mergulhar nessa problemática, levando-nos para as origens da civilização: vendo nos mitos e na civilização clássica grega a gênese do esclarecimento, colocando-o como uma forma de libertação que o homem encontrou da natureza.
Deixando de abordar a gênese do esclarecimento a partir do pensamento ilustrado dos filósofos do século XVIII, notadamente dos conceitos de Kant, que criou na modernidade as bases racionais da sociedade em que vivemos, Adorno e Horkheimer partem do axioma de que “o mito já é o esclarecimento e esclarecimento acaba por reverter à mitologia”, e por isto o retornar de aspectos da interpretação da Odisseia de Homero, mormente os relacionados ao drama de tipo prometeico entre auto conservação e sacrifício, que de certa forma aborda a racionalidade humana, presente na civilização moderna.
No estudo do conflito dos homens com os deuses e na sua luta pela libertação, e condução de sua história, longe das amarras das forças naturais, subjugando-a aos seus propósitos, o texto nos leva a entender que longe de se tornar livre o homem cria para si um novo senhor, que o aprisiona: a lógica cientifica, a forma racional de ver e se relacionar com a natureza, que o afasta do mundo real.
Querendo ser livre o homem torna-se escravo da técnica e cria um mundo reificado aonde os valores humanos vão desaparecendo.
O desencanto do mundo na verdade cria um mundo desumano. Para eles o mito converte-se em esclarecimento e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento do seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder.
Debord também se preocupava com esta questão, isto é, a impossibilidade do homem moderno encontrar sua plena existência num mundo dlominado pela lógica de ampla oferta de mercadorias.
Porém, o pensamento de Debord vai mais além do que o que alcançou aquele dos estudos dos filósofos da Escola de Frankfurt, pois o aspecto mais atual do seu pensamento está em interpretar esta situação do homem contemporâneo à luz da critica de Marx ao valor, partindo do estudo da visão marxiana desenvolvida na sua Critica da Economia Política, mas colocando em relevo o conceito de fetiche da mercadoria.
Em ultima instância, entenderíamos o pensamento de Marx como uma constatação e uma critica da redução de toda a vida humana, no capitalismo, ao valor, isto é, à economia.
Opondo-se a interpretação dos partidários de Marx, que na geração deles viam a questão da exploração econômica como o mal maior do capitalismo e desta forma propunham uma nova sociedade onde a economia existiria, mas não seria usada para a exploração de uma classe sobre a outra, Debord, remetendo ao próprio Marx, discordaria dessa visão teórica e concebe a esfera econômica, como ela própria, oposta a totalidade da vida. E ai está sua originalidade. E isto será então retomado por Kurz.
Recordando duas consequências da critica do fetichismo que Debord soube apreender com grande antecedência, assim nos diz Anselm:
¨em primeiro lugar, a exploração econômica não é o único mal do capitalismo, dado este ser, necessariamente, a negação da própria vida em todas as suas manifestações concretas. Em segundo lugar, nenhuma das inúmeras variantes no interior da economia baseada na mercadoria pode realizar uma mudança decisiva.
Por isso é que seria totalmente inútil esperar uma solução positiva do desenvolvimento da economia e da distribuição adequada dos seus benefícios.
A alienação e a expropriação constituem o núcleo da economia mercantil que, além do mais, não poderia funcionar de modo diferente, e os progressos da ultima são, necessariamente, os progressos das duas primeiras. Isso constitui uma autêntica redescoberta, considerando que o “marxismo” (refere-se aqui ao “marxismo” dito oficial), a par da ciência burguesa, não fazia “critica da economia política”, mas limitava-se a fazer economia política, levando em conta apenas os aspectos abstratos e quantitativos do trabalho, sem discernir ai a contradição com o seu lado concreto.
Este marxismo já não via na subordinação da vida inteira às exigências da economia um dos efeitos mais desprezíveis do desenvolvimento capitalista, mas, pelo contrário, um dado ontológico cuja evidenciação até parecia um fato revolucionário.”
A “imagem” e o espetáculo de que fala Debord devem ser entendidas como um desenvolvimento posterior da forma-mercadoria. Têm em comum a característica de reduzir a multiplicidade do real a uma única forma abstrata e igual. De fato, a imagem e o espetáculo ocupam em Debord, o mesmo lugar que a mercadoria e os respectivos derivados que ocupam na teoria marxiana.¨
Mas, é importante frisarmos novamente que esses caminhos já tinham sido trilhados por György Lukács, no seu polêmico livro História e Consciência de Classe, que sem dúvidas, influenciou o pensamento de Debord, pois foi o primeiro dos estudiosos de Marx que retomou o conceito de fetichismo da mercadoria.
Tal conceito que tinha aparecido em Marx na Critica da Economia Política, foi relegado ao esquecimento pelos marxistas posteriores, tais como Engels, Kautsky, Rosa de Luxemburgo, Lenine e é esse conceito que está na base do pensamento de Debord quando elabora a teoria da Sociedade do Espetáculo.
Muito de Kurz estava em Debord que seguia e aprofundava os caminhos abertos por este precursor da crítica radical do valor. Debord foi o primeiro a levantar o véu do verdadeiro espetáculo do capitalismo que é o horror da vida-não-vivida num mundo com um modo de produção em extinção.
Serra da Mantiqueira, junho de 2012
Arlindenor Pedro