Após o texto convidamos você para assistir a palestra do professor Eduardo Viveiros de Castro
“variações sobre o começo e o fim da humanidade e do mundo ”
Há muito tempo a Academia. ( ou seja : o saber produzido através dos quadros da Universidade ) não nos apresentava um pensador tão completo como o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro .
Divorciada da realidade do nosso país, vivendo em um mundo irreal, envolvidos em seus estudos fechados, estéreis e de caráter eminentemente setorial , os pensadores de nossas universidades pouco têm contribuído para o que o país entenda o momento que atravessamos , manifestando em muitos casos opiniões ideológicas , sem nenhum compromisso com a verdade.
Grosso modo, preocupam-se apenas com a construção de imagens pessoais que lhes possibilitem galgar prestígio na ” carreira acadêmica ” , capturando verbas e infra-estrutura em projetos destituídos de um valor efetivo, transformando-se em estranhos ” especialistas ” , dos mais diversos assuntos, carecendo claramente de uma visão da profundidade da crise que atravessamos .
Nesse sentido , o máximo que conseguem é serem avalistas em ridículos programas de tv e rádio, montados pela mídia tupiniquim, totalmente carentes de conhecimentos das reais necessidades do país .
Longe vai, portanto, o tempo , como nas décadas de 50 e 60, em que a Universidade ainda pensava e contribuía para um projeto de Brasil !
Viveiros de Castro , para nos é uma surpresas agradável, pois foge a todos esses parâmetros .
Embora um cientista renomado, aqui e no exterior, por seus estudos na área da etnologia, tanto pelo seu rigor de pesquisa quanto pela escolha de seus objetos de estudos (as populações indígenas da América ), seu pensamento é instigante e renovador , a ponto de seu colega e mentor, Claude Lévi-Strauss dizer publicamente :
“Viveiros de Castro é o fundador de uma nova escola na antropologia. Com ele me sinto em completa harmonia
Mas isto não restringe o seu estudo a uma mera constatação da tragédia dos povos ameríndios ,pois ele tem um caráter universal , plenamente identificado com os dias que vivemos, e , nesse sentido , nos fazendo aprender com essas civilizações que estão desaparecendo .
Eduardo Viveiros de Castro não se contenta em falar para os cientistas e para as plateias universitárias ( onde , por sinal, é uma grande sensação ). Seu pensamento vai além do ambiente universitário e a sua voz , na defesa dos povos indígenas e na conscientização sobre a catástrofe ambiental que vive o planeta, tornou-se um importante parâmetro para aqueles que estão preocupados com o nosso presente e o nosso ( improvável ) futuro.
O que nos emociona na voz deste ainda jovem antropólogo é a sua coragem , que destoa da voz recorrente dos pretensos cientistas que vislumbram avanços para a humanidade dentro do atual modelo que nos é imposto pelo capitalismo contemporâneo .
Sua análise do mundo sedimentada numa base teórica à partir do perspectivismo ameríndio, que tem nele e na figura do antropólogo Phillipe Descola seus maiores defensores , se choca com a visão consumista e predadora da sociedade da mercadoria, que exaure o planeta e projeta a humanidade para a grande tragédia que poderá nos levar a extinção .
Mais do que um cientista acadêmico Eduardo Viveiros de Castro é um ativista social e é comum escutarmos sua voz sempre engajada nas lutas libertárias , ora através de suas concorridas palestras ou mesmo pelas forças das redes sociais, que ele tão bem sabe usar .
Serra da Mantiqueira, março de 2014
Arlindenor Pedro