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Lâmina suspensa no ar-Laura Esteves

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 1 leitura mínima


Naquele fim de tarde eu
tive medo.
Algo sério acontecia ao
meu País,
aos meus ideais.
Peguei uma escova de dentes, algumas peças
de roupa , beijei
minha mãe aflita, deixei bilhete pro pai.
” Volto logo, não vai durar, estarei em
lugar seguro,
não venha me procurar”.
Nunca retornei!
Mas os homens
fardados chegaram
num instante.
Perguntaram, vasculharam, levaram
os meus livros,
derrubaram a estante.
Minha mãe envelheceu
dez anos,
meu pai, também.
E num segundo!
Vivo com a sensação
de que lhes roubei alguma coisa.
Que por minha causa
foram embora mais
cedo desse mundo.
Madrugada fria, reencontrei meus pais,
às escondidas.
Jovem casal e filha
prontos
para o exílio,
para a partida.
No peito, estranho sentimento.
É como se eu devesse
algo àquela casa
de subúrbio, que não assistiu ao meu
casamento e nem ao primeiro banho da
minha menina.
64! Lâmina cruel!
Corte em minha vida.
Desvio em minha sina.

Laura Esteves

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
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