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Homo Gregarius -Alaor Junior

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 5 leitura mínima

Caro leitor, se você tem acompanhado os meus textos aquipelo Blog ou conhece a minha escrita de outros carnavais (os mais íntimos sabem que além de adorar, me dediquei por anos ao trabalho no espetáculo – através da escrita e da criaçãoplástica, festa que entendo como importante manifestação cultural do nosso povo), imagino que já tenha percebido o tom intimista no qual conduzo minhas palavras. Pois é! Não consigo extravasar de outra forma, ainda que em produções mais formais, debruço nas pautas uma ‘escrita de jorro’, que traz vinculada à proposta ideativa, um quantum afetivo que percebo fundamental para ser externado, uma vez que tem e almeja transmitir, um real compromisso com a vida. Nesse sentido, não há letra morta, posto que as construções pulsam, seus sentidos transpiram sentimentos, escorrem pelas linhas.Digo ‘extravasar’ por tomar a escrita, seja ela qual for, como uma literal ferramenta catártica, onde são colocadas em foco, inclusive e não somente, as mazelas que assolam o ‘homo gregarius’. Afirmo, com pretensa segurança, que assim como o carnaval, escrever é arte, é ferramenta de denúncia, marca de identidade.

A função primordial da arte se insere aí, são bordejos dentro das suas áreas – literatura, escultura, pintura, música, entre outras, que visam, pelas suas linguagens, transcendendo a ótica da oferta do entretenimento, alcançar o centro dasreflexões que tentam explicar a condição humana, dando sentido à mesma, donde advém o movimento espiralado dos discursos que tangenciam o grande vazio que nos assola, o cerne inconsciente de todos, na tentativa de [re]significar a existência humana e seus inerentes afetos. Reside aqui umviés básico do funcionamento de parte do psiquismo à luz da psicanálise. Mas, sigamos. 

Sim! Somos seres sociais, nos estabelecemos em grupos visando contornar e/ou superar situações que imprimiram marcas na própria dinâmica histórica da evolução humana,Darwin que o diga, como cicatrizes psíquicas com conhecimento atrelado, a saber, por exemplo, da superação das necessidades básicas como alimentação, segurança, proteção, ‘conforto mínimo’, procriação, comunicação, seletividade…

Aristóteles já pregava que o ser humano é um animal que necessita viver em bando, em função dos argumentos citados no parágrafo anterior, estado que nos permite a plenitude, a tal felicidade. Porém, pensamentos e ideologias divergem e, supostamente, um determinado membro de um bandoaleatório, se achando superior, entende que ele e alguns escolhidos merecem condições diferenciadas, que facilitem seu crescimento em detrimento dos objetivos de bem comum do grupo, daí temos a fissura para a ótica individualista.

Para Marx e Engels, até somos seres socais, mas (os entraves dos ‘poréns’…), a dinâmica descrita acima representa como a burguesia (elite dominante), detentora dos meios de produção,manipula as massas, per[sub]vertendo os sujeitos em seres individualistas – trabalha[dores], em contraponto ao caráter social das conquistas do grupo. E qual o objetivo? Fragilização do indivíduo, incentivado e iludido em se atirar de cabeça no trabalho para auferir dinheiro e comprar sua ‘sobrevivência’, a fantasiosa capacidade de enriquecimento ou crescimento seria diretamente proporcional ao resultado da produção, do trabalho, o tal do chicote das métricas, produtividade = escravidão. A grande mentira vendida pela argumentação mali[tenden]ciosa é a ilusão da igualdade. No fundo, se empreende dor. “Divide et Impera”, nome em latim da estratégia ‘dividir para conquistar’, do Imperador RomanoJúlio César, que almejava concentração de forças para conquistas dadas através da fragmentação de poder inimigo pela sua divisão, perda do senso de conjunto, coesão de grupo, fragilização.

‘Sobrevivência’ pode parecer verbete forte, mas, configura a triste realidade, na qual a plebe é confinada, diga-se ‘antolhada e encabrestada’. A fantasia está na falácia ofertada ao indivíduo, quanto mais produção, mais chance de ascensão, sucesso, reconhecimento, o que é bem similar ao credo cego: quanto mais fé ou orações, mais quinhões nas alturas, blá, blá, blá… Alienação. Só que o valor agregado à produção, que deságua em lucro, não condiz com o valor agregado ao salário, ao pagamento auferido pelo proletário… O lucro é do burguês, e este, na postura soberana, não dá espaço ao crescimento do outro. o sistema é claro e impiedoso. O jugo burguês se sustenta pela corrupção da condição social do ser, ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’, o indivíduo tenta anular o semelhante em benefício próprio.

