Lula, no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas que cabe, por tradição, ao presidente do Brasil, expressou com clareza a face atual da socialdemocracia no Brasil e no mundo.
O berço natal da socialdemocracia foi a Alemanha do final do século XIX. O partido socialdemocrata alemão serviu de modelo para todos os partidos operários da Europa até o início da Primeira Guerra Mundial.
De início com um programa claramente anticapitalista e revolucionário, a socialdemocracia alemã, e por extensão, os demais partidos operários, foi passando por mudanças importantes ao longo do tempo.
Revolucionária no início, a socialdemocracia tornou-se reformista durante a Primeira Guerra, comprometendo-se a partir de então, de modo cada vez mais profundo, com a ordem burguesa-capitalista, diluindo no tempo, de modo crescente, o seu conteúdo reformista.
De início, o PT se constituiu como um partido da socialdemocracia clássica, reformista em seu programa, operário em sua base social, e, a um só tempo, na ordem e contra a ordem.
Com o tempo, o partido foi deixando de ser reformista, sua base social foi se transformando em base eleitoral, e, por decorrência, passou a ser, a seu modo, um partido na ordem e em defesa da ordem burguesa-capitalista.
Que modo seria esse, o modo de o PT ser um partido na ordem e a favor da ordem burguesa-capitalista?
A resposta está no “discurso de estadista” de Lula hoje no ONU. Ali está, repito, expresso com clareza, a face atual, e mais avançada, da socialdemocracia, no Brasil e no mundo.
A função que a atual socialdemocracia tomou para si desde o fim da Segunda Guerra Mundial atualmente tem no PT e em Lula a sua “mais completa tradução”.
A “mais completa tradução” da atual configuração da socialdemocracia pode ser resumida na afirmação de Lula de que a extrema-direita nasceu dos escombros do neoliberalismo.
Isso quer dizer que a extrema-direita e os outros efeitos mais perversos da implantação da agenda neoliberal precisam ser enfrentados, uns, e imediatamente mitigados, outros.
Eis aqui a tarefa da socialdemocracia dos nossos dias: ser a vanguarda na luta contra a extrema-direita e propor medidas de mitigação daqueles efeitos mais deletérios da implantação da agenda neoliberal.
Essas tarefas são, claro, urgentes, mas, me parece, insuficientes para o enfrentamento à altura da crise generalizada que se anuncia bruta e tem tudo para ser uma crise terminal.
Precisamos de uma agenda mais ambiciosa do que aquela apresentada por Lula na ONU.
No Brasil, estou certo, essa agenda não terá chances de aglutinar milhões, como é preciso que se aglutine, se se limitar a uma pregação abstrata de condenação do capitalismo, como insiste em fazer as organizações da esquerda revolucionária que combatem à sombra Lula e o PT…