O termo fake News parece foi definitivamente acrescentado ao vocabulário nacional e está presente aos debates do dia-a-dia no âmbito da Política. As últimas eleições no mundo e no Brasil trouxeram este termo à tona e hoje ele é estudado até mesmo nas aulas de ciências sociais do nível médio das escolas. Ele geralmente se articula com articulações de ideias onde a verdade dos fatos não têm nenhuma relevância.
Creio que a intensa disseminação desta forma de efetuar política se articula com a característica de sociedade erigida no século passado a que o pensador Guy Debord alcunhou de“ Sociedade do Espetáculo”.Este termo estaria então intimamente ligada à economia, onde o valor de uma determinada mercadoria nos aparece cada vez mais com o seu valor de troca amarado a uma ficção abstrata, sem um lastro efetivo.
Notemos que este lastro existiu durante um período, oficialmente a partir do Acordo de Bretton Woods, que se firmou num encontro realizado julho de 1944, próximo do final da Segunda Guerra Mundial, quando representantes de cerca de 45 países definiram os parâmetros que iriam reger a economia mundial pós-guerra. Ele tomou este nome em razão de ter se realizado na cidade americana de Bretton Woods, situada no estado de New Hampshire, mais precisamente no hotel Mount Washington, recebendo então o nome da cidade que sediou o encontro. Ali, pela primeira vez foi negociada uma forma de unir e governar as relações monetárias entre diferentes países. Neste encontro, como resoluções mais importantes, foi definido que o dólar americano seria a moeda padrão das transações internacionais; que haveria nas operações do mercado internacional a conversibilidade das moedas do país participantes em dólar americano com uma variação máxima de 1% para cima ou para baixo, sendo definido também o lastro do padrão dólar-ouro, onde um dólar seria equivalente a 35 gramas de ouro. Neste encontro foram criadas também importantes entidades econômicas, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Este Acordo funcionou bem durante 20 anos entre os países. Entretanto, as dívidas do governo americano cresceram e, além disso, a partir de 1965 a inflação norte-americana entrou em um ciclo de alta. A partir daí, o Federal Reserve, banco central norte-americano, mudou sua política de baixas taxas de juros a fim de controlar a inflação. Na verdade, ele deixou de existir inteiramente quando, a partir de 1971, os EUA o abandonaram em razão das crescentes necessidades de financiamento decorrentes da Guerra do Vietnã e o mergulho dos EUA numa política de endividamento, isto já no Governo Nixon.
Criou-se então um tipo de economia onde o valor dos produtos, em última instância, se construiria através da credibilidade da nação mais forte, no caso os EUA, que o sustentaria a partir das forças de suas estruturas militares. Não uma economia real, mas uma economia de ficção, onde se destaca o setor financeiro, de onde emerge uma economia de cassino, onde a moeda não tem valor real e sim aquele ditado pelas armas. Uma economia onde o mercado futuro joga um importante papel.
Seria inevitável então que esta forma de fazer o comércio entre os seres humanos se refletisse nas suas relações sociais. A Sociedade do Espetáculo, estudada pelo pensador francês Guy Debord é produto imediato desta forma de relação comercial. E sem dúvidas, onde as Fake News reinam absolutamente, atingindo diretamente as relações políticas entre os seres humanos. Enfim: uma sociedade da mentira!
Serra da Mantiqueira, julho de 2023
Arlindenor Pedro
Referências :
[https://utopiasposcapitalistas.com/2011/12/17/guy-debord-e-a-sociedade-do-espetaculo/]
[https://utopiasposcapitalistas.com/2020/11/02/astuciando-o-futuro-guy-debord-arlindenor-pedro/]