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O público e o privado-Arlindenor Pedro

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 7 leitura mínima

No Brasil, embora isto não fosse desejado pela classe política, o fato é que os efeitos do distanciamento dos políticos das ideias, que permitissem livrar a humanidade do mundo ilusório da mera representação retórica, foi um desastre.

Ao trilhar este caminho, eles não perceberam que deixaram de considerar uma das mais marcantes características do povo brasileiro — a sua criatividade, sem dúvida oriunda do plano mágico das incessantes utopias vividas no processo de formação da nossa nacionalidade.

O fato é que desta forma, submetendo a política às leis do mercado, próprias do sistema capitalista, transformando-se eles próprios em meras mercadorias, descaracterizaram a arena política como o campo prioritário para o debate das ideias necessárias ao bem-estar de seu povo. E, lamentavelmente, então, perderam gradativamente sua legitimidade, e também a representação direta que, até então, era amplamente aceita, como legítima, perante os indivíduos e toda a população.

Esta representação é estão contestadas, afastando o cidadão da política e das eleições. E como esses cidadãos cada vez menos participam das atividades sociais, tendo uma postura contemplativa perante a realidade, abdicando da vida-vivida, passam a não ver nenhuma utilidade no jogo político e nas eleições. Cumprem apenas o papel de votar, colocando o seu voto na urna-levando-se em consideração que no Brasil o voto ainda é obrigatório. No mais, bastaria apenas acompanhar pelos meios de comunicação o resultado e a opinião dos especialistas que iriam desvendar para eles o que realmente aconteceu e quais os rumos que o país iria tomar. Uma postura claramente alienada.

Vemos, portanto, que na atualidade, acentua-se uma escalada de desinteresse do cidadão em relação ao parlamento e um crescente descrédito em relação à classe política, que vê nos políticos meros aproveitadores do poder público, sem nenhuma utilidade, a não ser de participantes de escândalos explorados pela mídia.

Para o cidadão os representantes políticos ficaram cada vez mais iguais e sem nenhuma criatividade. O fato é que suas imagens públicas são construídas e mesmo destruídas através das figuras-chave das campanhas políticas: os marqueteiros. Neste sentido, o campo político, fragilizado e sem propostas, ficou à mercê de objetivos meramente corporativos, colocando em risco os interesses coletivos e da nacionalidade, já que é nesta área onde são tomadas as decisões que, em última instância, irão afetar a vida da população. O público foi assaltado no país pelos interesses privados, onde chegar ao poder é sinônimo de enriquecimento rápido.

Este modelo de representação parlamentar, por força de tais distorções, seguramente está em cheque. Ele foi criado pela sociedade liberal com a preponderância das ideias iluministas e hoje dão pleno sinais de exaustão.O debate das ideias, instrumento importantíssimo, criado pelas assembleias da Grécia antiga, tornou-se então um elemento desnecessário.

Embora em que nas últimas eleições o então deputado de direita Jair Bolsonaro tenha chegado à Presidência com uma margem expressiva de votos e nesta caminhada tenha mobilizado milhões de seguidores, isto não mudou a principal característica da população — o desinteresse pela política. O fato é que a polarização de suas ideias ficou restrita a contestação do seu opositor pela esquerda-o ex presidente Lula. Não houve uma ideia hegemônica que tomasse o país. Notemos que ele chega à presidência sem debates reais, em cima de jogadas de marketing e apelos emocionais-como o da facada, por exemplo. Nada diferente na sua essência com os presidentes que os precederam.

Embora na aparência pareça haver uma maior participação popular nos debates políticos no país no período de Bolsonaro no poder, isto, na verdade, é uma mera ilusão, pois o conjunto da população ficou afastado, envolta na sua luta pela sobrevivência.

Na atualidade observamos que o que impera de fato é uma desesperança coletiva quanto ao futuro do nosso país! Encontra se o conjunto da população brasileira simplesmente voltada para o seu dia-a-dia, onde o consumo aparece como o fio condutor da vida.

Vivemos em um país sem um projeto de nação, num quadro sombrio e perigoso, podendo ser capturado por qualquer aventura, desde que ela se apresente como convincente. Faltam então ideias que se materializem num projeto de maioria que leve a sociedade brasileira a atravessar as conturbações de um mundo que vai se arrumando e redesenhado o seu mapa político.

O fato é que nós brasileiros estamos despreparados e sem poder de respostas para um mundo que tem que sobreviver com fim eminente das reservas de energia não renováveis: petróleo, carvão, gás.Um modelo construído pela sociedade capitalista nestes últimos trezentos anos.

Temos que considerar que um novo mapa político surgirá em consequência da movimentação de povos pelo planeta, em virtude das exigências geradas pelo aquecimento global. Novas regiões desérticas serão formadas, com escassa possibilidade para a agricultura. Regiões serão alagadas, devido ao avanço do mar. Serão formadas áreas de intensas agitações climáticas, tais como furacões, terremotos, erupções vulcânicas, impedindo a vida em suas cercanias. A vida nas grandes metrópoles ficará impossível, com o fim das reservas de água e super populações.

Esta realidade empurrará ainda mais os povos para migrações e pressão sobre outras regiões do globo. E neste sentido a falta de um projeto de nação torna-se uma desvantagem crucial. A classe política, que tem como único objetivo assaltar o Estado para os seus fins particulares, tornou-se então um estorvo e precisa ser removida.

Neste novo quadro , a falta de um projeto de nação poderá levar este país chamado Brasil para sua extinção .

Serra da Mantiqueira, julho de 2023

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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