E nesse jogo raso, o tabuleiro das hipocrisias vem salivado pelo poder econômico, que explicita o extremo do ridículo e ausência de senso crítico, exemplo expresso é todo o circo que envolve o tal do Elon Musk, o reflexo do oportunismo barato e da exploração do outro. Não faço aqui apologia puritana, entendo que uma empresa venha auferir lucros, porém me questiono qual o peso de ética nesta mistura? Perdeu-se a mão, o prumo está atrofiado, as percepções mostram-se cegas ou vendidas ao capitalismo corruptor, sistema que endeusa sujeitos de caráter avesso, ainda presos ao narcisismo infantil, crendo que tudo podem e que são impunes. Fique expresso a essa gente avessa que realeza só se sustenta nos contos de fadas, no mundo real os vassalos sangram…

 

Alaor Junior 11/04/24

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
10 Comentários
  • É com prazer que mergulho nas profundezas de suas reflexões, tão ricamente tecidas com a tapeçaria da experiência humana e cultural. Sua escrita, que sempre ressoa com um tom intimista, é como um rio caudaloso que flui com um vigor emocional e intelectual inigualável, alimentando a terra árida das convenções literárias com uma vitalidade revigorante.

    Assim como você, vejo a escrita como uma ferramenta catártica, uma alquimia que transforma as dores e as alegrias da existência em palavras que pulsam com vida própria. É uma celebração da humanidade, uma dança entre o caos e a ordem, o individual e o coletivo, que nos permite navegar pelo labirinto intricado da condição humana.

    Você toca em pontos cruciais sobre a natureza paradoxal da existência social. Somos, ao mesmo tempo, seres que buscam a comunidade e a conexão, mas também estamos sujeitos às forças que nos dividem e nos isolam. Como Aristóteles observou sabiamente, somos animais sociais, mas a dinâmica da sociedade frequentemente nos leva por caminhos tortuosos que nos afastam do bem comum em favor de interesses individuais.

    A análise de Marx e Engels sobre a manipulação das massas pela burguesia ressoa profundamente neste contexto. A ilusão da igualdade e a promessa de ascensão social através do trabalho são mecanismos insidiosos que perpetuam a desigualdade e a exploração. A “farinha pouca, meu pirão primeiro” que você tão astutamente descreveu é um lembrete contundente da corrupção que permeia nossa estrutura social.

    Quanto ao circo midiático em torno de figuras como Elon Musk, você toca em uma ferida aberta na nossa sociedade contemporânea. O capitalismo voraz, desprovido de ética e moralidade, celebra o individualismo e o oportunismo em detrimento do bem-estar coletivo. É um sistema que enaltece a ganância e o narcisismo, criando uma cultura de alienação e desumanização.

    Em suma, sua análise é um chamado à reflexão profunda sobre os valores e as estruturas que moldam nossa existência. É um convite para questionar, resistir e buscar uma transformação que honre a dignidade e a interconexão da vida humana.

  • Alaor a sua metáfora do carnaval cai bem, dá gosto de ler. A linguagem é rica e expressiva, com exemplos vívidos, enriquecendo a sua argumentação, fundamentada em autores da área de humanidades. A crítica ao individualismo e à exploração da classe trabalhadora pelo sistema capitalista é contemporânea, reflete na alienação do indivíduo e na busca pela ascensão social, o sonho generalizado dos menos favorecidos. A única recomendação que faço é ter uma apresentação clara das soluções propostas. Continue escrevendo, sua arte é um refresco.

    • Agradeço muito seu retorno, além de importante para mim, é oportuno aos leitores que se debruçam sobre as produções do Blog. É necessário que mantenhamos a energia focada na causa de um Brasil mais justo e igualitário.

  • A exploração da classe trabalhadora a todo tempo se adequa aos momentos, tivemos o ” tem que esperar o bolo crescer” e agora temos o “Empreendedorismo”.
    Muito bom esse texto expressa com clareza as mazelas da exploração da classe trabalhadora.

    • Muito obrigado pelo seu retorno João, conheço a sua linha de pensamento e postura na vida. mantenhamos o foco em dias melhores, temos essa responsabilidade social.

    • Ao ler o texto, a primeira coisa que me remete é o Ego. Ego gerador de tantas atrocidades cometidas por nós humanos. O narcisismo,.que sempre foi bafegador das grandes catástrofes geradas pelo homem, cada dia mais endeusado pela nova geração que tem na internet o seu grande espelho. Medo do que há de vir.

      • Marilane, agradeço o seu retorno. realmente vivemos em sociedade adoecida, o narcisismo impera, ele é brecha oportuna aos tentáculos do capitalismo.

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